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Economia

Compra de fertilizantes segue lenta e amplia riscos à safra 2025/26

Geopolítica global influência oferta de adubos e pressiona valores aos produtores brasileiros

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Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

13/06/2025 - 08:00

Em Mato Grosso, cerca de 85% dos fertilizantes já foram adquiridos - Foto: Adobe Stock
Em Mato Grosso, cerca de 85% dos fertilizantes já foram adquiridos - Foto: Adobe Stock

A compra de fertilizantes para a safra 2025/26 no Brasil segue em ritmo lento. Especialistas apontam que o mercado tem sido marcado por adiamento das aquisições por parte dos produtores e por desafios no abastecimento global, especialmente de fosfatados. 

Segundo Renata Cardarelli, especialista em agricultura e fertilizantes da Argus, a postergação das compras, que, no passado, eram exceção, agora parece ter virado uma nova regra no campo. “Hoje, o produtor está esperando a janela de plantio chegar para, de fato, tomar uma decisão. Eles seguram as compras na expectativa de que o preço dos fertilizantes caia e o preço da soja ou do milho suba, melhorando a relação de troca”, afirmou Renata, ao Agro Estadão.

De acordo com dados da Argus, as compras de fertilizantes para a safra de soja 2025/26, que começará a ser semeada em setembro, estão entre 60% e 70% concluídas. Esse ritmo, segundo a consultoria, está em linha com o ritmo do ano passado, mas abaixo da média histórica de 80% neste período. 

Em Mato Grosso, estado líder na produção de grãos, cerca de 85% dos fertilizantes já foram adquiridos. No Paraná, o segundo maior produtor de soja, o índice está em torno de 70%.

Potássios avançados, mas fosfatados atrasados

Levantamento da Argus mostra que a procura por cloreto de potássio (MOP) está com a demanda praticamente atendida. 

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Esse movimento já era verificado no fim de 2024, quando o preço do produto era mais atrativo. Em novembro do ano passado, por exemplo, a tonelada do MOP estava cotada a US$ 285 nos portos brasileiros — 55% abaixo do fosfatado (MAP), que registrava valores próximos a US$ 635 por toneladas na época. A diferença entre ambos chegou a US$ 350 por tonelada naquele mês.

Enquanto isso, as vendas de fosfatados para a safra 2025/26 estão atrasadas. A consultoria aponta que cerca de 30% da demanda por esses fertilizantes ainda precisa ser fechada nas próximas semanas. 

Geopolítica pressiona oferta e preço

Um dos fatores acompanhados pelo mercado é a oferta dos fosfatados, que tem sofrido influência do cenário geopolítico. 

Além da guerra entre Rússia e Ucrânia, a política chinesa — um importante fornecedor — de priorizar o mercado interno em detrimento da exportação, limita a disponibilidade.  “Esse comportamento da China tem pressionado a oferta global. Mesmo quando o país anuncia que pode voltar a exportar, já não dá tempo de atender o plantio de soja em muitos estados”, destaca a especialista da Argus.

Com uma oferta limitada e demanda aquecida, os preços dispararam. Entre fevereiro e maio deste ano, o preço do MAP (11-52) subiu de US$ 635 para US$ 725 por tonelada. “Essa curva ascendente preocupa os produtores que ainda não compraram, pois indica que a janela de melhores oportunidades pode já ter passado”, sinaliza Renata. 

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Logística 

Outro ponto de atenção está na logística. Ricardo Tortorella, diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), afirma que o Brasil vive uma crise crônica no transporte de insumos. “Temos déficit de infraestrutura em rodovias, ferrovias e portos. Quando o produtor atrasa a compra, sobra menos tempo para fazer a mesma quantidade de entregas. Isso eleva o risco de atrasos e pressiona os custos logísticos”, disse ao Agro Estadão. 

Renata Cardarelli reforça a preocupação: “Vamos ter um cenário de disputa acirrada por caminhões. O produtor está vendendo o grão devagar, então há uma competição entre o frete para escoar grão e o frete para trazer fertilizante”, afirma. “A tendência é que os custos subam e haja mais filas nos portos, como Santos e Paranaguá, aumentando o custo”, complementa. 

Com as decisões de compra ainda pendentes para boa parte da demanda de fosfatados, o mês de julho será decisivo. Entretanto, apesar dos riscos de logística e preços elevados, Tortorella pontua que cabe ao produtor a tomada de decisão. “O produtor é soberano para decidir o momento certo da compra. Mas, ao esperar demais, ele corre o risco de pagar mais caro e ainda enfrentar atrasos na entrega”, finaliza Cardarelli.

Biológicos ganham espaço, mas regulamentação ainda é desafio

Paralelamente ao mercado tradicional de fertilizantes, os produtos biológicos ganham cada vez mais espaço na estratégia de produtividade do agricultor. 

A recente aprovação do novo Marco Legal para Bioinsumos, segundo Tortorella, abre portas para a inovação. “Temos expectativa de uma regulamentação mais eficiente. Se o Brasil agir rápido, pode sair na frente de outros países. Mas, se atrasar, vamos perder espaço para países que já estão avançando”, alertou.

Atualmente, a ANDA participa de um comitê público-privado criado pelo Ministério da Agricultura para discutir a regulamentação do Marco. Uma próxima reunião do grupo está marcada para o dia 24 deste mês, o propósito é avançar com o processo, criando um ambiente favorável ao registro e uso desses produtos. 

A expectativa é que a regulamentação ocorra antes do final do ano. “Existe uma prazo nas normas. A Lei dos bioinsumos exige que, em até um ano, ela seja regulamentada. Então, nos próximos seis meses nós vamos trabalhar para que isso aconteça”, afirma o diretor executivo da ANDA. 

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