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Crise do arroz: governo já cogita suspender leilão e afastar envolvidos por suspeitas de fraude 

Ministros avaliam como resolver crise após determinação de Lula; ex-assessor de Neri Geller e corretor no leilão de arroz confirma sociedade com filho do secretário 

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Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

10/06/2024 - 17:52

Ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do MDA, Paulo Teixeira e presidente da Conab, Edegar Pretto. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do MDA, Paulo Teixeira e presidente da Conab, Edegar Pretto. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Os ministros da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro; do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira; e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto estão discutindo como resolver a crise criada pelo leilão de arroz. 

Nesta tarde, os três se encontraram em reuniões internas e fora das agendas divulgadas. O motivo é simples: as suspeitas de irregularidades no leilão chegaram aos ouvidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que determinou o afastamento dos responsáveis, conforme adiantou a Coluna do Estadão.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi procurado pelo Agro Estadão, mas não respondeu. Nesta segunda-feira, 10, ele tinha uma agenda marcada em Brasília, para participar da 4ª Edição do Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento (ABRAS), mas não compareceu. 

Já o presidente da Conab, Edegar Pretto, manteve os compromissos normais, com reuniões internas e um encontro com o ministro Paulo Teixeira, de acordo com a agenda oficial. Nos bastidores políticos de Brasília, a possibilidade de suspensão do leilão já existe.

Entenda por que o leilão de arroz está sob suspeita e qual o envolvimento de Neri Geller

A decisão de promover o leilão de importação de arroz aconteceu depois de uma análise técnica feita pelo diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto (veja a nota abaixo). O documento foi aprovado pelo secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller. 

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É esse o fluxo para qualquer leilão, explicam fontes envolvidas no processo consultadas pelo Agro Estadão. Com o aval, o diretor de Operações e Abastecimento (DIRAB) da companhia, Thiago dos Santos, realizou a operação.

O nome de Neri Geller retoma as atenções porque o presidente da Bolsa e corretor responsável por arrematar nove dos 15 lotes negociados no leilão de arroz da Conab é seu ex-assessor parlamentar. Robson Luiz Almeida França estreou no ramo de Bolsas de Mercadorias em maio de 2023, quando criou a BMT – Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso e se cadastrou na Conab . No mesmo período, abriu a Foco Corretora.

As duas empresas foram grandes destaques no leilão e arremataram mais de 90 mil toneladas de arroz (93.684). O volume é referente aos lances de três empresas: Zafira Tranding, Icefruit e ASR e, por ele, o governo deverá pagar cerca de R$ 468 milhões. Entre 0,5% e 1% desse valor ficam com as bolsas e as corretoras responsáveis pela operação.

Neri Geller e Favaro
O secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, ao lado do Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, durante audiência publica na comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, em maio. Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Ex-assessor nega favorecimento em leilão de arroz

O empresário diz que já participou de outros leilões da Conab, mas é a primeira vez que os lances são vencedores. Por telefone, o Agro Estadão questionou se a relação dele com Neri Geller teria facilitado o sucesso do leilão. 

“Jamais, de forma alguma. Eu trabalhei com o Neri em 2018 ou 2019, se não me falha a memória. De lá pra cá eu fui tocar a minha vida”, explicou. “ A Bolsa é credenciada através de edital junto à Conab e eu, como corretor, opero a corretagem”, completou.

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Segundo França, ele e Geller não mantêm nenhum contato mais próximo atualmente. “Como advogado já prestei algumas consultorias para ele, mas nada voltado a situações do ministério ou da Conab”, afirmou. Geller já havia dito ao Agro Estadão que nem sabia que o ex-assessor estava participando do leilão. 

Robson já foi sócio do filho de Geller

Mesmo com uma relação não tão próxima com o secretário de Política Agrícola do Mapa, como diz ter, Robson França abriu uma empresa em sociedade com o filho de Geller, Marcelo. Em 2023, eles criaram a G F Business Ltda para intermediar e agenciar negócios e serviços em geral. 

O secretário Neri Geller disse ao Agro Estadão que o filho “chegou a mexer com Bolsa”, mas negou que ele fosse sócio do ex-assessor. Só que a sociedade foi confirmada por França. “Nós nunca atuamos, não emitimos nenhuma nota fiscal”, explicou, por telefone ao Agro Estadão. 

Na Receita Federal, a empresa que leva as iniciais dos sobrenomes de Marcelo (Geller) e Robson (França) tem outro sócio-administrador. O Agro Estadão procurou Marcelo, que não respondeu às mensagens.

Diretor da Conab também foi assessor do secretário de Política Agrícola do Mapa

Outro nome que está ligado a Geller é o do diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos. O agora executivo foi assessor parlamentar de Geller e colega de França. E indicação do próprio Geller para assumir a Dirab (Conab). Nas redes sociais, os dois já apareceram juntos em uma foto publicada em abril de 2023. “Um encontro de milhões”, dizia a legenda.

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print das redes sociais
Thiago dos Santos e Robson França aparecem em foto com outro ex-assessor de Neri Geller. Crédito: Redes Sociais

O diretor da Conab nega que as relações exerçam alguma influência sobre o resultado do leilão e justifica o pouco número de empresas participantes pelo “baixo preço do arroz e as questões judiciais”, ou seja, as tentativas de suspensão do processo. 

França também negou qualquer favorecimento. “Como presidente de Bolsa e como corretor, eu trabalho para os meus clientes. Não tem correlação nenhuma junto com Neri ou com Thiago”, destacou.

Já sobre as empresas que venceram o leilão, com atuação fora do setor, França diz que todas estavam aptas a participar. “O edital deixa bem claro (…) existem atividades secundárias que as empresas têm que não impedem a participação”, explicou. 

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