PUBLICIDADE

Economia

Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor

Com avanço das usinas de milho e previsão de 49 bilhões de litros até 2035, indústria busca estratégias para evitar excesso de oferta

Nome Colunistas

Redação Agro Estadão*

03/11/2025 - 15:48

Desigualdade tributária é um dos entraves para o aumento do consumo de etanol. Foto: Adobe Stock
Desigualdade tributária é um dos entraves para o aumento do consumo de etanol. Foto: Adobe Stock

O Brasil vive um ciclo de expansão da produção de etanol, impulsionado, principalmente, pela crescente produção de milho. Conforme noticiado pelo Agro Estadão, estima-se que, até 2035 a produção do combustível feita a partir do grão aproxime-se da produção atual de etanol de cana

Como potencial receptor dessa produção, está o mercado doméstico, no qual, atualmente, o consumo patina. Dados apresentados nesta segunda-feira, 3, pelo CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, durante live, mostram que, embora 80% da frota de veículos nacional seja flex, apenas cerca de 22% do ciclo Otto é abastecido com etanol hidratado — combustível com aproximadamente 95% de etanol e 5% de água. 

CONTEÚDO PATROCINADO

Segundo Ono, apesar de o mercado interno ser a principal oportunidade para o etanol, Estados fora do eixo Centro-Sul, no entanto, ainda apresentam baixo consumo, criando um desequilíbrio entre oferta e demanda. “O mercado interno é a principal oportunidade para o etanol […]. Temos estados com boa densidade de automóveis e participação de apenas 1% ou 2% de etanol. Isso mostra que há um mercado reprimido”, explica.

Conforme o levantamento da SCA Brasil, enquanto São Paulo, Minas Gerais e Goiás lideram o consumo, outros 21 Estados — que reúnem 41% da frota nacional — respondem por apenas 19% do volume de etanol hidratado vendido. Essa diferença tem relação direta com infraestrutura. 

Em algumas regiões, postos de combustível sequer possuem tanques ou bombas para o produto. Guilherme Nolasco, presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), que também participou da live, relata a dimensão do problema: “Viajei recentemente de Imperatriz a Balsas, no Maranhão, e em 400 quilômetros não encontrei um único posto com bico de etanol hidratado. Tive que abastecer com gasolina”, contou. 

PUBLICIDADE

De acordo com ele, essa ausência física do etanol nas bombas impede a consolidação de novos mercados consumidores nacionalmente. “Precisamos incorporar a cultura do etanol em novas regiões, integrando toda a cadeia — produção, distribuição e varejo — para chegar onde o produto simplesmente não existe”, defende Nolasco.

Tributação

Um dos entraves da expansão do consumo é a desigualdade tributária. Hoje, a tributação sobre o etanol hidratado varia de 11% a 22% entre os Estados, o que reduz a competitividade frente à gasolina.

Há expectativa de que, com o avanço da regulamentação da reforma tributária, em discussão no Congresso, e possível implementação em 2027, ocorra um divisor de águas no setor. Na visão do especialista, com a padronização das alíquotas e redução das distorções regionais, há uma ampliação da competitividade do biocombustível. “Na medida em que tivermos uma tributação nacional unificada, o etanol se tornará mais competitivo e atrativo ao consumidor”, acredita o executivo da SCA Brasil.

Além disso, outra proposta debatida pelo setor é a criação de políticas de preço regionais. Em vez de reduzir drasticamente o valor em São Paulo — onde o mercado já é consolidado —, a ideia seria oferecer preços mais competitivos em Estados com menor consumo e maior potencial de crescimento. “Se a Bahia, o Rio de Janeiro ou o Rio Grande do Sul tivessem uma paridade de 65%, poderíamos dobrar o consumo de etanol nesses mercados”, explica Ono.

Etanol de milho

Para Nolasco, o etanol de milho tem papel decisivo nessa reconfiguração, uma vez que, a produção, que antes se restringia à BR-163, em Mato Grosso, agora se espalha pelo País. Essa expansão, segundo ele, leva tecnologia, emprego e desenvolvimento regional. 

