
Welber Barral
Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
O futuro da política comercial dos EUA
A eleição presidencial norte-americana em 2024 traz a expectativa em relação à indefinição quanto ao candidato que deverá vencer
01/05/2024 - 05:00

Um evento definidor do futuro, em 2024, será a eleição presidencial norte-americana. A expectativa se torna ainda maior pela indefinição, neste momento, do candidato com maior chance de vencer: Donald Trump e Joe Biden estão igualados, enquanto Robert Kennedy Jr. aparece com 10% das intenções de voto – um improvável candidato a desafiar os partidos majoritários.
No plano interno, a divisão eleitoral reflete uma sociedade igualmente dividida. Temas atuais, como o posicionamento quanto ao conflito no Oriente Médio ou o perfilamento racial, se somam ao conservadorismo interiorano versus o cosmopolitismo das costas norte-americanas (o que favorece Trump, em razão do particular sistema eleitoral que privilegia estados menores).
Mas é no plano externo que o resultado eleitoral provoca mais temores. É verdade que, quanto à América Latina, o interesse norte-americano tem sido diminuto, quando comparado com décadas atrás. Atualmente, este interesse vem se resumindo a meia dúzia de tópicos repetidos e sem muitos avanços: tráfico de drogas, imigração, Venezuela. Sempre há também um discurso contra a crescente influência chinesa na região, mas poucas ações concretas além de limitada cooperação econômica.
Descontada a América Latina, é no plano global que a eleição convida à reflexão, sobretudo no que pode ser a política comercial do próximo presidente norte-americano. E aqui também, infelizmente, não há motivos para muita expectativa nem otimismo.
Com efeito, desde o governo Obama, os EUA abandonaram a posição de liderança na institucionalização do comércio internacional que exerciam desde Bretton Woods. Somaram-se medidas protecionistas do governo Trump, que não foram mitigadas no governo Biden: aumento de tarifas, medidas baseadas em defesa nacional (Seção 232), mais defesa comercial.
Entre Trump e Biden, nenhuma dessas medidas deve ter reversão radical num próximo governo. O único viés que possivelmente os diferencie seria a ênfase dos democratas na concessão de subsídios, sobretudo os que serão justificados com base em mudança climática. Seria a continuação, por exemplo, da atual Lei de Redução de Inflação, que despeja bilhões em incentivos à indústria norte-americana.
De outro lado, um novo governo Trump ainda traria seguramente a marca dos arroubos e imprevisibilidade, a exemplo de proposta recente de sancionar países que estejam tentando abandonar o dólar como moeda transacional (uma ameaça direcionada sobretudo aos países do BRICS). Outra proposta repetida por Trump é de elevar horizontalmente as tarifas em 10%, numa repetição histórica da Hawley-Smoot Act, a medida que foi uma das fagulhas da crise econômica de 1930.
Em qualquer resultado, os efeitos para o resto do mundo são inevitáveis. Uma potência em declínio, desafiada por um mundo multipolar, se torna ainda mais perigosa quando não exerce uma liderança positiva, tão necessária diante dos desafios globais que, a cada minuto, se descortinam diante de nossos olhos.

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