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Pecuária paulista agrega qualidade e tecnologia, mas precisa se comunicar melhor

Avaliação é de Cyro Penna Júnior, vice-presidente da Faesp e coordenador da Comissão Técnica de Pecuária de Corte da instituição

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

21/06/2025 - 08:00

Segundo Penna Júnior, desinformação é uma das principais ameaças à pecuária de corte - Foto: Faesp/Divulgação
Segundo Penna Júnior, desinformação é uma das principais ameaças à pecuária de corte - Foto: Faesp/Divulgação

Vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e coordenador, há oito anos, da Comissão Técnica de Pecuária de Corte da instituição, Cyro Penna Júnior acumula mais de 30 anos no setor agropecuário. Com formação em Administração, Negócios e Marketing e pós-graduação em Agribusiness e Governança Corporativa, também é conselheiro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). 

Os últimos oito anos e meio foram de contato direto com as demandas da bovinocultura, seja as decorrentes de uma atuação junto aos pecuaristas, ouvindo os anseios e dificuldades deles, seja pela participação nos principais fóruns de discussão do setor, acompanhando os debates que envolvem controle sanitário, busca pela qualidade dos produtos e segurança alimentar. 

Recentemente, dois desses trabalhos estiveram em maior evidência: as articulações da federação em prol do Fundo de Defesa Estadual da Sanidade Animal (Fundesa-PEC), cuja regulamentação foi anunciada no início desta semana pelo Governo de São Paulo, durante a Feicorte 2025, em Presidente Prudente (SP), e o envolvimento nas questões referentes à erradicação da febre aftosa – que contribuiu para o reconhecimento do Brasil como área livre da doença sem vacinação. 

Em entrevista ao Agro Estadão, Penna Júnior avalia a importância da pecuária de corte para São Paulo, as conquistas que colocam a atividade no caminho de se tornar cada vez mais sustentável e os desafios que ainda precisam ser enfrentados. 

Além da vice-presidência da Faesp, você coordena a Comissão Técnica da Pecuária de Corte. Qual a importância dessa comissão para a federação e para o estado? 

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São Paulo tem mostrado uma tendência de redução do rebanho bovino e bubalino nos últimos anos, mas ainda aparece como 8º no ranking, com cerca de 11 milhões de cabeças, em face de um rebanho brasileiro de cerca de 230 milhões de cabeças. Entretanto, o segmento pecuário paulista é forte. Figuramos na 4ª posição na produção de carne bovina, com cerca de 800 mil toneladas/ano e, segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, somos o 2º maior exportador, com 22% do total exportado e com certificações de frigoríficos paulistas para mais de 150 países. Diante desse cenário, historicamente, a Faesp sempre fez e ainda está à frente de grandes entregas à pecuária paulista, devido à qualidade do seu trabalho e sua forte capilaridade e presença em todos os municípios paulistas, através dos sindicatos rurais e extensões de base. Buscamos, continuamente, demandas junto às bases e levamos informação e conhecimento ao homem do campo. E, aqui, vale ressaltar uma importante ferramenta de capacitação dos profissionais da produção rural paulista, que são os cursos do Senar/SP [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural]. Acompanhamos os principais assuntos e participamos de todos os fóruns de discussão, com temas relacionados à elevação do status sanitário de febre aftosa, bem-estar animal, exportação de animais vivos, programa de controle e erradicação de brucelose e tuberculose, rastreabilidade e identificação individual, entre outros. A Comissão de Bovinocultura de Corte da Faesp tem assento na Comissão de Bovinocultura de Corte da CNA [Confederação Nacional da Agricultura] e participamos ativamente das discussões do programa de rastreabilidade bovina, ou seja, do PNIB – Programa Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Bubalinos do Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária]. Todas estas frentes de trabalho visam fortalecer a cadeia produtiva da carne bovina de São Paulo, com controles sanitários eficientes, alta qualidade dos produtos e segurança alimentar para os consumidores finais, sejam no mercado interno ou no externo.

A Secretaria de Agricultura de São Paulo anunciou, na terça-feira, 17, a regulamentação do Fundo de Defesa Estadual da Sanidade Animal (Fundesa-PEC), durante a Feicorte 2025. A Faesp teve uma participação relevante nas discussões do fundo. Quais os principais benefícios que isso vai trazer à pecuária paulista?

