Agropolítica
Protestos avançam na Europa e miram exportações do agro brasileiro
Produtores rurais europeus são contra acordo Mercosul e União Europeia; impasse deve permanecer até eleições de junho

Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com
15/02/2024 - 07:00

A Europa vive intensos protestos dos agricultores desde o início do ano. Nesta quarta-feira, 14, estradas na Espanha foram fechadas por tratores, assim como já aconteceu na França, Bélgica, Portugal, Polônia, entre outros. As manifestações são contra a política ambiental da União Europeia, a concorrência com produtos do exterior e a baixa remuneração dos agricultores.
No Brasil, o setor produtivo acompanha com atenção os protestos, já que o acordo Mercosul e União Europeia, que vem sendo discutido há 25 anos, estava avançando e agora, deve paralisar. Além disso, os desdobramentos das manifestações podem impactar o agronegócio brasileiro em cheio.
O consultor da FIESP e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, ressalta o protecionismo histórico da Europa, com inúmeras barreiras sanitárias e tarifárias. Segundo ele, os produtores europeus não estão considerando as cotas de exportações que existirão num futuro acordo. “O Mercosul não terá livre comércio de produtos agrícolas com a Europa. As cotas de exportações poderão ser maiores, mas não para destruir a agricultura europeia”, diz Barral.
A União Europeia é o segundo maior mercado dos produtos agropecuários brasileiros, representando 13% do total vendido para fora do país. Em 2023, as exportações para o bloco econômico somaram U$21,6 bilhões. Farelo de soja, frango, café e frutas estão entre os principais itens exportados.
“É um mercado muito importante e qualquer ato de protecionismo prejudica as negociações”, resume a diretora de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Sueme Mori.
Pontos em comum
Desde o início do ano, produtores rurais protestam em diferentes países da Europa: Alemanha, Espanha, Bélgica, França, entre outros. Em cada um, os agricultores têm motivos específicos para as manifestações, mas alguns pontos são comuns.
Em geral, o setor reclama das regras ambientais impostas pelo Parlamento Europeu, dos preços baixos pagos pelos produtos que estariam “massacrando os produtores”, e da concorrência dos produtos do exterior.
Uma das reivindicações dos produtores rurais europeus é a implementação da “cláusula espelho”, fazendo com que todas as regulamentações impostas a eles sejam cobradas dos parceiros comerciais.
Em 2019, a Comissão Europeia (instituição responsável pelos acordos internacionais) firmou o Green Deal, um acordo com diversas metas de sustentabilidade. Em relação à produção agrícola, impõe redução nas emissões de carbono, no uso de defensivos e pesticidas e aumento da produção de alimentos orgânicos, entre outros pontos.
Diante dos protestos, a Comissão alterou a meta principal do Green Deal, de zerar a emissão de carbono até 2050. Agora, a medida prevê redução de 90% na emissão dos gases até 2040.
O Acordo Verde e o Brasil
Em novembro do ano passado, entrou em vigor a medida anti-desmatamento para países com relações comerciais com o bloco. Por essa cláusula do Green Deal, o produto comprado pela Europa não pode ser produzido em área desmatada depois de 2020.
“A CNA tem pedido para incluir no acordo um mecanismo de reequilíbrio de concessões, caso alguma medida afete o nosso relacionamento”, afirma a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori.
Para Sueme, os protestos europeus são resultado de um excesso de regulação ambiental. “Devemos olhar com cuidado, para não se repetir por aqui – fazer regulamentos impraticáveis para o campo”, conclui.
Mercosul-União Europeia fica para julho, após eleições do Parlamento
Discutido ao longo dos últimos 25 anos, o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia voltou a emperrar. Ele precisa ser aprovado pela maioria dos 27 países da União Europeia e tem a simpatia de Espanha, Portugal e Alemanha. Mas também enfrenta oposição de nações importantes como a França, reforçada com os protestos de agricultores europeus.
O consultor Welber Barral lembra que o protecionismo europeu fica ainda mais evidente neste ano, com as eleições para o Parlamento Europeu em junho. “A agricultura europeia é altamente subsidiada, além disso, a população rural é um eleitorado importante, especialmente na França”, afirma Barral.
A diretora de Relações Internacionais da CNA diz que até as eleições, pouco ou nada irá avançar para finalizar o acordo Mercosul-União Europeia. “No ano passado, o acordo avançou bastante porque havia uma vontade política muito forte. Mas neste momento, não existe ambiente para qualquer negociação. Tudo vai depender da cara que o Parlamento Europeu terá depois de junho. Hoje, o perfil do parlamento é de ‘centro’ com uma pauta ambiental muito forte”, avalia Sueme.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Governo federal é recebido com coroas fúnebres e vaias na Expointer
2
Medida Provisória prevê R$ 12 bilhões para repactuação de dívidas de produtores
3
Trump corta tarifa da celulose; carne e café podem ser os próximos
4
Renegociação de dívidas rurais não está esgotada, diz Haddad
5
Acordo Mercosul-EFTA zera tarifas de 99% das vendas brasileiras ao bloco europeu
6
Seguro rural pode receber recursos do crédito agrícola

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Agropolítica
Governo destina R$ 37 milhões para combater a vassoura-de-bruxa da mandioca
Medida deve beneficiar indígenas e produtores rurais no Amapá; vassoura-de-bruxa da mandioca já é considerada uma emergência fitossanitária

Agropolítica
Conab promove leilões na quarta e na quinta-feira para compra de feijão
Serão ofertadas 16,2 mil toneladas de Pepro e outras 16,2 mil de PEP a produtores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná

Agropolítica
Governo cria comitê para programa de redução de agrotóxicos
Um dos objetivos do Pronara é promover a substituição dos defensivos químicos por biológicos

Agropolítica
Governo diz estar aberto a negociação sobre taxação das LCAs
Impostos sobre aplicações financeiras são “muito importantes” para cumprir orçamento de 2026, diz o ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Agropolítica
Renegociação de dívidas rurais não está esgotada, diz Haddad
Governo pode rever prazo de avaliação da efetividade da MP e apura reclamações sobre acesso ao Plano Safra
Agropolítica
RS: aula inaugural contra o agronegócio em Pelotas gera reação do setor
Federações e sindicatos divulgaram notas de repúdio; universidade reforçou compromisso com pluralidade
Agropolítica
FPA rebate e diz que não há acordo com relação a taxação de LCAs
Relator deve propor subida na alíquota de 5% para 7,5%; atualmente, investimento é isento
Agropolítica
Ministério da Agricultura cria Plano Nacional de Prevenção para traça-da-maçã
Plano prevê medidas preventivas e de contenção da doença, como educação fitossanitária, capacitação técnica e cadastro das áreas de produção