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Nova cultivar de feijão é estratégica contra mudanças climáticas
Desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), a Guandu BRS Guatã é tolerante à seca e combate nematoides

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
18/04/2025 - 08:00

A Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), anunciou uma cultivar de feijão que está sendo considerada estratégica para adaptação às mudanças climáticas. A Guandu BRS Guatã, que pode ser usada como cultura de rotação, é tolerante a períodos secos e tem se mostrado eficiente para combater, de forma natural, cinco tipos de nematoides — que provocam prejuízos anuais bilionários aos agricultores.
O lançamento oficial ocorreu no final de março, durante a Dinâmica Agropecuária — Dinapec 2025, evento realizado em Campo Grande (MS). Esta é a segunda cultivar lançada pelo programa de melhoramento genético da Embrapa Pecuária Sudeste, com uma diferença: a primeira, Guandu BRS Mandarim, que surgiu em 2009, tinha finalidade unicamente forrageira.
O programa foi criado na década de 1980. O coordenador Frederico de Pina Matta, engenheiro agrônomo e especialista em genética e melhoramento de plantas, explica que a nova cultivar tem um sistema radicular profundo. Sua raiz consegue penetrar em camadas compactadas do solo, ajudando a promover uma biodescompactação e a consequente formação de bolsões de água para garantir o desenvolvimento da cultura.
Por isso, ela se adapta bem a climas secos. “O plantio é feito no final da época de chuvas. E, quando chega o inverno, começa a florescer”, afirma Matta. Além de possibilitar a recuperação de pastagens degradadas, disponibilizando alimento para o gado em um período que costuma ser de escassez, pode ser usada para renovar o solo.
O porte intermediário e os caules finos e flexíveis facilitam os tratos culturais. De acordo com o pesquisador, a cultivar, que demonstra um melhor potencial para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, chegou a produzir três toneladas de massa seca por hectare em sequeiro, volume estatisticamente igual ao de condições irrigadas.
Contra nematoides
A adoção da Guandu BRS Guatã como cultura de rotação se mostrou eficaz não apenas por se tratar de uma leguminosa, que melhora as condições do solo ao fixar nitrogênio, mas por combater cinco tipos de nematoides comuns em culturas principais, como soja, milho, cana-de-açúcar e algodão.

Matta conta que a equipe envolvida no projeto, composta também por pesquisadores da Embrapa Gado de Corte e da Embrapa Cerrados, como entomologistas e fotopatologistas, identificou os tipos de feijão-guandu que apresentam resistência natural a nematoides. A partir daí, o trabalho consistiu em reunir as propriedades delas em uma única cultivar.
Inicialmente, o estudo focou em quatro tipos de nematoides: Pratylenchus zeae, Pratylenchus brachyurus, Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita. Testes posteriores demonstraram ação efetiva também para o Heterodera glycines, raças 2 e 3, que causam grandes danos principalmente à soja. Segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), as perdas com nematoides no país são da ordem de R$ 35 bilhões por ano.
“Quando o nematoide encontra condições apropriadas, ele vai provocando danos à cultura principal. Quando essa cultura principal é retirada, é recomendado entrar com uma cultura de controle, o que traz uma série de benefícios, como evitar erosão, já que o solo não fica descoberto. Se o controle for essa cultivar de guandu, as pesquisas demonstraram que ela reduz a infestação de nematoides, uma maneira ecológica de combate, evitando a necessidade de defensivos químicos”, afirma Matta. O agrônomo alerta, porém, que a cultivar precisa estar sozinha no solo. “Se houver diferentes sistemas radiculares, afeta a microbiota”.
Os pesquisadores ainda não sabem a quais genes se devem a resistência natural contra os nematoides, mas isso será tema para uma nova etapa do projeto. A identificação deles poderá permitir, pela técnica de edição genética, desenvolver essa propriedade em outras culturas agrícolas.
A cultivar está disponível no mercado para produtores associados à Unipasto, associação voltada para o fomento à pesquisa de melhoramento de forrageiras que reúne 31 empresas e produtores de sementes nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, além de São Paulo, e que mantém convênio com a Embrapa.
Para Matta, a parceria com a associação é uma forma de manter a instituição próxima das demandas do setor produtivo. “Queremos estar sempre perto dos produtores, ouvindo as necessidades deles. E saber que estamos contribuindo para ajudar a recuperar prejuízos com um material natural, dá um agrado muito grande”, conclui o pesquisador.

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