PUBLICIDADE

O presidente da UNEM lembra ainda que o Brasil já exporta 20% da produção de DDG — coproduto do milho usado na alimentação animal —, e que o etanol brasileiro tem pegada de carbono menor que o americano, tornando-o mais competitivo no mercado internacional de SAF (combustível sustentável de aviação). Porém, ele alerta: “Se não ampliarmos o consumo, corremos o risco de sermos grandes demais para o presente e pequenos demais para o futuro.”

Até 2035, o setor projeta que a oferta nacional de etanol atinja entre 48 a 49 bilhões de litros — salto de mais de 10 bilhões sobre o volume atual. 

8 bilhões de litros

Ainda durante a live, Ono apresentou um plano que propõe direcionar até 8 bilhões de litros de etanol a Estados onde o combustível ainda é pouco competitivo, sem reduzir a rentabilidade das principais regiões produtoras. A estratégia, segundo ele, poderia preservar até R$ 15 bilhões em receita anual ao evitar uma queda generalizada de preços no mercado nacional.

Ele explicou que o plano busca abrir espaço para o novo ciclo de crescimento impulsionado pelas usinas de etanol de milho. “Se trabalharmos 8 bilhões de litros com uma política de preço direcionada para ganhar mercado, preservamos 30 bilhões de litros com melhor remuneração – o que deixaria R$ 15 bilhões de receita incremental para o setor”, afirmou.

A conta, segundo Ono, parte da premissa de que, sem uma estratégia regionalizada, o setor precisaria reduzir o preço médio em cerca de R$ 0,50 por litro sobre todo o volume nacional de 30 bilhões de litros para escoar a produção crescente. Ao concentrar a política de preços apenas nos Estados menos competitivos, o setor ampliaria o consumo em novos mercados e, ao mesmo tempo, evitaria erosão de margens nas regiões consolidadas.

*Com informações do Broadcast Agro

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

JBS exporta 550 t mensais de resíduo de couro para virar fertilizante na Itália

Economia

JBS exporta 550 t mensais de resíduo de couro para virar fertilizante na Itália

Ação faz parte de estratégia de aproveitamento total da matéria-prima, que inclui a tecnologia Kind Leather

Cade aprova compra da Levitare e da Búfalo Brasil pela Tirolez

Economia

Cade aprova compra da Levitare e da Búfalo Brasil pela Tirolez

Fábricas em quatro estados e nova linha com produtos de leite de búfala impulsionam meta de R$ 2,5 bilhões até 2027

Nova rota aérea amplia escoamento de frutas do Brasil para a Europa

Economia

Nova rota aérea amplia escoamento de frutas do Brasil para a Europa

Operação terá três frequências semanais, conectando aeroportos internacionais brasileiros ao mercado europeu

Agro gaúcho discute criação de fundo para garantir crédito e seguro rural

Economia

Agro gaúcho discute criação de fundo para garantir crédito e seguro rural

Inspirado no Fundesa, modelo prevê gestão privada com produtores, indústria e governo, financiado por recursos do setor rural e indústria

PUBLICIDADE

Economia

Governo lança edital para retomar obras da ferrovia Transnordestina

Ferrovia vai facilitar o escoamento de grãos do interior do Nordeste; obras devem durar cinco anos e custar R$ 415 milhões

Economia

Lácteos: indústria do PR atravessa momento mais crítico da década, diz sindicato

Setor tem sido pressionado pelo aumento das importações, crescimento da produção e retração no consumo interno

Economia

Tilápia do Vietnã pressiona mercado interno e amplia impacto do tarifaço

Setor registra queda de 28% nas exportações no terceiro trimestre de 2025 e teme novos recuos até o fim do ano

Economia

Plano Safra atrasado: Kepler Weber usa recursos próprios para financiar vendas

Companhia aumenta em R$ 30 milhões o financiamento direto a clientes e busca reduzir dependência do Plano Safra

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.