Economia
Pilão entra no mega-acordo do café que pode driblar tarifa dos EUA
Analistas não descartam possível triangulação do café brasileiro para escapar do tarifaço após conclusão da venda da JDE Peet's para a KDP

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
27/08/2025 - 07:00

“O pessoal está apavorado”, resume Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria sobre a reação de players do mercado de café após a norte-americana Keurig Dr Pepper (KDP) ter fechado acordo para comprar a holandesa JDE Peet’s, controladora das marcas Pilão e L’OR. O valor da operação é de US$ 18 bilhões — a maior aquisição já registrada no setor de café mundial.
Segundo Haroldo, a incerteza parte da concentração de mercado da companhia após a transação. “A KDP vai ser a primeira ou a segunda marca em 40 países. Será a maior indústria de café do mundo. Quer dizer, terá uma força muito grande”, afirma. Na visão dele, apesar da operação ser tratada como oligopólio, configura-se um monopólio.
Atualmente, a JDE Peet’s é uma das maiores empresas de café globais, fornecendo cerca de 4,4 mil xícaras de café por segundo em mais de 100 mercados. No ano passado, a companhia registrou € 8,8 bilhões em vendas e conta com mais de 24 mil funcionários ao redor do mundo.
As consequências, no entanto, podem ir além do tamanho da nova empresa, redesenhando a tendência de mercado do café. Bonfá faz uma comparação com o mercado de cervejas: quando algumas empresas ficaram gigantes, surgiu espaço para pequenas marcas que buscavam oferecer produtos diferenciados, muitas vezes, artesanais.
“Hoje, já temos pequenas torrefadoras que pegam o grão, torram, moem e já vendem, algo que chamamos de ‘bean to package’ [da colheita do grão até o produto embalado]. É um nicho micro, mas com potencial de inovação e diferenciação dentro de um mercado dominado por gigantes”, aponta.
Triangulação e tarifa dos EUA
O movimento da KDP acontece em um momento de grave volatilidade nos preços do café, impulsionada pelos baixos estoques globais, pelas mudanças climáticas e pela tarifa comercial imposta pelos Estados Unidos. Atualmente, o café brasileiro está taxado em 50% para entrar no principal mercado consumidor da bebida.
Para Gil Barabach, analista da Safras&Mercado, a aquisição não apenas aumenta significativamente a escala da KDP, como também oferece uma forma de contornar obstáculos como o tarifaço. “Eventualmente, pode ocorrer triangulação com produto industrializado, utilizando matéria-prima brasileira”, explicou, destacando o potencial estratégico da operação.
Apesar de não acreditar que o tarifaço tenha sido o principal motivo da KDP para fechar o acordo, Bonfá, também não descarta esse tipo de movimento caso as tarifas de 50% sobre o café brasileiro ainda estejam em vigor quando a operação for concluída, no próximo ano. “Não precisa ser nem tão complicado. Levando para a Europa. Pode ser via Canadá ou via México”, declara.
Tamanho da nova companhia
Após a conclusão do negócio, previsto para ocorrer no primeiro semestre de 2026, a KDP será dividida em duas companhias independentes: uma voltada para bebidas geladas, como Dr Pepper, Snapple e energéticos, e outra dedicada ao café, batizada de Global Coffee Co. A companhia dedicada à segunda bebida mais popular do mundo vai gerenciar as marcas JDE Peet’s e toda a linha de cápsulas e cafés embalados, além da rede de 280 lojas Peet’s Coffee nos EUA e outras 200 internacionais.
A nova estrutura da Global Coffee Co. deve reunir ainda 125 linhas de cápsulas e cafés embalados, controlar mais de 40 fábricas e movimentar US$ 16 bilhões em vendas líquidas anuais, consolidando-se como a maior plataforma global de café industrializado.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Tarifa: enquanto Brasil espera, café do Vietnã e Indonésia pode ser isento
2
COP 30, em Belém, proíbe açaí e prevê pouca carne vermelha
3
A céu aberto: produtores de MT não têm onde guardar o milho
4
Exportações de café caem em julho, mas receita é recorde apesar de tarifaço dos EUA
5
Rios brasileiros podem ser ‘Mississipis’ do agro, dizem especialistas
6
Violência no campo: roubos e furtos de máquinas agrícolas crescem 37,5% no 1º semestre

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
México ocupa lugar dos EUA e se torna 2º maior mercado da carne bovina brasileira
Comitiva do ministro Geraldo Alckmin chegou ao México nesta terça-feira, 26, para negociar expansão de acordos comerciais entre os dois países

Economia
Israel rebaixa relações com o Brasil: ameaça ao agro?
Enquanto carne bovina e fertilizantes concentram o comércio bilateral, analistas apontam para repercussões indiretas com EUA e União Europeia

Economia
Governo publica zoneamento agrícola para milho 2º safra
Milho é a segunda principal cultura anual do país e produtores devem colher safra recorde

Economia
Safra 24/25: milho de inverno se aproxima do fim da colheita
Trabalhos avançam acima da média histórica, enquanto algodão e trigo seguem atrasados
Economia
China define novas cotas para importação de algodão em 2025
Após recuo nas compras externas, governo chinês estabelece cota de 200 mil toneladas métricas para atender indústria têxtil
Economia
Safra brasileira de cana deve cair 1,2%, estima Conab
Produção de açúcar deve crescer, enquanto etanol de cana pode ter um recuo de 8,8%
Economia
Brasil poderá exportar aves ornamentais e de conservação para Emirados Árabes
Aves vivas para consumo humano não estão incluídas no acordo
Economia
Produção de algodão deve recuar na safra 2025/26, projeta consultoria
Agricultores de Mato Grosso, maior estado produtor de algodão no país, devem reduzir área de algodão na próxima temporada