
Teresa Vendramini
Produtora Rural, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Vamos seguir sem deixar nenhuma mulher para trás
No Dia Internacional da Mulher, não venho fazer homenagens. Venho falar sobre as dores que, nesta data, muitos jogam debaixo do tapete
08/03/2025 - 08:00

Faço parte de um grupo de mulheres privilegiadas que conseguiram furar a bolha e conquistaram visibilidade, liderança e reconhecimento. Mas isso não me permite ignorar a realidade de tantas outras.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, a cada seis horas é registrado um assassinato de mulher. Outro dado do Ministério da Justiça e Segurança Pública diz que, até outubro de 2024, foram registradas 1.128 mortes por feminicídio, o maior número desde que o crime foi tipificado em 2015. E tem mais: só nos cinco primeiros meses do ano passado 380 mil processos relacionados à violência contra a mulher foram registrados na justiça brasileira, uma média de 2.500 casos por dia.
Esses números são alarmantes e sabemos que, em áreas rurais, eles podem ser muito maiores por conta da subnotificação, fruto do isolamento, da falta de informação, da vergonha ou do medo de denunciar.
Toco neste assunto, porque tive a honra de ter sido convidada para estar com as jovens estudantes da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, no dia 19 de março, em São Paulo. Junto com mais de 60 universidades, iremos discutir a violência contra a mulher e o feminicídio no Brasil. Para mim é uma satisfação ser uma fazendeira atuante no meu setor, mas que também fala e é ouvida fora dele. Mais do que isso, esse convite me dá a oportunidade de dar voz a centenas de mulheres que encontro neste “brasilzão”, que confidenciam suas dores e também seus sonhos.
Assim como elas, muitas da minha geração não tiveram espaço de fala. Muitos lugares não eram para nós. Mas nunca aceitei isso. Abracei as oportunidades que tive e me preparei para a caminhada que escolhi. Nunca esqueço das mulheres que vieram antes de mim, que abriram portas e me inspiraram. Agora, meu olhar está voltado para essas mulheres que estão invisíveis e que precisam, assim como eu tive, de suas oportunidades. Nos eventos que participo, sempre digo que estou esperando os reforços. Elas sempre me respondem: “Teka, estou chegando!”. Me emociono toda vez.
Fui a primeira mulher presidente da Sociedade Rural Brasileira em 100 anos e da FARM (Federação das Associações Rurais do Mercosul), entidade que representa seis países do Mercosul. Hoje, participo de vários conselhos representando o agronegócio brasileiro, mas o mais importante é ser ouvida não por um cargo, mas porque querem me ouvir. Isso vale toda a caminhada. É isso que toda mulher deseja.
Antes, eram poucas mulheres assumindo posições de liderança no agronegócio. Agora, esse movimento está avançando. Mas ainda há muitas mulheres invisíveis e não podemos esquecê-las. Precisamos trazê-las para dentro do jogo.
Portanto, no Dia Internacional da Mulher, minha mensagem é de compromisso. Que possamos seguir abrindo portas e garantindo que nenhuma mulher fique para trás.
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