Mercado Halal: carnes lideram, mas agro mira novos produtos
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Mercado Halal: carnes abrem caminho, mas agro pode exportar outros produtos

Brasil busca diversificar sua oferta de alimentos para o mercado halal global, que movimenta em torno de US$ 1,5 trilhão por ano

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Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

22/04/2025 - 08:00

Halal indica produtos cujo consumo é permitido por Deus, segundo o Alcorão, livro sagrado do islamismo. Foto: FAMBRAS/Divulgação
Halal indica produtos cujo consumo é permitido por Deus, segundo o Alcorão, livro sagrado do islamismo. Foto: FAMBRAS/Divulgação

As exportações brasileiras de proteína halal cresceram 25% no ano passado, impulsionadas pela forte demanda por frango e carne bovina — as principais apostas do agronegócio nacional para atender ao mercado muçulmano global. O setor movimenta cerca de US$ 5 trilhões anuais, dos quais US$ 1,5 trilhão apenas em alimentos, segundo dados da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.

Em árabe, a palavra halal significa “permitido”. Na alimentação, designa produtos cujo consumo é permitido por Deus, segundo o Alcorão, livro sagrado do islamismo. 

No agronegócio, o mercado halal envolve rigoroso controle de produção para atender às exigências religiosas, desde a alimentação e o manejo dos animais até os processos de abate, armazenamento e transporte. “O processo halal começa na criação do animal, com foco no bem-estar, e passa pelo transporte, abate e armazenamento, sempre sob certificação”, afirma Mohamad Mourad, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Segundo ele, apesar do protagonismo do Brasil para atender o mercado halal com carnes de frango e bovina, há espaço para o país ampliar a oferta de outras commodities agrícolas, como açúcar, soja e milho. 

No entanto, entre os desafios para essa diversificação está a logística, especialmente para frutas frescas, que exigem transporte aéreo para manter a qualidade. Ainda assim, a expansão é considerada estratégica uma vez que, além dos 22 membros da Liga Árabe — países, em grande parte, com idioma árabe —, o interesse por produtos halal cresce também em mercados como Indonésia, Malásia, Nigéria, China, Japão e Canadá.

“O halal se tornou um sinônimo de qualidade, mesmo em países sem origem muçulmana”, afirma Ali Zoghbi, vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (FAMBRAS Halal), uma das principais certificadoras de produtos Halal no país. “Hoje, a China é o principal destino dos produtos brasileiros certificados por nós”, destaca. 

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Atualmente, a FAMBRAS contabiliza 123 plantas de bovinos, 23 de aves e 476 empresas de alimentos industrializados certificadas para produção halal. Além das carnes, o portfólio inclui açúcar, óleos, água e gelatinas — produtos que precisam comprovar a rastreabilidade de toda a cadeia produtiva, inclusive a origem de insumos.

Rastreabilidade

Para garantir a transparência e a confiança no mercado halal, toda produção é monitorada através de um sistema de rastreabilidade. Conforme explicou Zoghbi ao Agro Estadão, desde a criação dos animais até o processamento e o embarque dos produtos, todas as informações são registradas no Sys Halal e podem ser acessadas pelo consumidor final, em qualquer país, por meio de um QR Code na embalagem. 

O sistema mapeia não apenas o processo produtivo, mas também a mão de obra envolvida e a origem de todos os insumos utilizados, assegurando que o alimento atende aos padrões halal. “Hoje temos mecanismos que conseguem rastrear toda a trajetória do produto”, afirma o vice-presidente da FAMBRAS Halal. Paralelamente, a entidade investe ainda na formação de novos profissionais. No ano passado, 34 mil pessoas foram capacitadas para fiscalizar os processos de produção dos alimentos destinados ao mercado halal.

Como é feito o abate halal?

O abate de frango e boi para atender o mercado halal segue regras rigorosas estabelecidas pelas leis alimentares islâmicas. O processo envolve, especialmente, os seguintes passos:

  • Oração: o abatedor (profissional responsável pelo abate) faz uma intenção e recita uma oração chamada “Bismillah” (Em nome de Deus) e “Allahu Akbar” (Deus é grande) para agradecer a Deus pelo alimento;
  • Momento do abate: o animal é abatido com um corte rápido, com o intuito de minimizar o sofrimento do animal e garantir uma morte rápida. O corte deve seccionar a traquéia, o esôfago e as artérias jugulares. Além disso, o animal deve estar em uma voltado para Meca, cidade da Arábia Saudita, considerada como local mais sagrada para o mulçumanos;
  • Drenagem do sangue: após o corte, o sangue deve ser drenado completamente.

É primordial que, durante todo o processo, o animal seja tratado com respeito e cuidado. Isso significa que ele não deve ser submetido a maus-tratos ou condições desumanas. A carne deve ser manuseada de acordo com padrões rigorosos de higiene para garantir que permaneça pura e segura para o consumo.

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Trabalho de diversificação

A diversificação das exportações é impulsionada também pelo projeto Halal do Brasil, uma parceria da Câmara Árabe com a ApexBrasil, que busca capacitar pequenas e médias empresas. Em 2025, estão previstas missões comerciais para Arábia Saudita, Egito e Malásia. “A ideia do projeto é justamente capacitar, não a empresa que já exporta, mas as médias e pequenas empresas que estão em busca de diversificar a sua carteira de clientes, os seus mercados”, afirma Mourad.

O mercado halal está cada vez mais no radar do agronegócio brasileiro — não apenas como destino de exportações, mas também como oportunidade para a produção local. Um exemplo é o investimento de cerca de US$ 160 milhões anunciado na segunda-feira, 21, pela BRF, uma das maiores empresas de alimentos do mundo e referência na exportação de produtos halal. A companhia vai construir uma nova fábrica de alimentos processados em Jeddah, a segunda maior cidade da Arábia Saudita.

A iniciativa visa atender a um mercado em crescimento. Até 2030, o número de muçulmanos no mundo poderá chegar a 2,2 bilhões. Se a previsão se confirmar, o islamismo será praticado por 25,8% da população mundial.

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