Inovação
Arroz: inovação da gestão à lavoura
Tecnologia e práticas de gestão têm elevado a produção do arroz brasileiro, que deve superar 10,7 milhões de toneladas nesta safra

Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com
26/02/2024 - 11:56

Quando se fala em lavoura de arroz, a tecnologia é o grande destaque. A produção do cereal exige técnicas, insumos e manejo adequado para garantir o desenvolvimento do principal alimento do mundo. Nesta safra, o Brasil deve superar a produção do ciclo anterior, e alcançar mais de 10,7 milhões de toneladas de arroz, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A área plantada com o cereal cresceu 6,5% e alcança mais de 1,5 milhão de hectares.
Parte importante dessas lavouras tem tecnologia da Embrapa. A cultivar irrigada BRS Pampa CL e a BRS Pampeira estão em 18% da área cultivada no Rio Grande do Sul, principal estado produtor do país.
“Todas as cultivares têm resistência às principais doenças da lavoura, por isso não é necessário a aplicação de fungicidas no Rio Grande do Sul e o número mais reduzido na região tropical. Isso traz viabilidade econômica e ambiental”, diz o pesquisador Ariano Martins de Magalhães Junior, da Embrapa Clima Temperado.
Uma das principais características da Pampa é a economia na irrigação, pois ela demanda 15% menos do que outras variedades, já a Pampeira apresenta maior teto produtivo entre as sementes desenvolvidas pela Embrapa, com potencial de 12 toneladas por hectare.
Tecnologia para produção de arroz no sul avança no país
Santa Catarina e Tocantins, segundo e terceiro maiores estados produtores de arroz no Brasil, adotam as tecnologias desenvolvidas para o clima do Rio Grande do Sul. No caso do Tocantins, 90% das cultivares semeadas são da Embrapa, e a preferida é a Pampeira, que rende entre oito e nove mil quilos por hectare.
“A tecnologia Pampeira se adaptou muito bem ao ambiente do Tocantins. As cultivares de ciclo mais longo no estado gaúcho viram mais precoces na região tropical, onde tem uma pressão muito forte de patógenos, por causa do calor e da umidade!”, explica o pesquisador Ariano Martins Junior.

O produtor rural Reinaldo Klepa, por exemplo, deixou o Paraná para se instalar no Tocantins, em 2002. Começou com área de pastagem, mas em 2007, migrou para o arroz irrigado na região da Lagoa da Confusão. Na safra 2023/2024, ele destinou 480 hectares para a cultura.
“Já usei inúmeras variedades de arroz de diferentes instituições, mas hoje estou com quatro materiais da Embrapa que me renderam 120 sacas por hectare (ou 7.200 quilos) na safra passada”, contou Klepa para o Agro Estadão. Segundo ele, a lavoura está apresentando comportamento parecido com o do ciclo anterior, apesar dos desafios com a instabilidade do clima e a pressão de doenças, como a brusone, doença que ataca as folhas e grãos.

Tecnologia além da lavoura garante a produtividade
Altamente tecnificada, a lavoura de arroz tem custo elevado e, por isso, a tecnologia é usada desde a preparação do solo, melhoramento genético até a racionalização do uso da água. Além disso, o orizicultor também está consciente da importância de estar sempre atualizado em relação ao que há de inovador e moderno para a cultura.
O professor de inovação Luís Humberto Villwock explica que a inovação está além do drone ou do trator extremamente potente. “Inovação é levar as modernas tecnologias adaptadas a um contexto que vale a pena ser adaptado”, reflete.
Isso seria avaliar o custo benefício da implantação de uma tecnologia para cada caso ou, para cada tamanho de produtor. “Muitas empresas têm um nível de escala suficiente para ter um grau de mecanização e automatização, por exemplo, e tem pequenos produtores que precisam de um outro tipo de aporte de desenvolvimento”, explica.
A avaliação da necessidade x capacidade seria a chave do sucesso do uso de qualquer tecnologia/inovação. Para Villwock, aqui entra a conexão do homem do campo com o desenvolvedor da tecnologia. “O gargalo não é mais a tecnologia, é a ligação entre os que desenvolvem e os que precisam dessa tecnologia para resolver as demandas do campo”, finaliza.
Inovação foi destaque na Abertura Oficial da Colheita do Arroz no RS
O assunto foi debatido durante a 34ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, que terminou na sexta-feira, 23, em Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. O evento recebeu mais de 15 mil visitantes em três dias, que conheceram produtos, tecnologias e participaram de painéis e palestras.
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), comemorou o interesse dos agricultores e disse que o produtor não tem como se manter no campo se não buscar se profissionalizar. Alexandre Velho alerta que a decisão de plantio é individual, mas o reflexo é coletivo.
“Por isso, é preciso manter um sistema com outras culturas que vai garantir não só o ajuste na parte da oferta e preços melhores, mas também, uma fertilidade de solo e uma alta produtividade, e com isso levar em frente a cultura do arroz e enfrentar o alto custo de produção”, enfatizou.
A Federarroz acredita que a safra 2023/2024 será suficiente para o abastecimento do mercado interno e a continuidade das exportações.

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