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Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Mercosul-União Europeia: caminhos que se bifurcam

Num mundo de incertezas jurídicas, com as batalhas tarifárias dos EUA, o acordo com a Europa representa previsibilidade institucional; UE apresenta o texto do acordo nessa quarta-feira, 3, em Bruxelas.

03/09/2025 - 07:00

Integração com a Europa preserva o Oceano Atlântico como espaço de cooperação econômica. Foto: Adobe Stock
Integração com a Europa preserva o Oceano Atlântico como espaço de cooperação econômica. Foto: Adobe Stock

Em editorial recente, o Financial Times aponta a urgência do acordo Mercosul-União Europeia. Pode-se acrescer nuance: sua implementação será gradual, sua abertura agrícola é limitada e o impacto econômico será lento. Ainda assim, sua dimensão estratégica é inegável.

No mundo real, o setor agrícola brasileiro, alçado como grande beneficiário, encontrará barreiras significativas. O acesso ao mercado europeu virá sob cotas restritas e tarifas ainda existentes em produtos sensíveis. Não haverá uma explosão de exportações de carne ou açúcar para o Velho Continente. O ganho real estará em áreas industriais, serviços e cadeias de valor vinculadas a padrões ambientais e tecnológicos.

Mesmo assim, há motivos para enfatizar o pacto. Num mundo de incertezas jurídicas, com as batalhas tarifárias dos Estados Unidos, o acordo com a Europa representa previsibilidade institucional. Mais do que comércio, sinaliza confiança em regras multilaterais, em contraste com o improviso protecionista.

Há ainda um componente geopolítico. A integração preserva o Atlântico como espaço de cooperação econômica, num momento em que o Pacífico domina o dinamismo global. É verdade que a Europa envelhece, perde participação relativa no PIB mundial e enfrenta dilemas internos graves, como a pressão migratória e movimentos radicais. Mas, justamente por isso, reafirmar laços com o Mercosul tem valor simbólico: é a defesa de valores ocidentais diante do avanço de alternativas autoritárias.

Para o Brasil, o acordo trará tarefas inarredáveis. Será necessário adaptar cadeias produtivas, reforçar a rastreabilidade ambiental e lidar com padrões técnicos. O custo de adequação pode ser alto, mas abre acesso a investimentos e financiamento verdes. Para as empresas, a lentidão da implementação permitirá tempo para ajustes, desde que, num mundo de bifurcações, o Brasil não se renda à inércia. A vigência do CBAM e do EUDR, a partir do ano que vem, são exemplos gritantes.

No campo político, o risco é desperdiçar outra oportunidade histórica. O Mercosul já perdeu relevância quando comparado a outros blocos comerciais. A tardança em concluir o acordo reforça a imagem de isolamento, refutada pelo recente acordo com o EFTA. O avanço com a Europa posiciona o Brasil como ator confiável e previsível. Neste sentido, mais que abertura comercial, o acordo traz estabilidade institucional, inclusive para as transações econômicas intra-Mercosul. A Europa pode não ser o futuro em termos de dinamismo econômico, mas continua a oferecer estabilidade, valores compartilhados e espaço para cooperação estratégica.

*O título remete ao conto de Jorge Luis Borges “El jardin de los senderos que se bifurcan” (1942), que, por sua vez, se refere a “infinitas series de tiempos, en una red creciente y vertiginosa de tiempos divergentes, convergentes y paralelos. Esa trama de tiempos que se aproximan, se bifurcan, se cortan o que secularmente se ignoran, abarca todas las posibilidades”.

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