
Francisco Turra
Presidente dos Conselhos de Administração da APROBIO e Consultivo da ABPA, ex-ministro da Agricultura
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
A ciência comprova: produção de biocombustíveis e de alimentos crescem juntas
A academia e o setor industrial reuniram um compilado de estudos internacionais que demonstram de forma inequívoca que não há concorrência entre a produção de alimentos e a de biocombustíveis
30/04/2025 - 08:00

O que ocorre é exatamente o contrário. Ao avaliar uma vasta literatura sobre o tema, a partir de uma análise estatística de comparação de artigos científicos, a pesquisa descobriu que as correlações feitas com a segurança alimentar são a partir de modelagens, sem conhecer na prática o que é feito no campo da agricultura, observando os dados reais.
O trabalho foi liderado pela professora da USP e coordenadora do programa de Pesquisa em Bioenergia Fapesp, além de líder da Força-Tarefa de Descarbonização do Transporte com Biocombustíveis da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), Glaucia Souza. Para esclarecer essa falsa percepção de competição, a professora apresentou o modelo das práticas da agricultura brasileira que muitos países não conhecem.
O compilado de mais de 80 pesquisas científicas foi apresentado em um evento paralelo às reuniões da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês), onde se discutiu mecanismos para a descarbonização de navios no horizonte até 2050. A iniciativa contou com apoio da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO). Veja na íntegra o estudo neste link.
O estudo nasceu durante o G20, no ano passado, e reforça a necessidade de demonstrar que os países do Sul Global podem contribuir de maneira significativa na trajetória carbono zero líquido da navegação.
Uma consequência da análise desse documento é que fica evidente o potencial das economias emergentes em países que não produzem, mas já têm cultivo e vocação para a agricultura, de produzir biocombustíveis. Já nos países que são protagonistas nesse setor, como na região da América Latina, é possível dobrar a produção de biocombustíveis e atender às demandas da transição energética.
O Brasil já é uma referência em produção de alimentos e de bicombustíveis, e deve crescer ainda mais nessas áreas por meio da transição energética de uma forma socialmente justa e escalável. Podemos demonstrar que todo o Cone Sul pode contribuir com a descarbonização, em um contraponto à defesa de rotas tecnológicas específicas que ainda não estão disponíveis em larga escala.
O nosso pleito principal é permitir que todos participem. Permitir uma transição energética em base global, em que as regras sejam globais, mas que cada região possa contribuir com o que tiver de melhor, e não simplesmente predefinir rotas tecnológicas, que apenas um grupo de indústrias possa acreditar que queira desenvolver. Sem dúvidas, esse é o caminho a ser seguido.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Opinião
1
Política agrícola: esperando agosto
2
Sanções à ureia russa: o tiro europeu que pode acertar em cheio o agro brasileiro
3
Genes e Algoritmos: a nova engenharia do mundo
4
O Brasil precisa voltar a produzir ureia – e com urgência
5
Terras raras e os interesses do Brasil
6
A transparência que devemos cultivar em Transição Energética

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Opinião
Genes e Algoritmos: a nova engenharia do mundo
A convergência entre inteligência artificial e biotecnologia está transformando o mundo que conhecemos, de forma acelerada e irreversível.

Celso Moretti

Opinião
Política agrícola: esperando agosto
Depois que China, União Europeia, Japão e outros países fecharam acordos com os EUA, Brasil faz o que pode enquanto aguarda a sexta-feira

José Carlos Vaz

Opinião
A transparência que devemos cultivar em Transição Energética
Setor de biocombustíveis enfrenta dano causado por distribuidoras que não cumpriram metas de aquisição de Créditos de Descarbonização (CBIOs)

Francisco Turra

Opinião
O Brasil precisa voltar a produzir ureia – e com urgência
A vulnerabilidade na oferta de fertilizantes compromete a produtividade, eleva os custos e ameaça a competitividade do campo

Celso Moretti
Opinião
Terras raras e os interesses do Brasil
Detentor de reservas relevantes mas pouco exploradas, país precisa de estratégia para não repetir papel exportador de matérias-primas.

Welber Barral
Opinião
Sanções à ureia russa: o tiro europeu que pode acertar em cheio o agro brasileiro
Recente decisão da União Europeia sobre fertilizantes nitrogenados pode trazer efeitos colaterais ao Brasil, como inflação dos alimentos

Celso Moretti
Opinião
A taxação de Trump: ataque ao Brasil ou guerra ideológica?
A ilusão de que podemos simplesmente “encontrar novos mercados” é ingênua

Marcello Brito
Opinião
Política Agrícola: vítima de dano colateral
O custo financeiro médio subiu para todos os produtores e cooperativas, sem que nada de muito negativo tenha ocorrido no agro brasileiro; isso porque a Selic subiu por razões que estão fora do setor rural

José Carlos Vaz