A regulamentação do Fundesa-PEC tem sido motivo de muita preocupação do nosso presidente, Tirso Meirelles, em função da grande importância de um fundo sanitário ativo e com recursos, com capacidade de fazer frente a eventuais focos e prestar apoio aos serviços de vigilância sanitária que irão substituir a vacinação obrigatória de febre aftosa. São fundamentais a educação sanitária dos profissionais da pecuária, pecuaristas e colaboradores do campo para bem executarem a chamada vigilância passiva, ou seja, estarem aptos a notificar o serviço de defesa sanitária diante de eventuais suspeitas.  Igualmente fundamental é o fortalecimento do Serviço Veterinário Oficial da Defesa Pecuária Paulista, que deve apresentar alta capacidade operacional e responsiva para fazer frente a eventuais sinistros, com deflagração célere do Plano de Contingência, o que é fundamental para a extinção de focos e restabelecimento do status de livre de aftosa sem vacinação, com impactos econômicos mínimos para a pecuária paulista e nacional. 

Por falar em febre aftosa, o Brasil obteve o reconhecimento internacional como área livre sem vacinação. Como foram os trabalhos da Faesp neste sentido e como São Paulo contribuiu diretamente para este reconhecimento? 

O assunto febre aftosa sempre foi carro-chefe nas pautas de discussão da Comissão de Bovinocultura de Corte da Faesp. Temos profissionais altamente qualificados e capacitados, e participamos de todos os fóruns de discussão, como a Cosalfa – Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa, com trabalhos efetivos na OMSA – Organização Mundial de Saúde Animal e no PANAFTOSA, como forte braço auxiliar no desenvolvimento e consolidação do PNEFA – Plano Nacional de Erradicação de Febre Aftosa, agora Plano Nacional de Vigilância da Febre Aftosa. A Faesp integrou a presidência do Grupo IV da Equipe Gestora Nacional do PNEFA, instituída pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), e fez importante trabalho na EGE – Equipe Gestora Estadual Paulista, no desenvolvimento do Fundepec/SP, fundo sanitário privado paulista que, em determinado momento, foi fundamental para que o Estado de São Paulo evoluísse em conjunto com os demais estados componentes do Grupo IV do PNEFA. O Fundepec/SP é precursor do atual Fundesa-PEC, neste momento regulamentado na Feicorte.

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Recentemente, você foi convidado para integrar a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável. O que isso representa e como será a sua participação? 

A Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável é uma associação com mais de 17 anos de história que tem executado um brilhante trabalho na promoção da sustentabilidade da atividade da pecuária bovina brasileira e figura como grande referência para países produtores, como Argentina, Uruguai, México e Austrália. Executamos um trabalho para que a Faesp se tornasse membro no rol de entidades e organizações associadas e, recentemente, fomos eleitos para a sua diretoria em representação aos produtores rurais. A participação da Faesp é fundamental para que estejamos à frente das discussões da produção sustentável, sobretudo num mundo cada vez mais exigente por informações de origem e qualidade dos produtos.  

Quais têm sido as principais conquistas da pecuária paulista nos últimos anos para se tornar, cada vez mais, uma atividade sustentável? 

A pecuária nacional tem observado um forte upgrade no pacote tecnológico aplicado no setor. Antes, a pecuária cedia áreas para outros setores mais rentáveis, como a agricultura e a silvicultura, devido à grande diferença dos níveis tecnológicos então utilizados. Desenvolvemos uma genética altamente produtiva em ambiente tropical, sistemas de manejo e produção eficientes, sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, tecnologia nutricional responsiva, sistemas de bem-estar na produção animal e aumento na produtividade das forragens, o que possibilita uma baixa pegada de carbono, ou seja, a quantidade de GEE – Gases de Efeito Estufa que a atividade remove da atmosfera é superior às suas emissões, com impacto ambiental favorável em relação às mudanças climáticas. Importante ressaltar que toda a tecnologia brasileira de produção agropecuária, com aumento de produtividade e de qualidade dos produtos finais, prescinde totalmente de abertura de novas áreas, ou seja, produzimos muito mais e melhor sem necessidade de derrubarmos uma única árvore. 

E os principais desafios que o segmento ainda enfrenta?

Um dos maiores desafios que o segmento enfrenta é a melhoria da comunicação externa corporis, ou seja, somos altamente eficientes em produzir da porteira para dentro, mas deixamos a desejar na comunicação com os demais segmentos da sociedade, brasileira e internacional. A animosidade de certos segmentos da sociedade e a desinformação figuram como uma das principais ameaças para o setor. Competidores internacionais que não conseguem fazer frente à produção rural brasileira fazem uso do chamado protecionismo verde, regulamentações ambientais rigorosas sobre produtos agrícolas importados com escopo em proteger os seus próprios produtores e, artificialmente, nivelar a competitividade nos mercados internacionais. 

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