
Celso Moretti
Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
O que o Brasil ganha ou perde com a nova lei dos pesticidas?
Não se trata de mais veneno no prato, como querem fazer crer os ideólogos de plantão e massas de manobra em geral. Ciência, tecnologia e inovação (sempre elas!) são a base do novo dispositivo legal.
23/02/2024 - 17:36

No final do ano passado o congresso nacional aprovou, após mais de 20 anos de debates, avanços e alguns retrocessos, a Lei nº 14.785, de 27 de dezembro de 2023. O objetivo é dar mais agilidade aos processos de registro, uso, importação e fabricação de pesticidas, assim como ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Quando a proposta foi apresentada em 1999, pelo então Senador Blairo Maggi, o Brasil produzia 86 milhões de toneladas de grãos em aproximadamente 35 milhões de hectares. Temia-se o “bug do milênio”, carros a bateria estavam estacionados somente debaixo da árvore de Natal de alguns garotos sortudos e Zuckerberg e seus amigos eram estudantes de Harvard que só queriam ter mais chances com as meninas bonitas da universidade.
Um quarto de século depois, a produção de grãos cresceu quase quatro vezes (ultrapassamos a barreira dos 300 milhões de toneladas) enquanto a área aumentou somente 2,3 vezes. Tecnologia na veia. Carros elétricos e híbridos estão nas ruas e drones, sensores e inteligência artificial no campo. E, finalmente, o Brasil tem aprovada uma legislação para pesticidas que, se não é perfeita, traz avanços consideráveis para um setor que carrega a economia brasileira.
O novo dispositivo legal trará maior agilidade na apreciação e aprovação, pelas instâncias responsáveis, de novas moléculas que já estão em uso há anos em nossos concorrentes mais próximos como Argentina e Estados Unidos.
Com a legislação anterior, da década de 80, a demora era de 10, 15 anos para liberar uma nova molécula no mercado brasileiro, o que tirava competitividade de um setor que responde por quase 27% do PIB nacional e 1/3 dos empregos.
Não se trata de mais veneno no prato, como querem fazer crer os ideólogos de plantão e massas de manobra em geral. Ciência, tecnologia e inovação (sempre elas!) são a base do novo dispositivo legal. Com muita pesquisa e desenvolvimento o setor tem hoje à disposição moléculas mais modernas e eficientes, o que reduz a quantidade de ingrediente ativo aplicado por hectare. Isso redunda em controle mais eficiente de pragas e doenças, com menor impacto ambiental e menor risco para a saúde de aplicadores e consumidores.
O uso de pesticidas é apenas uma das armas usadas pelo agro brasileiro para alimentar milhões de pessoas em todo o mundo. Existe um arsenal de tecnologias para produzir nos trópicos. Junte-se aos pesticidas o manejo integrado de pragas, o controle biológico, a rotação de culturas, o vazio sanitário, a calendarização, a agricultura orgânica e o melhoramento genético vegetal, que entrega plantas mais resistentes a pragas e doenças, e o resultado é uma das agriculturas mais competitivas e sustentáveis do mundo.
O agro brasileiro utiliza, em valores relativos (kg de ingrediente ativo por hectare), menos pesticidas que Bélgica, Holanda, Suíça e Itália, segundo dados da FAO/ONU. O Presidente Lula vetou vários pontos da nova lei, o que coloca em risco o trabalho realizado pelos parlamentares desde 1999. Os vetos presidenciais conseguiram desagradar a praticamente todos setores: agronegócio, indústria e ambientalistas.
No caso do agro, a insatisfação é relacionada com a retirada da centralização dos processos no Ministério da Agricultura, principalmente na reanálise de riscos e mudanças nos pesticidas já registrados. Por outro lado, ambientalistas reclamam que o novo dispositivo legal reduz o tempo de análise, o que justamente trará mais competitividade para o setor. São as jabuticabas do Brasil.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a mais poderosa do congresso nacional, já sinalizou que poderá derrubar os vetos presidenciais. Tomara. Ganharão o agro, a sociedade brasileira e as centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que se alimentam diariamente com o que é produzido aqui.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Opinião
1
Mesmo com queda na participação no PIB, Agro segue motor da economia
2
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em Abril
3
Protecionismo do Governo Trump: alternativas estratégicas
4
Ação e reação no mundo conectado do biodiesel e do agronegócio
5
Etanol de milho pode representar 40% da produção de biocombustíveis no Brasil até 2030

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Opinião
No fogo cruzado das tarifas, agro brasileiro precisa de estratégia (e cautela)
No recente embate entre China e Estados Unidos, cada lado brande tarifas acima de 100% contra seu adversário

Welber Barral

Opinião
Etanol de milho pode representar 40% da produção de biocombustíveis no Brasil até 2030
O Brasil foi o segundo maior produtor mundial de etanol em 2024, com 36,8 bilhões de litros, dos quais 6,3 bilhões foram produzidos a partir do milho

Celso Moretti

Opinião
Ação e reação no mundo conectado do biodiesel e do agronegócio
Os atuais ambientes global e nacional mostram a importância que o equilíbrio tem em um mundo interconectado e interdependente, sem espaço para levantar muros

Francisco Turra

Opinião
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em Abril
Destaque para as medidas anunciadas por Donald Trump, que impõem tarifas importantes em países que são grandes importadores do agro

Marcos Fava Neves
Opinião
Protecionismo do Governo Trump: alternativas estratégicas
Processos produtivos em países que mantêm acordos de livre comércio com os EUA, que permitam modificar a classificação tarifária, podem manter o acesso ao mercado em condições mais favoráveis

Welber Barral
Opinião
Mesmo com queda na participação no PIB, Agro segue motor da economia
Em 2024, o setor agropecuário brasileiro enfrentou desafios que resultaram em uma redução de sua participação no Produto Interno Bruto (PIB)

Tirso Meirelles
Opinião
Vamos seguir sem deixar nenhuma mulher para trás
No Dia Internacional da Mulher, não venho fazer homenagens. Venho falar sobre as dores que, nesta data, muitos jogam debaixo do tapete

Teresa Vendramini
Opinião
A norma antidesmatamento européia (EUDR) e o Agronegócio Brasileiro
A preocupação global com o desmatamento e suas consequências ambientais têm gerado intensos debates nas últimas décadas, especialmente em relação à Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais do planeta

Welber Barral