Economia
Em crise histórica, Cotribá busca proteção judicial para evitar colapso financeiro
Com dívidas que ultrapassam R$ 1 bilhão, cooperativa centenária tenta ganhar tempo para reorganizar operações e negociar com credores
Redação Agro Estadão
27/11/2025 - 16:49

A Cotribá, cooperativa agropecuária mais antiga em atividade no Brasil, deu um passo decisivo para tentar conter o avanço de sua crise financeira. Em 25 de novembro, a entidade ingressou na Vara Regional Empresarial de Santa Rosa (RS) com um pedido de tutela cautelar de urgência, medida judicial utilizada para proteger empresas em situação crítica antes da formalização de um pedido de recuperação judicial (RJ). Na prática, essa etapa prévia permite suspender cobranças, bloqueios e protestos enquanto a empresa reúne documentos, organiza negociações e busca evitar o colapso de suas operações.
O pedido ocorre em meio a um cenário de forte pressão sobre o caixa: a cooperativa acumula passivos que já ultrapassam R$ 1 bilhão, sendo aproximadamente R$ 400 milhões com vencimento até o fim de novembro. No documento encaminhado ao Judiciário, a Cotribá afirma enfrentar risco iminente de bloqueio de contas e assédio simultâneo de dezenas de credores — condições que, segundo a defesa, inviabilizam a manutenção de serviços essenciais.
Fundada em 1911, a Cotribá se consolidou como uma das referências do agronegócio gaúcho. Além do recebimento e armazenamento de grãos, expandiu-se para sementes, nutrição animal, supermercados, lojas agropecuárias e postos de combustíveis. Parte dessa expansão — incluindo a inauguração de uma moderna fábrica de rações em 2024 — foi financiada por meio de um endividamento que se tornou difícil de sustentar diante das adversidades recentes.
A cooperativa afirma que a crise é resultado da combinação de quebras de safra, estiagens sucessivas, a enchente histórica de 2024, retração nos preços agrícolas e aumento expressivo do custo do crédito. A alta da taxa Selic nos últimos anos encareceu financiamentos, ao mesmo tempo em que o volume de grãos recebidos caiu, afetando diretamente a receita. O atraso no pagamento a produtores cooperados desencadeou um efeito em cadeia, dificultando a manutenção das atividades no campo e pressionando ainda mais o caixa da entidade.
Relatórios anexados ao processo apontam que 31 instituições financeiras cobram simultaneamente a cooperativa, algumas com ordens de bloqueio automático de recebíveis. Em Ibirubá, município onde fica a sede administrativa, o supermercado da cooperativa chegou a registrar prateleiras vazias, reflexo da incapacidade de repor estoques diante da falta de liquidez. A fábrica de rações também opera bem abaixo da capacidade por falta de insumos como milho e soja.
A defesa argumenta que a tutela cautelar é indispensável para evitar a degradação total das operações. Caso a liminar seja concedida, a Cotribá ganhará tempo para organizar a documentação necessária, estruturar a venda de ativos e negociar com credores em condições menos desiguais. Se o pedido for negado, a cooperativa afirma que pode enfrentar uma escalada de bloqueios e medidas de expropriação, aprofundando o risco de insolvência.
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