Agropolítica
Governo vai analisar preço dos alimentos e baixar alíquotas de importação; milho pode ser um deles
Aposta está em safra recorde para aumentar oferta de produtos e diminuir preços
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada às 15h55
24/01/2025 - 15:02

Após força tarefa, o governo começa a agir para diminuir o preço dos alimentos. A pedido do presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, as medidas a curto prazo devem começar pelas taxas de importação. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que uma das propostas já iniciadas é uma análise dos preços internacionais dos alimentos. Caso esses produtos estejam com valores maiores no mercado interno, o governo irá baixar as alíquotas de importação.
“A regra é: se tem produtos com preços mais caros no mercado interno, as alíquotas desses produtos serão reduzidas para trazer esses produtos pelo menos para o preço internacional. Essa é a política que nós vamos botar lupa para enxergar cada produto”, disse o ministro nesta sexta-feira, 24, a jornalistas. A fala aconteceu após uma reunião entre Lula, equipe técnica e os ministros da Fazenda, Casa Civil, Agricultura e Pecuária (Mapa) e Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Segundo Costa, a intenção com a medida é tornar os preços pelo menos no mesmo nível das comercializações internacionais. “Não justifica nós estarmos com um preço acima do patamar internacional. Não tem a menor explicação para isso já que o Brasil se constitui um dos maiores produtores de alimentos e grãos do mundo”, afirmou o chefe da Casa Civil.
Ao Agro Estadão, o ministro Paulo Teixeira disse que o governo vai estimular o aumento da produção e a comercialização de carnes e tentar controlar o câmbio para baratear o preço dos alimentos no Brasil. “Os alimentos que aumentaram o preço são commodities vinculadas à importação. Aumentou o preço da carne, do café, do açúcar. Os outros alimentos estão adequados. Tem uma boa produção de soja; vai aumentar a produção de arroz e de feijão”, ressaltou.
Fávaro indica que milho pode ser um dos produtos
Na justificativa dada pelos ministros, não houve um apontamento de quais produtos deverão ter essa alíquota reduzida. “Na medida que forem confirmando esses estudos, e isso será feito ainda esta semana, as medidas serão anunciadas ponto a ponto. Não queremos especular e nem antecipar antes de concretizar os estudos para que possam ser anunciados”, ponderou Costa.
No entanto, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, indicou que o milho pode ser um desses alimentos. Segundo Fávaro, se confirmada a diferença entre os mercados interno e externo, a alíquota será reduzida.
A gente precisa confirmar, [mas]o milho no mercado interno está um pouco mais alto, a princípio, do que no mercado internacional. A gente não quer fazer nenhum tipo de intervenção heterodoxa, mas se nós somos exportadores de alimentos, olha, não pode o nosso alimento estar mais caro aqui do que está lá fora. Então, nesse pontualmente, se confirmado, serão baixadas as alíquotas para que esse produto no mínimo ganhe a paridade internacional que é o que rege o mercado”, indicou o ministro.
Safra recorde é esperança do governo para baixar preços no longo prazo
Se as reduções de taxas de importação podem ser uma medida mais imediata, o governo aposta a longo prazo nas projeções de uma safra recorde. Durante a reunião, foram apresentados as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que prevê uma colheita de grãos 8,2% maior do que na safra passada. O ministro da Casa Civil chegou a citar os números projetados para o arroz — crescimento de 9,7%, contestado por agricultores no Rio Grande do Sul.
“A expectativa é extremamente positiva, de uma supersafra este ano”, pontuou Costa. “Nós teremos então um aumento da produção o que faz com que a estabilidade nos preços dos alimentos possa ser estabelecida”, complementou Fávaro.
Fávaro e o ministro do MDA, Paulo Teixeira, saíram com a incumbência de intensificar os estímulos na produção de produtos ligados à alimentação do dia a dia dos brasileiros. “O presidente pediu aos dois ministros, da Agricultura e do MDA, para que deem uma lente de aumento, um foco maior, uma atenção maior na hora da definição das políticas agrícolas já existentes, dos recursos já existentes, que são aplicados para estímulo da produção, que esses estímulos sejam mais concentrados nos produtos que fazem parte da cesta básica da população”, acrescentou.
O ministro da Agricultura disse ainda que o Plano Safra 2025/2026 já começou a ser discutido com foco na produção de alimentos. “É importante dizer que o presidente determinou que a gente já comece a discutir medidas de estímulo, um novo Plano Safra que estimule mais, principalmente, os produtos que chegam na mesa da população e é a partir disso que nós vamos nos debruçar e além disso levar mais tecnologia”, comentou Fávaro.
Além disso, o governo pretende abrir uma frente de conversas com diferentes agentes do mercado para escutar sugestões e buscar parcerias em futuras ações. Reuniões com frigoríficos estão na lista de medidas, mas os ministros não deram detalhes de como esses encontros devem acontecer e nem de que ações poderiam resultar das reuniões.
“Nós vamos dialogar com o mercado. Então, nós vamos chamar aqui reunião de produtores para dialogar com eles sugestões de como reduzir os preços, aumentar a produção. Vamos chamar mais uma vez a rede de supermercados. Vamos chamar os frigoríficos grandes para conversar, os frigoríficos pequenos e médios, dialogando, portanto, com o mercado, que é onde o preço se realiza, nas medidas que a gente pode se somar”, afirmou Costa.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Banco do Brasil diz que produtores em recuperação judicial não terão mais crédito; FPA reage
2
Senado quer ouvir Marina Silva sobre inclusão de tilápia como espécie invasora
3
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
4
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
5
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
6
Agronegócio é afetado pelo shutdown mais longo da história dos EUA
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Setor produtivo cobra reformulação urgente do crédito rural e alerta para colapso no RS
Lideranças do agro denunciam endividamento histórico, falhas no seguro rural e impactos nas famílias rurais
Agropolítica
STF avança em julgamento sobre incentivos tributários a defensivos agrícolas
Resultado está em aberto à espera dos votos de Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes; sessão continua semana que vem
Agropolítica
Decisão do STF sobre o Renovabio garante segurança jurídica, diz CNA
Para o setor, julgamento elimina riscos e reforça a previsibilidade para a transição energética
Agropolítica
Conferência expõe divergências entre setor do tabaco e órgãos do governo
Setor produtivo teme mudanças regulatórias, crescimento do mercado ilegal e impacto na cadeia que gera US$ 2,89 bilhões em exportações
Agropolítica
Governo anuncia 10 novas demarcações de terras indígenas
A meta do Brasil é regularizar e proteger 63 milhões de hectares de terras indígenas e quilombolas até 2030
Agropolítica
Para Alckmin, acordo Mercosul-UE será o maior do mundo e fortalecerá multilateralismo
Vice-presidente, que cumpre agenda na COP 30, voltou a mostrar confiança na assinatura do texto final do acordo entre os dois blocos
Agropolítica
Manutenção de tarifa dos EUA para a uva deixa produtores apreensivos
Confira a lista de frutas mencionadas no documento publicado pelo governo dos EUA que retirou as tarifas recíprocas de 10%
Agropolítica
UE oficializa volta do pré-listing para a compra de aves e ovos do Brasil
Decisão oficial do bloco europeu restabelece mecanismo suspenso desde 2018 e fortalece previsibilidade para novas habilitações de plantas brasileiras