Agricultura
Vinhedos do interior paulista se recuperam de surto da podridão da uva
Propriedades que seguiram as recomendações tiveram 95% de recuperação; estudos vão embasar protocolo contra a doença
Redação Agro Estadão
16/09/2025 - 10:33

Uma ação conjunta liderada pela Embrapa reduziu em até 95% a infestação da podridão da uva madura em propriedades do Circuito das Frutas, no interior paulista. A doença, causada pelo fungo Glomerella cingulata, havia provocado perdas de até 100% em 2024, levando produtores de Jundiaí, Louveira, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Indaiatuba e Elias Fausto ao risco de abandono da atividade.
O Plano Emergencial de Controle à Podridão Madura da Uva, desenvolvido pela estatal, foi aplicado em 13 propriedades. As que seguiram integralmente as recomendações técnicas — incluindo uso correto de fungicidas, eliminação de restos culturais e regulagem de pulverizadores — registraram recuperação próxima da totalidade da produção, 95%. Nas demais, a redução da doença chegou a 70%.
A doença, que ataca principalmente a uva Niágara rosada e branca, provoca o apodrecimento e a queda das bagas maduras, tornando a colheita comercialmente inviável. Em safras anteriores, alguns produtores, como forma de evitar prejuízos maiores, chegaram a antecipar a colheita, vendendo uvas ainda verdes, comprometendo a qualidade e o valor de mercado.
Os impactos nas vitiviniculturas da região ameaçavam prejudicar, inclusive, eventos tradicionais, como a Festa da Uva, que ocorre anualmente em Jundiaí.
Segundo o pesquisador Lucas Garrido, da Embrapa Uva e Vinho, o surto foi favorecido por temperaturas altas, umidade e restos de cultura contaminados. Parte dos prejuízos decorreu de falhas de manejo. “Em alguns casos, o produto certo estava na propriedade, mas não foi utilizado. Ou foi aplicado de forma errada. Isso precisa mudar”, afirmou Rafael Mingoti, analista da Embrapa Territorial e um dos coordenadores da ação.
Além do controle imediato, a pesquisa identificou diferentes espécies do fungo Colletotrichum (forma assexuada da Glomerella) na região, o que pode influenciar a resposta aos tratamentos. “Ainda não é possível afirmar se há resistência a algum fungicida, mas a possível presença de múltiplas espécies reforça a importância de conhecer bem as causas do problema antes de enfrentá-lo”, disse Mingoti em nota.
O impacto também foi social. Sérgio Mesquita Pompermaier, diretor do Departamento de Agronegócio da Prefeitura de Jundiaí, afirmou que a redução da doença traz alívio. “A doença ainda persiste em alguns parreirais, mas com incidência bem menor. É claro que ela continua preocupando, por isso mantemos atenção constante. Ainda assim, acreditamos que não haverá impacto negativo na atividade turística.”
Entre os beneficiados está o produtor Atalívio Rufino, de Elias Fausto, que em 2024 perdeu quase toda a safra e dispensou empregados. Neste ano, após seguir o manejo indicado, recuperou o vinhedo. “Antes, retirávamos os galhos e os cachos que apodreciam, mas sem tanto zelo. Agora, estamos retirando, queimando ou descartando longe. Também fizemos mudanças na pulverização. Regularizamos o equipamento e aumentamos o volume de cauda”, contou à Embrapa.

Os cientistas da Embrapa ressaltam que o protocolo pode variar entre diferentes cidades, e, às vezes, até entre propriedades. No entanto, algumas práticas em comum podem ser adotadas para alcançar melhores resultados no controle. Veja algumas delas:
- Eliminação dos restos culturais infectados após a colheita;
- Aplicações no inverno, ainda durante a dormência, para redução do patógeno;
- Uso de fungicidas eficazes, aplicados em estágios estratégicos (floração, grão-ervilha, pré-fechamento do cacho, início da maturação);
- Alternância de produtos sistêmicos e de contato;
- Reaplicação de produtos biológicos após chuvas;
- Utilização de produtos biológicos e óleos essenciais, principalmente na fase final da maturação, para reduzir risco de resíduos;
- Ajuste e regulagem dos pulverizadores.
Segundo a estatal, os resultados vão embasar um protocolo consolidado de manejo integrado da doença, que será divulgado ainda neste mês.
*Com informações da Embrapa.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agricultura
1
Oiti: uma joia de sombra e sabor
2
Fruto do céu une sabor intenso e saúde, conhece?
3
Conheça o repolho que pode enfeitar buquês e casamentos
4
Você sabia que existe uma onça dos rios?
5
Você sabia que pindaíba é uma fruta? Veja a origem do ditado popular
6
Fenômeno raro no Rio: palmeiras gigantes que florescem e depois morrem
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agricultura
Moratória da Soja: Aprosoja contesta prorrogação de suspensão de lei de MT
Associações afirmam que prorrogação do artigo que atinge empresas da Moratória da Soja reabriria decisão já tomada pelo STF
Agricultura
Resíduos de agrotóxicos fora do permitido em alimentos atingem menor nível desde 2017
Estudo da Anvisa com dados coletados em 2024 também demostrou tendência de redução do potencial de risco no consumo
Agricultura
Sementes de soja piratas podem causar perdas de R$ 8 bilhões ao País
Estimativa indica que 27% da área da safra 25/26 será cultivada com sementes não certificadas
Agricultura
Centro-Sul processa menos cana na 2ª quinzena de novembro em relação à safra anterior
Volume é 21,08% inferior ao registrado em igual período da temporada 2024/25; produção de açúcar e de etanol hidratado também recuou
Agricultura
Conab: plantio de soja 2025/26 atinge 94,1% da área; de algodão, 10,1%
No caso da soja, há atraso de 2,7 pontos percentuais na comparação com igual período da safra passada, segundo a companhia
Agricultura
Epamig lança cultivar de café mais resistente a doenças e à seca
Resultado de 40 anos de melhoramento, MGS Epamig Amarelão tem sido premiada pela qualidade da bebida
Agricultura
Produtor de soja em MT usa mais capital próprio diante do crédito mais caro
Segundo o Imea, recursos próprios no custeio da soja em MT sobem para 23,5%; movimento reflete reação aos juros altos, avalia a Markestrat.
Agricultura
Hedgepoint: safra de café 2026/27 deve chegar a 74,4 milhões de sacas
Hedgepoint estima colheita entre 71 e 74,4 mi de sacas, com recuperação do arábica e queda no conilon