Sustentabilidade
CCarbon: conheça o centro de agricultura tropical de baixo carbono em Piracicaba
Além de investimentos públicos, CCarbon também mira aportes privados em projetos com repercussão nacional e internacional

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
07/10/2024 - 08:00

Vocação, condições climáticas e tecnologia. No entendimento do vice-coordenador do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon), Maurício Cherubin, esses são pilares que tornam o Brasil o “grande lugar no mundo para se tornar referência” em agropecuária de baixo carbono. Motivados também por isso, o CCarbon pretende ser o principal nome em pesquisa e inovação quando se tratar desse assunto.
“Uma das premissas para ser aprovado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) é justamente se posicionar como um centro de classe mundial, então é nesse contexto que nós temos trabalhado muito, para posicionar o centro [CCarbon] primeiro internamente, mas depois num ambiente tropical e, finalmente, num ambiente internacional Global”, afirma Cherubin ao Agro Estadão.
Apesar de ter pouco mais de um ano, a instituição de pesquisa já se mostra como um expoente para responder, por exemplo, como o Brasil poderá alcançar a meta de redução de 30% das emissões de metano na pecuária.
Confira na reportagem o que é desenvolvido pelos pesquisadores no centro e quais são os planos para se tornar a principal referência mundial em agricultura tropical de baixo carbono.
O que é o CCarbon?
Criado formalmente em março de 2023, essa instituição é um dos centros de excelência idealizados pela Universidade de São Paulo (USP) e vinculado à Reitoria da universidade. Fisicamente, o CCarbon está localizado em Piracicaba (SP), no Campus Luiz Vicente de Souza Queiroz. Apesar disso, dos 40 pesquisadores que fazem parte do centro, nem todos estão no estado paulista, e além desses cientistas, há 100 bolsistas que também ajudam nos trabalhos.
Como o próprio nome já entrega, a temática principal é o carbono. “O carbono é o fio condutor dessa história. O carbono está no solo, está na planta, está no animal, está na atmosfera, que tem causado todo esses problemas, está na água, está no mercado, ele faz parte da nossa sociedade”, comenta Cherubin.
Atualmente, o centro recebe investimentos da USP e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ao todo, são R$ 40 milhões distribuídos em cinco anos e que irão financiar cerca de 20 macroprojetos de pesquisa, inovação e disseminação, os pilares do centro. A expectativa é triplicar esse valor de investimento nos próximos anos com aportes vindos da iniciativa privada.
Mesmo com o pouco tempo de funcionamento, o CCarbon já fez entregas consideradas importantes, especialmente no meio acadêmico, como uma pesquisa que mostra os impactos das opções de manejo de resíduos da cana-de-açúcar, a exemplo da palha. Para o produtor, o centro também lançou um guia prático de plantas de cobertura e em breve também deve lançar um kit de campo que funcionará para medir os benefícios de práticas de agricultura regenerativa em cada propriedade.
Na parte de disseminação, os pesquisadores têm tomado um papel de protagonismo, com a participação em reuniões e encontros importantes como no Grupo de Trabalho de Agricultura do G20 e participação na Conferência das Partes (COP) 29 e COP 30. Na visão do vice-coordenador, parte do plano para ser referência mundial no assunto de agricultura tropical de baixo carbono passa por esse aspecto de se tornar relevante no cenário interno e externo.
A estratégia para chegar lá
Segundo conta Cherubin, o plano para ser esse expoente no tema envolve um engajamento maior junto a entidades tomadoras de decisões. Por isso, estar acessível e participar de eventos como as cúpulas do clima fazem parte da estratégia.
“É sedimentar as pesquisas nas diferentes áreas e a partir daí ir ganhando espaço e protagonismo junto às agências de tomada de decisão. […] Num primeiro momento, solidificando a pesquisa, que é o nosso eixo estruturante do centro, e a partir de uma pesquisa sólida é que vai gerando esses resultados de impacto”, comenta o vice-coordenador que também acrescenta “uma série de alinhamentos internacionais” como parte da manobra para chegar nesse objetivo. Uma dessas interações é uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Quanto ao prazo, Cherubin diz que o centro trabalha com o tempo máximo de apoio que a Fapesp pode dar, que são onze anos (cinco anos iniciais, prorrogáveis por mais três e depois mais três), sendo que o primeiro ano já passou. “Nós não temos uma data estabelecida, mas dentro da nossa visão, é se tornar o centro de referência mundial em agricultura tropical de Baixo Carbono no escopo de dez anos”, pontua.
Educarbon
Além dos planos com foco internacional, a ideia é tornar o centro uma fonte de capacitação. Por isso, o vice-coordenador aponta que uma das iniciativas é criar o Educarbon, “uma plataforma de formação continuada para diferentes níveis”. Além de alunos, técnicos, profissionais da área, a proposta é chegar em produtores rurais.
“Essa plataforma deve entrar em operação no ano que vem e este ano ainda é um ano de estruturação para ver por onde nós vamos começar. A ideia é atingir os diferentes públicos, desde de treinamentos mais acessíveis para produtores até cursos de especialização Lato Sensu”, complementa Cherubin.
Uma amostra é o Agro para Todos que vai ofertar cursos gratuitos com módulos rápidos de vídeos de três a cinco minutos. A intenção é mostrar de forma simples e rápida como utilizar técnicas sustentáveis tendo em vista a agricultura de baixo carbono.
Outro passo dentro do Educarbon é a atuação nas escolas. Segundo Cherubin, esse é um processo que vai demandar mais preparação, mas a pretensão é trazer mais informações sobre a agropecuária brasileira e mudanças climáticas nos livros didáticos e oferecer formação sobre o assunto aos professores.
“Nós estamos trabalhando com um pouco mais de cuidado de como atingir os estudantes de ensino médio e básico a o início da base da pirâmide de formação no país. […] O material didático que nós temos hoje no país é muito pobre de informações sobre agricultura e mais pobre ainda em relação às mudanças climáticas, que é a maior crise que nós temos no planeta. Então, esperamos gerar subsídio para o material didático, mas também para o multiplicador, que é o professor”, analisa o vice-coordenador.
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