Agropolítica
Comércio do Brasil subirá 5 vezes com acordo Mercosul-UE, dizem empresários a G20
79 entidades da União Europeia e do Mercosul assinaram uma declaração a favor das negociações
Broadcast Agro
18/11/2024 - 14:54

Rio, 18 – Aproveitando a presença dos líderes do grupo das 20 maiores economias do mundo (G20) ao Rio de Janeiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a BusinessEurope assinaram uma carta conjunta com o pedido do fechamento do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE). De acordo com o documento, o tratado que vem sendo costurado há mais de duas décadas aumentaria em quase cinco vezes a integração do Brasil ao mercado global.
Pelos cálculos da CNI, os parceiros com quem o País tem acordos atualmente permitem acesso preferencial (com taxa menor, por exemplo) a cerca de 8% das importações mundiais de bens. Com um consenso sobre o tema com o bloco do Norte, esse porcentual subiria para 37% – levando em conta que a UE conta com uma fatia de 29% das vendas para o mercado doméstico – e abre mais oportunidades de negócios em novos mercados. Para a entidade, a “tímida integração global desfavorece o Brasil”.
Considerando a relevância e urgência da conclusão do acordo, 79 entidades da União Europeia e do Mercosul assinaram uma declaração a favor do avanço nas negociações. “Instamos a que priorizem a rápida conclusão das negociações do Acordo de Livre Comércio UE-Mercosul, um passo fundamental para preservar nossa competitividade conjunta”, trouxe o documento endereçado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a quatro ministros.
As tratativas, no entanto, voltaram a ficar na berlinda depois que o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, disse na semana passada que seu país não aceitará a assinatura do acordo que está sendo negociado se o texto atual não for mudado. “Recomendo que a posição de um país como a França não seja ignorada”, declarou.
Dias antes, ao falar sobre os preparativos para a cúpula do G20 em Brasília, o embaixador Mauricio Lyrio afastou a possibilidade de um consenso durante o evento do Rio, acrescentando que este não é o fórum adequado para as discussões, mas reforçou que o objetivo do governo brasileiro continua sendo buscar concluir as negociações até o fim do ano.
O documento das empresas foi entregue esta semana aos governos brasileiros e argentinos, às autoridades do Uruguai, que preside temporariamente o Mercosul, e ao parlamento europeu. Na carta, as entidades ressaltam que este é o momento para concluir e ratificar o acordo Mercosul-UE, argumentando que o tratado apoiará a resiliência da indústria e fortalecerá as cadeias de abastecimento, abrindo novos mercados para as empresas e proporcionando uma oferta estável de insumos.
“Em tempos marcados por turbulência geopolítica e inúmeras crises, as interrupções nas cadeias de abastecimento e as pressões sobre as indústrias se tornam cada vez mais frequentes. O aprofundamento de nossas relações comerciais é fundamental para assegurar a resiliência de nossas economias. O acordo UE-Mercosul nos permite avançar em nosso compromisso com um comércio livre, justo e sustentável”, traz um trecho do documento.
As expectativas da indústria doméstica para a economia brasileira são grandes. De acordo com a CNI, a cada R$ 1 bilhão exportado para a UE no ano passado proporcionou a criação de 21,7 mil empregos, R$ 441,3 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção. A entidade comparou o resultado ao das vendas nacionais à China, principal parceiro comercial do Brasil, que criaram 15,7 mil empregos, R$ 315,2 milhões em massa salarial e R$ 2,7 bilhões em produção por bilhão de reais exportados no mesmo período.
Leia abaixo a íntegra da carta, que foi enviada em português e em inglês:
Excelentíssimos Senhores,
Estamos escrevendo a Vossas Excelências em nome de 79 associações empresariais da UE e do Mercosul, representando uma ampla gama de indústrias e outros negócios. Juntos, nossos membros cobrem uma parte significativa do comércio total de bens e serviços, que ultrapassou 590 bilhões de reais em 2023 entre a UE e a região do Mercosul. A importância de nossa parceria econômica é ainda mais destacada pelos níveis significativos de investimentos mútuos em nossas duas regiões (aproximadamente 2,05 trilhões de reais).
