Tudo sobre AgroSP
Nanotecnologia e redução de perdas de nitrogênio prometem maior qualidade ao solo
Soluções inovadoras melhoram a absorção de água e o aproveitamento de nutrientes

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
28/02/2025 - 08:00

Duas universidades estaduais paulistas anunciaram, nesta semana, o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para melhorar o aproveitamento de água e nutrientes por culturas agrícolas.
Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Sorocaba, pesquisadores do Instituto Nacional de Nanotecnologia para a Agricultura (INCT NanoAgro) adicionaram dois tipos de materiais aos termoplásticos biodegradáveis – usados para cobrir áreas de plantio – e conseguiram, além de melhorar as propriedades do solo, aumentar a sustentabilidade agrícola. Já na USP, foi obtido um fertilizante que diminui as perdas de nitrogênio e aumenta a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Pós-doutorandas na Unesp, Jéssica de Souza Rodrigues e Amanda de Sousa Martinez de Freitas explicam que o estudo vai permitir aprimorar a técnica do mulching – cobertura de solo, na tradução literal –, que se popularizou entre produtores rurais a partir da década de 1950. Trata-se do uso de filmes plásticos para cobrir áreas de plantio, principalmente de frutas e hortaliças, o que permite reter umidade, proteger as sementes, conter o avanço de ervas daninhas e manter o solo com temperatura estável.
Até os anos 1990, o tipo de plástico utilizado era o polietileno, derivado do petróleo. Na época, cientistas norte-americanos, preocupados com os efeitos do produto no meio ambiente, desenvolveram termoplásticos biodegradáveis, formulados a partir de substâncias capazes de serem absorvidas facilmente pelo solo.
Entre elas, está o amido termoplástico, derivado do amido natural modificado e que se torna flexível e moldável quando submetido a calor e pressão, podendo ser aplicado de maneira semelhante aos plásticos convencionais. Ele permite também, em sua composição, o acréscimo de condicionadores de solo, para otimizar propriedades físicas, químicas e biológicas das áreas de cultivo.
“Os condicionadores de solo são cruciais para promover o crescimento das plantas, melhorar a saúde do solo e reduzir a necessidade de fertilizantes químicos. Nesse cenário, a nanotecnologia tem ganhado força, mostrando resultados promissores e sugerindo que materiais em nanoescala podem ser agentes eficazes no processo de condicionamento”, afirma Leonardo Fernandes Fraceto, coordenador do INCT NanoAgro – grupo que integra, além de pesquisadores da Unesp, representantes de outras instituições de pesquisa.
A partir desses conceitos, os envolvidos no estudo adicionaram, ao termoplástico, nanoargila e nanolignina, e identificaram, entre outros fatores, aumento da estabilidade térmica do composto e da resistência à fotodegradação, possibilitando retenção de mais água no solo, liberação mais controlada e absorção mais eficiente de nitrogênio, fósforo e potássio pelas plantas, e redução da lixiviação de íons – retirada de nutrientes do solo.
Além dos testes em laboratório, em casas de vegetação – ambientes cobertos e controlados de cultivo -, os pesquisadores testaram a nanoargila e a nanolignina em termoplásticos usados em plantações de tomate cereja e comprovaram um melhor desenvolvimento das mudas. A pesquisa foi publicada na Elsevier, uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo.
“Essa estratégia de associar o termoplástico a nanopartículas é inédito. Agora, o objetivo é ampliar a validação em campo, em condições reais de produção”, afirma Jéssica. “Isso já permitiria conversarmos com possíveis empresas interessadas em fazer o licenciamento da tecnologia”, complementa Amanda.

Eficiência aumentada
Já na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), pesquisadores desenvolveram o Fertilizante Nitrogenado Multinutriente de Eficiência Aumentada, que também visa reduzir a perda de nutrientes do solo e, com isso, aumentar o rendimento das lavouras.
O produto é resultado de uma parceria entre o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e envolveu estudantes de doutorado e pós-doutorado.
Segundo o doutorando Bruno Cassim, um dos responsáveis pela patente, o crescimento da produção agrícola nos últimos anos tem sido possibilitado pelos fertilizantes nitrogenados. A ureia é a mais usada. Acontece que, quando é aplicada sobre a superfície do solo, a substância pode ser quebrada por uma enzima e perdida por volatilização de amônia. ‘Isso causa prejuízos econômicos aos agricultores e contaminação de ecossistemas aquáticos e terrestres”, afirma Cassim.
Diante disso, o que os pesquisadores fizeram foi combinar a ureia com micronutrientes e com um estabilizador, o NBPT, o que reduziu as perdas de nitrogênio e otimizou o aproveitamento do fertilizante, ganhando em produtividade. “Conseguimos diminuir as emissões gasosas de nitrogênio e aumentar a disponibilidade para as plantas”, complementa Cassim.
O fertilizante foi testado em laboratório e no campo, e animou os participantes do estudo. Cassim afirma, porém, que, antes de disponibilizá-lo no mercado, eles querem entender, com mais profundidade, as interações físico-químicas entre o estabilizador e os micronutrientes.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Tudo sobre AgroSP
1
Plantio comercial da macaúba é incentivado em São Paulo
2
Produtores cobram medidas para conter ataques de javalis em SP
3
Nanotecnologia e redução de perdas de nitrogênio prometem maior qualidade ao solo
4
CONTEÚDO PATROCINADO
Senar-SP oferece cursos para trabalhadores rurais
5
Abelhas produzindo carne: projeto em SP mostra como é possível
6
Caminho do Queijo Artesanal Paulista inclui produtos maturados em cavernas

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Tudo sobre AgroSP
Empresa paulista cria espumante com mel de abelhas nativas
Novidades relacionadas aos fermentados de mel incluem, ainda, uma bebida probiótica, pesquisada pela USP

Tudo sobre AgroSP
Embrapa quer padronizar análises de condições de pastagens
Mais de 70 especialistas estudam critérios que definam o que são pastagens degradadas nas diferentes regiões brasileiras

Tudo sobre AgroSP
Com mais da metade da produção nacional, setor paulista da borracha busca certificação
Cadeia produtiva acredita que atendimento às normas internacionais pode alavancar participação no mercado

Tudo sobre AgroSP
Caminho do Queijo Artesanal Paulista inclui produtos maturados em cavernas
Novos ingredientes, manejos e formas de produzir fazem o diferencial dos queijos artesanais de SP
Tudo sobre AgroSP
SP terá maior planta do mundo a produzir biogás a partir de efluente de citros
Projeto da Louis Dreyfus Company é inédito no Brasil e será instalado em Bebedouro
Tudo sobre AgroSP
São Paulo investiga vírus letal em peixes e desenvolve vacina
Pesquisadores se dedicam a entender e combater o ISKNV, que vem preocupando criadores
Tudo sobre AgroSP
Abelhas produzindo carne: projeto em SP mostra como é possível
Botânico começou um negócio focado em mel, mas descobriu que seria mais produtivo em associação com a piscicultura e a pecuária bovina
CONTEÚDO PATROCINADO
Senar-SP oferece cursos para trabalhadores rurais
Aumentar a renda das propriedades e fixar a população no campo são objetivos dos mais de 400 títulos disponibilizados gratuitamente pela instituição