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Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

A vez do EFTA

Com barreiras tarifárias dos EUA e exigências da União Europeia, Mercosul mostra que ainda pode alcançar tratados modernos de comércio

19/09/2025 - 18:00

Brasil poderá ocupar mercados de alto valor nos países do EFTA. Foto: Adobe Stock
Brasil poderá ocupar mercados de alto valor nos países do EFTA. Foto: Adobe Stock

Nesta semana, o Mercosul assinou um acordo de livre comércio com Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, integrantes da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Trata-se de um pacto abrangente, que cobre bens, serviços, investimentos e propriedade intelectual, envolvendo mais de 97% das exportações. Para um bloco que frequentemente sofre acusações de isolamento, o passo é significativo.

Neste Acordo, a primeira dimensão a destacar é a simbólica. Num cenário em que o protecionismo avança, em que os EUA erguem barreiras tarifárias de 50% contra o Brasil e a União Europeia se perde entre exigências ambientais e pressões populistas, o Mercosul mostra que ainda pode alcançar tratados modernos de comércio.

Claro que, como sempre, o diabo está nos detalhes. A Suíça, mercado exigente e de alto poder aquisitivo, abrirá oportunidades concretas para agroindústria, produtos de valor agregado e bens industriais brasileiros. O mesmo vale para Noruega, Islândia e Liechtenstein, que, embora menores, se inserem em sofisticadas cadeias globais de valor. Para as empresas brasileiras, será uma alternativa para competir em padrões técnicos, ambientais e de propriedade intelectual que servem como credenciais para outros mercados. O desafio, entretanto, não é trivial. O acesso agrícola não é irrestrito: persistem cotas, regras sanitárias rígidas e exigências de rastreabilidade.

Além disso, a competição é com fornecedores de alto nível, que já dominam os nichos nesses mercados. Setores como carne bovina e de aves enfrentarão cotas e exigências sanitárias rigorosas, mas, ainda assim, poderão ocupar espaço relevante em mercados de alto valor. Já nichos como café especial, frutas tropicais, orgânicos e produtos com indicação geográfica podem ser grandes beneficiários.

Outro desafio relevante será a regulação ambiental. Em linha com o Acordo Mercosul-UE, as exigências em sustentabilidade e rastreabilidade são crescentes. O agronegócio brasileiro terá de internalizar controles de origem, certificações ambientais, rastreabilidade florestal e métricas ESG.

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No campo dos serviços e investimentos, o Acordo também traz oportunidades. Suíça e Noruega são fontes relevantes de capital e tecnologia. A previsibilidade jurídica pode estimular parcerias em biotecnologia, energia renovável, farmacêutica e infraestrutura. Se o Brasil souber atrair esse capital, poderá transformá-lo em ganhos de produtividade. No plano institucional, o Mercosul mostra que ainda pode avançar em negociações complexas, como podem ser num futuro próximo com os Emirados Árabes Unidos ou com a União Europeia.

Para iniciar sua vigência, o Acordo precisa ainda ser ratificado nos parlamentos nacionais. Isso significa que o cronograma ainda é incerto e sujeito a pressões internas. O balanço, no entanto, é positivo. Ao firmar um acordo moderno, o Mercosul dá um passo relevante na direção da integração global. O Brasil ganha acesso a mercados de alto poder aquisitivo, e a indústria e os serviços encontram nova janela para se internacionalizar.

Havendo tardado a se concretizar, o Acordo EFTA-Mercosul é um alento, e até consequência indireta, de um mundo em que pululam barreiras tarifárias, guerras comerciais e disputas regulatórias. Configura uma mensagem por regras comerciais estáveis e pela cooperação econômica, que será tão positiva quanto consiga o Brasil transformar oportunidade em competência, abertura em competitividade, tratado em realidade.

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