Economia
Agro gaúcho em 2026: Farsul alerta para crise prolongada
Entidade aponta preocupação com desequilíbrio fiscal e alerta que produtores não podem depender do governo
Mônica Rossi | Porto Alegre | monica.rossi@estadao.com
16/12/2025 - 16:31

As perspectivas para o produtor gaúcho em 2026 não são muito animadoras, na opinião da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). Em coletiva na manhã desta terça-feira, 16, a entidade apresentou um balanço do ano que está terminando e projeções para o agro gaúcho e brasileiro.
Apesar da previsão de bons resultados para a safra 2025/2026, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, aponta que o cenário econômico que se apresenta é desafiador. “Nós, produtores rurais, temos um cenário extremamente desafiador. Não é para 2026, é para 26, 27, 28, 29, 2030. Porque estamos muito ligados, dependentes da economia brasileira que vai afundando, embora o cidadão comum ainda hoje não perceba. Mas a economia brasileira está afundando numa rapidez impressionante. E isso vai prejudicar enormemente as atividades”.
“Produtor que depender do governo vai ter dificuldades”, diz Farsul
O economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz, apresentou projeções para corroborar a visão de Pereira. Para o Brasil, a projeção do PIB indica um crescimento de 2,35% em 2025, caindo para 1,75% em 2026. O setor agropecuário nacional projeta crescimento de 10,52% em 2025, mas uma retração significativa de 1,1% em 2026.
A economia do Rio Grande do Sul, caso a safra em andamento siga dentro dos prognósticos, deve apresentar crescimento do PIB de 4,40% em 2026. O setor agropecuário gaúcho, após uma retração severa prevista para 2025 de 10,66%, projeta uma recuperação de 36,75% em 2026.

A equipe econômica Farsul projeta ainda um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,83% em 2026. A taxa Selic, principal instrumento de política monetária, é projetada para encerrar nos atuais 15% em 2025 e em 12% para 2026.
Antonio da Luz apresentou um cenário que indica grande desequilíbrio fiscal do governo federal, resultando em juros mais altos. O economista explica que esses juros vêm criando as enormes crises de crédito e inadimplência vivenciadas pelo agronegócio brasileiro.
O economista reforça que, segundo o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), a tendência é de queda dos recursos federais para despesas discricionárias, entre elas políticas públicas como Plano Safra, Proagro e Seguro Rural.
“As políticas agrícolas dependem de recursos. E nós temos dito em alto e bom som: que produtor que for dependente de governo vai ter muitas dificuldades. E o produtor precisa entender, é ele por ele mesmo. E não é uma questão deste governo ou do próximo, é uma questão de finanças públicas. Nós estamos vivendo a maior crise de crédito da história”, reforça o especialista da entidade.
MP 1314 e securitização: soluções ainda em debate
A Farsul argumenta que o Brasil vive a maior distância entre o anunciado para crédito rural e o que realmente foi efetivado. A projeção da equipe econômica aponta para uma queda de 15% no total tomado pelos agricultores para 2026. A entidade de agricultores aponta ainda que o País vive uma abrupta elevação de garantias reais e maior taxa de inadimplência no agro – 11,4%.

“11% é um número que nós nunca, nunca imaginamos tê-lo, nem nos nossos pesadelos. E não terminou de piorar. Infelizmente, vai piorar mais”, prevê Da Luz.
Perguntados pela reportagem do Agro Estadão sobre os avanços no destravamento dos recursos da Medida Provisória (MP) 1.314, os representantes da entidade afirmaram que houve nova conversa com o Ministério da Fazenda e que aguardam a publicação de uma nova MP. “E eu não sei o que o Ministério vai mudar, mas eu posso te dizer que as discussões que aconteceram se dedicaram à questão da safra 2024/25, à questão dos encargos financeiros, que ficaram de fora [da MP original], e àquela mecânica de datas que a pessoa estava enquadrada num dia, uma semana depois podia estar desenquadrada”, relata o economista-chefe.
Domingos Lopes, presidente eleito da Farsul para os próximos quatro anos, relatou que uma comitiva gaúcha, incluindo o governador Eduardo Leite, esteve discutindo com senadores e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), sobre a situação do endividamento dos produtores. Na conversa, a Farsul teria deixado claro que, se as mudanças na MP 1.314 não forem a contento dos produtores, irá brigar pela aprovação do projeto que prevê a securitização das dívidas. “Não abriremos mão de darmos foco, sequência e, principalmente, apelar ao presidente Alcolumbre que paute o projeto 5.122 da securitização, que é muito mais abrangente”, reitera Lopes.
O atual presidente da Farsul considera que as soluções para renegociação das dívidas apontadas até o momento estão “muito capengas”. E complementa: “o que nós precisamos realmente é uma safra boa e grande para que o produtor possa chegar no sistema financeiro – ainda sem solução – e que possa continuar rolando [a dívida]. Agora, a esta taxa de juros… Eu não sei se tem saída. Acreditamos que não, mas estamos lutando para que as coisas melhorem. A ideia é manter o produtor à tona. Mantê-lo vivo para poder sobreviver”.
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