Economia
De ovos à vaca mais cara do mundo: relembre os recordes do agro em 2025
O ano marcou ainda mais uma safra recorde de grãos, exportações em novos patamares, além de alta histórica nos pedidos de RJs no campo
Redação Agro Estadão
31/12/2025 - 05:00

O agronegócio brasileiro chega ao fim de 2025 com uma palavra que se repetiu ao longo de praticamente todo o ano: recorde. Em diferentes cadeias, do ovo à soja, da carne ao feijão, o setor acumulou marcas históricas de produção, exportação, consumo e faturamento — ainda que nem todos os números tenham sido positivos.
Logo na largada do ano, foi a avicultura de postura que chamou atenção. O preço dos ovos abriu 2025 em patamares inéditos. As médias mensais calculadas pelo Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea) alcançaram, consecutivamente, os maiores valores da série histórica em termos nominais.
Em fevereiro, por exemplo, na grande Belo Horizonte, a caixa com 30 dúzias chegou a R$ 219,46 — reflexo de custos elevados e de um clima que acendeu alerta para o bem-estar das aves e a qualidade da produção.
Apesar dos desafios, o setor transformou pressão em oportunidade. Com a falta de oferta mundial, as exportações de ovos dispararam. Entre janeiro e novembro, o Brasil embarcou 38,6 mil toneladas, um salto de 135,4% em volume e de 163,5% em receita, com faturamento de US$ 92,1 milhões, segundo levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Diante do desempenho, pela primeira vez, o Brasil deve encerrar o ano exportando mais de 1% da produção nacional, estimada em 62,25 bilhões de unidades. O consumo interno também bateu marca histórica. Em 2025, o brasileiro deve consumir 288 ovos por habitante. Esse aumento deve colocar o País, de forma inédita, entre os dez maiores consumidores de ovos per capita do mundo.
Novos patamares históricos para os grãos
No campo, o ano foi igualmente marcado por números robustos. A safra 2024/25 entrou para a história com 350,2 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume representa uma crescimento de 16,3% sobre o ciclo anterior, superando ainda o recorde de 2022/23.
Entre as culturas, soja, milho e algodão lideraram o avanço, apoiados por aumento de área e forte ganho de produtividade. E, mesmo com previsão de leve retração de área, o ciclo 2025/26 já nasce com expectativa de novos recordes.
Surpresas
Fora do eixo tradicional, algumas culturas surpreenderam neste ano. As exportações de feijão, por exemplo, atingiram um recorde histórico em setembro, com 85,4 mil toneladas embarcadas no mês. No acumulado de 12 meses, o volume chegou a 488,4 mil toneladas — o maior da série —, com Mato Grosso na liderança entre os Estados exportadores.
Além disso, em Goiás, a estrela da vez foi a melancia, que consolidou seu protagonismo. O Estado colheu 270,5 mil toneladas, liderando a produção nacional, e alcançou valor de produção recorde de R$ 273,3 milhões. O resultado foi impulsionado por investimentos em genética e pela demanda por frutas sem sementes, inclusive no mercado externo.
Demanda externa aquecida
A pauta exportadora, aliás, foi um dos grandes motores do agro em 2025. No Espírito Santo, as exportações agropecuárias bateram recorde no primeiro bimestre, somando US$ 527,4 milhões, puxadas por pescados, café, gengibre, álcool etílico, frango e mamão.
No plano nacional, a soja voltou a puxar o desempenho externo. Só em novembro, as exportações da agropecuária cresceram 25,8% em valor, chegando a US$ 5,6 bilhões, com alta semelhante em volume. A oleaginosa respondeu por boa parte do avanço, com crescimento de mais de 64% na quantidade embarcada no mês.
Mesmo sob impacto do tarifaço dos Estados Unidos, a carne bovina brasileira teve um dos melhores desempenhos da história. Entre janeiro e novembro, foram exportadas 3,15 milhões de toneladas, com faturamento de US$ 16,18 bilhões, superando todo o resultado de 2024 antes mesmo do fechamento do ano. A China seguiu como principal destino da proteína vermelha do Brasil.
Até mesmo segmentos mais técnicos bateram recordes. As exportações brasileiras de sementes alcançaram US$ 204 milhões em receita, impulsionadas por milho. O movimento reflete a cobiça externa pelo aumento do conteúdo tecnológico do produto nacional.
O avanço comercial também veio pela via diplomática. Em 2025, após a liberação das exportações de carne bovina para a Guatemala, o Brasil alcançou a marca de 500 mercados abertos desde 2023.
Vacas recordistas, simbolos de genética de alta qualidade
A pecuária brasileira também teve seus símbolos de novos patamares históricos este ano. Na Expointer, o destaque foi a eficiência produtiva. A jovem vaca Cotribá Griebeler 143 Imperial, do criador Gediel Griebeler, de Montenegro (RS), entrou para a história ao produzir 96,46 quilos de leite em apenas 24 horas no concurso leiteiro da feira.
O volume superou o recorde anterior, de 87 quilos, registrado na Fenasul de 2023, e reforçou o patamar tecnológico atingido pela pecuária leiteira nacional. O feito foi celebrado no tradicional banho de leite, realizado sem desperdício do alimento e com doação de mil litros a entidades assistenciais.
Já no campo da genética de corte, o recorde veio em cifras nunca antes vistas. Aos dez anos, a vaca nelore Donna FIV CIAV alcançou a marca histórica de R$ 54 milhões, estabelecendo um novo recorde mundial de valorização na pecuária.
Com isso, Donna superou a própria mãe, Parla FIV AJJ, que até então detinha o posto de vaca mais valorizada do mundo.
Recorde, mas preocupante
Mas nem todos os recordes do setor em 2025 foram motivo de comemoração. O ano também ficou marcado pelo avanço dos pedidos de recuperação judicial (RJ) no agronegócio.
Os dados mais recentes da Serasa Experian mostram que foram 628 solicitações no terceiro trimestre — o maior volume da série histórica iniciada em 2021. Nesse cenário houve forte concentração de requisições em Estados como Mato Grosso, Goiás e Paraná — um lembrete de que, por trás dos grandes números, o setor segue exposto a margens apertadas, custos elevados e volatilidade de mercado.
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