Esses fluxos de comércio e investimento são cruciais para a manutenção de milhões de empregos em ambos os lados, contribuindo de forma significativa para a nossa força econômica. Portanto, instamos a que priorizem a rápida conclusão das negociações do Acordo de Livre Comércio UE-Mercosul, um passo fundamental para preservar nossa competitividade conjunta.
Em tempos marcados por turbulência geopolítica e inúmeras crises, as interrupções nas cadeias de abastecimento e as pressões sobre as indústrias se tornam cada vez mais frequentes. O aprofundamento de nossas relações comerciais já bem estabelecidas entre a UE e o Mercosul é crítico para assegurar a resiliência de nossas economias. O acordo UE-Mercosul é impulsionado por premissas modernas e promete abrir caminho para avanços em áreas-chave que são vitais para nossa parceria e prosperidade mútua. Ele nos permite avançar em nosso compromisso com um comércio livre, justo e sustentável.
O acordo trará acesso a mercados, diversificará cadeias de abastecimento, fomentará investimentos e nos ajudará a aprofundar a cooperação no desenvolvimento sustentável em áreas como mudanças climáticas, preservação florestal e direitos sociais e laborais com padrões elevados.
Acreditamos que o momento atual apresenta uma janela de oportunidade crucial para concluir e ratificar um acordo entre parceiros estratégicos que cobrirá um quinto da economia global e contribuirá para o crescimento econômico e a criação de empregos, beneficiando 750 milhões de pessoas em nossas duas regiões. Estamos convencidos de que os líderes de ambos os lados devem buscar um compromisso para garantir que essa oportunidade seja aproveitada. O acordo UE-Mercosul apoiará a resiliência de nossas indústrias, fortalecendo as cadeias de abastecimento, abrindo novos mercados para nossas empresas e garantindo uma oferta estável de insumos.
Portanto, instamos a que tomem todas as medidas necessárias para concluir definitivamente as negociações, proporcionando assim um impulso positivo para a recuperação econômica e o desenvolvimento, tão necessários em ambos os lados do Atlântico.”
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Banco do Brasil diz que produtores em recuperação judicial não terão mais crédito; FPA reage
2
Senado quer ouvir Marina Silva sobre inclusão de tilápia como espécie invasora
3
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
4
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
5
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
6
Agronegócio é afetado pelo shutdown mais longo da história dos EUA
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Setor produtivo cobra reformulação urgente do crédito rural e alerta para colapso no RS
Lideranças do agro denunciam endividamento histórico, falhas no seguro rural e impactos nas famílias rurais
Agropolítica
STF avança em julgamento sobre incentivos tributários a defensivos agrícolas
Resultado está em aberto à espera dos votos de Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes; sessão continua semana que vem
Agropolítica
Decisão do STF sobre o Renovabio garante segurança jurídica, diz CNA
Para o setor, julgamento elimina riscos e reforça a previsibilidade para a transição energética
Agropolítica
Conferência expõe divergências entre setor do tabaco e órgãos do governo
Setor produtivo teme mudanças regulatórias, crescimento do mercado ilegal e impacto na cadeia que gera US$ 2,89 bilhões em exportações
Agropolítica
Governo anuncia 10 novas demarcações de terras indígenas
A meta do Brasil é regularizar e proteger 63 milhões de hectares de terras indígenas e quilombolas até 2030
Agropolítica
Para Alckmin, acordo Mercosul-UE será o maior do mundo e fortalecerá multilateralismo
Vice-presidente, que cumpre agenda na COP 30, voltou a mostrar confiança na assinatura do texto final do acordo entre os dois blocos
Agropolítica
Manutenção de tarifa dos EUA para a uva deixa produtores apreensivos
Confira a lista de frutas mencionadas no documento publicado pelo governo dos EUA que retirou as tarifas recíprocas de 10%
Agropolítica
UE oficializa volta do pré-listing para a compra de aves e ovos do Brasil
Decisão oficial do bloco europeu restabelece mecanismo suspenso desde 2018 e fortalece previsibilidade para novas habilitações de plantas brasileiras