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Álcool com odor de rosas vira pesticida natural que preserva anfíbios

Nanopartícula com geraniol evita que sapos e rãs sofram efeitos dos defensivos químicos que chegam aos cursos d’água

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

09/06/2025 - 13:30

Nanotecnologia foi usada em pesticida capaz de proteger a saúde de anfíbios. Foto: INCT Nano Agro/Divulgação
Nanotecnologia foi usada em pesticida capaz de proteger a saúde de anfíbios. Foto: INCT Nano Agro/Divulgação

Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para a Agricultura Sustentável (INCT Nano Agro) usaram um componente de óleos essenciais para criar um pesticida capaz de preservar a saúde de anfíbios. A partícula do produto, desenvolvida a partir da nanotecnologia, utiliza o geraniol, um álcool com coloração amarelada e odor de rosas encontrado naturalmente em vários tipos de óleos essenciais, como o das próprias rosas, de gerânios e de limões, e muito usado pela indústria de fragrâncias e perfumes. Os experimentos demonstraram que ele não causa danos a sapos e rãs caso atinja a água onde esses animais vivem. 

Levantamentos recentes, como a pesquisa de mestrado de Guilherme Henrique Carrasco, defendida em 2019 no Instituto Federal Goiano, apontam que os anfíbios têm sofrido um declínio de suas populações no mundo todo, devido a fatores como alterações climáticas, alterações de paisagens e pesticidas. 

Um relato anterior, citado no artigo científico “Medindo o colapso: fatores que causam a extinção e o declínio global dos anfíbios”, publicado na revista internacional Plos One em 2008, revela que mais de um terço das espécies de anfíbios está ameaçada de extinção.

Uma das situações de risco acontece quando os pesticidas contaminam os cursos d’água e chegam aos organismos de sapos e rãs. Em ecossistemas locais, a exposição crônica a misturas de agrotóxicos em ambientes agrícolas pode resultar em diminuição populacional de até 70%, especialmente em fases larvais (girinos). A ausência desses anfíbios prejudica a própria atividade agropecuária, já que eles são importantes controladores de populações de insetos que podem destruir plantações. 

Pensando nisso, cientistas do INCT, que está sediado no campus de Sorocaba (SP) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), investigam, há seis anos, os efeitos do geraniol, tanto nas lavouras, como pesticida natural, quanto para diminuir os níveis de toxicidade para os anfíbios. Eles partiram de estudos e aplicações já existentes na Europa, onde o geraniol é bastante adotado como fungicida. 

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anfíbios
Pesquisadores trabalham há seis anos com geraniol retirado de rosas, gerânios e limões. Foto: INCT Nano Agro/Divulgação

Há três anos, o geraniol passou a ser testado em laboratório, diretamente em girinos, que foram divididos em três ambientes. Um continha apenas água, outro recebeu geraniol sem encapsular e, no terceiro, foi colocado o geraniol nanoencapsulado em uma estrutura de zeína, proteína presente em grãos de milho. As análises evidenciaram que concentrações encapsuladas relevantes para fazer o combate a pragas em lavouras não prejudicam os anfíbios, ajudando a preservar as espécies. 

“O geraniol é uma molécula natural com propriedades importantes. Começamos a nos perguntar: e se a gente consegue associá-lo com nanotecnologia para testá-lo como um sistema eficiente para controle de pragas? Não estamos dizendo que o sistema convencional é errado, mas queremos buscar alternativas que sejam menos impactantes, que aliem controle de pragas com sustentabilidade”, explica Claudia Bueno dos Reis Martinez, docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pesquisadora do INCT NanoAgro. 

Avanço

Além de Claudia, o projeto que avalia o uso do geraniol tem a participação de Willian de Paula Santos, Caroline Santos, Letícia Paduan Tavares, Jhones Luís de Oliveira e Leonardo Fernandes Fraceto – o coordenador do instituto. 

Segundo Fraceto, a pesquisa é uma das poucas do Brasil a observar os efeitos de produtos alternativos aos pesticidas químicos em anfíbios e um exemplo de que a ciência deve avançar no sentido de entender os mecanismos moleculares envolvidos na ação de substâncias naturais e no papel da nanotecnologia para potencializar a eficiência e seletividade dos compostos.  

Ele afirma que as descobertas da pesquisa incentivam a continuidade do projeto. “Queremos ir além, avaliando, por exemplo, quais são os efeitos na prole dos anfíbios caso os pais sejam expostos aos compostos pesquisados, ou seja, fazer um trabalho transgeracional”, declara o coordenador do instituto. “Essa é uma linha de pesquisa fundamental para o futuro da agricultura. Precisamos cada vez mais de soluções que respeitem o meio ambiente, e os compostos naturais, quando bem utilizados, oferecem um campo vasto de possibilidades”, complementa Claudia. 

Os testes têm sido feitos, também, em peixes e abelhas. E se estendem, ainda, para outras substâncias, como o eugenol, composto fenólico também encontrado em óleos essenciais, como de cravo, canela, noz-moscada, gengibre e cúrcuma, e cujos efeitos estão sendo avaliados, principalmente, na fase embrionária de peixes. 

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