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Abelhas produzindo carne: projeto em SP mostra como é possível

Botânico começou um negócio focado em mel, mas descobriu que seria mais produtivo em associação com a piscicultura e a pecuária bovina

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto

10/03/2025 - 08:38

Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa
Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa

Desde criança, Felipe Meireles é apaixonado por abelhas. Há cinco anos, quando este botânico e sommelier de mel encontrou uma propriedade adequada para montar um meliponário e um apiário – criações de abelhas sem e com ferrão, respectivamente -, ele tinha um objetivo bem definido: explorar aromas e sabores diversos do mel em um mercado sedento por novidades. Na época, nem sonhava que, naquele lugar, desenvolveria um projeto pioneiro, de abelhas produzindo carne, associando a criação de abelhas, peixes e gado em um ciclo de produção orgânica e com total aproveitamento dos recursos disponíveis. 

O cenário é a Serra da Paulista, região que ostenta uma paisagem montanhosa no leste do estado de São Paulo, na divisa com Minas Gerais. O município, São João da Boa Vista. Ali, Meireles percebeu que teria condições propícias para implantar as colmeias. Cercado por pecuária leiteira e cultivo de cana orgânica, somados aos terrenos pedregosos da região, que impedem a entrada de máquinas nas lavouras, não enfrentaria o risco dos agrotóxicos aplicados na agricultura extensiva, muitos deles letais para as abelhas. 

O lugar era uma antiga área de café e que só tinha pastagem degradada. Meireles começou, então, a desbravar a terra com o intuito de transformá-la em um jardim botânico de árvores frutíferas. Trouxe uma, duas, três… Até chegar a 900 espécies, algumas bem raras. Cerca de 20% estão em produção —  o restante começa a frutificar anos após o plantio. “A princípio, eu queria garantir alimento para as abelhas e, com isso, obter uma variada gama de mel. Acontece que, onde tem abelhas, as frutíferas produzem mais, justamente pela polinização que elas fazem. Os pés ficam carregados”. 

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Na propriedade, em São João da Boa Vista, excedente de frutas virou solução. Foto: Felipe Meireles/Arquivo Pessoal

Estava aí o primeiro problema, que viraria solução. Meireles passou a usar as frutas para a fabricação de doces, como geleias e compotas. Mas, como o volume era grande, não dava tempo de aproveitar tudo. Boa parte acabava apodrecendo no chão, atraindo moscas predadoras de abelhas nativas sem ferrão. Segundo problema: “eu precisava evitar que as frutas caíssem. Mas o que vou fazer com elas?”, disse em entrevista ao Agro Estadão. 

Chegam os peixes

Meireles se lembrou, então, dos velhos tempos em que saía para pescar. Em que as iscas eram… frutas! “Como também tenho especialização em piscicultura, sabia que peixes amazônicos, como o tambaqui, gostam muito de frutas”. Caminho aberto para que quatro tanques fossem escavados na propriedade em São João da Boa Vista. O peixe escolhido foi justamente o tambaqui, que não se adaptou. “Como aqui na Serra da Paulista tem um inverno muito frio e eles vivem em águas geralmente quentes, pegavam fungos e morriam”. 

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Frutas vão para os tanques de peixes. Foto: Felipe Meireles/Arquivo Pessoal

Meireles passou a testar híbridos: tambacu (tambaqui com pacu — este mais resistente às baixas temperaturas) e patinga (pacu com pirapitinga). Deu certo. O excedente das frutas agora teria um destino: alimentar os cardumes. 

Cada tanque comporta 600 quilos de peixes, integralmente tratados com frutas. Quando eles atingem o ponto de corte, entre 2 e 2,5 quilos, são vendidos a pesqueiros e os tanques passam por limpeza. O material orgânico retirado deles é usado como adubo para as frutíferas, fechando o ciclo. “Sem contar que as árvores frutíferas atraem muitas aves, que comem as frutas e ajudam a dispersar as sementes, inclusive para propriedades vizinhas. Isso aumenta o raio de ação para a produção de mel, já que, para que gerem um litro de mel, as abelhas sem ferrão precisam visitar de 2 a 3 milhões de flores. E as com ferrão até 5 milhões”, conta Meireles. 

O projeto, considerado pioneiro em todo o mundo, foi premiado em 2022 na categoria “melhor palestra” no Congresso Melhores da Meliponicultura, realizado em Santos (SP). No mesmo ano, Meireles foi convidado para o 1º Congresso Amazonense de Meliponicultura, na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus. A apresentação recebeu, como título, uma frase que, na visão dele, resume os resultados da iniciativa: “Abelhas produzindo Carne”. “Isso porque o foco é a criação de abelhas. Todas as outras atividades, como a piscicultura, foram desenvolvidas para aprimorar a produção de mel”. 

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Rebanho recebe frutas, como a goiaba, para complementar a alimentação. Foto: Felipe Meireles/Arquivo Pessoal

Caberia mais uma inovação?

Mesmo servindo aos peixes, ainda sobravam frutas. Meireles olhou, então, para o rebanho de gado Nelore, com cerca de 70 cabeças, voltado a recria. Decidiu testar as frutas como complemento alimentar. Além do trato convencional, é comum ver nos cochos dos animais goiabas, pitangas, amoras, entre muitas outras. “Só não dou carambola, porque, como os humanos, o gado é mamífero e esta fruta traz risco para os rins. Agora, os peixes comem de tudo, até a carambola. E nunca tiveram problema”. 

Manter um jardim botânico tão variado permitiu, ainda, que Meireles entrasse no mercado de mudas raras para colecionadores e abrisse uma hospedaria, para interessados na diversidade do pomar e de tipos de mel. 

A expectativa dele é que o projeto esteja maduro nos próximos cinco a dez anos, quando todas as espécies frutíferas estarão em produção. “Costumo dizer que as abelhas existem para polinizar. É isso que a gente precisa garantir a elas, que são responsáveis por 80% de todos os alimentos que chegam à nossa mesa. O mel é uma consequência”, declara o botânico. Palavra de quem dedica a vida a entender esses insetos fundamentais à sobrevivência humana no planeta.

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