Economia
Exportações do agro do Paraná enfrentam riscos com tarifaço
Boletim aponta impacto nas cadeias de café, carne e frutas; café solúvel lidera exportações, mas sofre ameaça com tarifa anunciada pelos EUA

Paloma Santos | Brasília
25/07/2025 - 11:48

Divulgado nesta quinta-feira, 24, o boletim semanal do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) aponta um cenário de insegurança no setor agropecuário do estado, impulsionado por variações de mercado e incertezas no comércio internacional. O documento chama atenção para os impactos das recentes políticas comerciais adotadas pelos Estados Unidos, que têm afetado cadeias produtivas estratégicas como café, carnes e frutas.
No setor do café, embora o preço ao consumidor siga estável, ele se mantém em patamar elevado. “O café solúvel, com forte presença industrial no estado, se sobressai como alternativa competitiva, mas também enfrenta riscos com a tarifa adicional anunciada pelos EUA”, informa o boletim. O produto tem custos menores e forte presença no Paraná, onde está um dos maiores parques industriais no segmento. O Estado lidera a exportação do produto.
“Por isso, a tarifa adicional de 50% anunciada pelo governo Trump representa uma ameaça relevante ao segmento, com potencial de impactar as fábricas locais e, consequentemente, seus fornecedores, que não se restringem ao Paraná”, comentou o agrônomo Carlos Hugo Godinho, em comunicado da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
No primeiro semestre de 2025 foram embarcadas 15.240 toneladas do café solúvel paranaense, gerando US$ 199,6 milhões em receitas. O volume representa 35% das 43.478 toneladas exportadas pelo Brasil. Os Estados Unidos são o principal mercado desse produto, absorvendo 15% das exportações paranaenses.
A estimativa do Deral é que a atual safra de café paranaense resulte em 718 mil sacas (43,1 mil toneladas) produzidas em 25,4 mil hectares, o que representa 1% da safra nacional. O Paraná colheu, até agora, 68% da área plantada. É o que apontam os pesquisadores do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral-PR).
“Esse avanço na colheita resultou em uma forte redução nos preços pagos aos cafeicultores paranaenses neste mês”, afirmou Godinho. As estimativas apontam média próxima de R$ 1,5 mil por saca, cerca de 40% inferior ao valor de junho, com cotações que superavam R$ 2 mil.
O boletim destaca ainda que, diante das incertezas no cenário internacional, torna-se urgente para os produtores investir em eficiência, gestão e diversificação de mercados, como forma de mitigar os riscos associados a decisões unilaterais de grandes parceiros comerciais.
Laranja
A fruticultura paranaense, especialmente a de laranja, segue com bom desempenho nas exportações, mas também exposta aos impactos das taxações no mercado norte-americano. O Paraná é o terceiro produtor, com 804,3 mil toneladas.
No ano passado os exportadores paranaenses enviaram 29,2 mil toneladas de suco para o exterior, gerando US$ 141 milhões em receitas. A Bélgica e os Países Baixos são os principais parceiros, recebendo 74% do volume. Os Estados Unidos compraram 2,2 mil toneladas, ao custo de US$ 9,4 milhões, o que representa 6,6% do montante financeiro do suco de laranja paranaense exportado.
Proteínas
Na pecuária, segundo os especialistas do Deral, o momento é de atenção redobrada. Apesar da demanda aquecida no mercado interno, os custos de produção continuam altos, especialmente para a cadeia de suínos. O mercado do boi gordo mantém estabilidade, mas os pecuaristas estão cautelosos diante da possibilidade de retração nas exportações. O setor de aves também apresenta preocupação com a oscilação cambial e os impactos logísticos em portos e rotas comerciais.
Já para a piscicultura paranaense, o Deral analisa que o aumento na tarifa de importação dos EUA não deve causar impactos mais significativos. No ano passado, foram exportadas 7,6 mil toneladas, sendo quase a totalidade para o mercado norte-americano, rendendo US$ 34,3 milhões (cerca de R$ 200 milhões).
“Caso o aumento tarifário se concretize, é possível que as duas principais cooperativas paranaenses envolvidas na exportação optem por reduzir os preços praticados porque neste momento o foco principal da operação é a abertura e consolidação de um novo segmento de mercado, e não necessariamente a obtenção de lucro”, disse Edmar Gervásio, analista de piscicultura no Deral.
Juntas, essas cooperativas somam um faturamento anual superior a R$ 32 bilhões, e o impacto financeiro da medida representaria menos de 1% desse total. “Num cenário mais extremo, em que as exportações se tornem inviáveis e sejam totalmente interrompidas, o mercado doméstico tem plena capacidade de absorver esse volume sem gerar oscilações de preços ou desequilíbrios na oferta”, completou Gervásio.

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