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Sustentabilidade

Produtor rural no mercado de carbono: quais são as oportunidades e como aproveitar?

Tonelada de carbono pode valer até US$ 50 com projeção de chegar a US$ 100

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

21/08/2024 - 08:00

Foto: Embrapa Soja/Divulgação
Foto: Embrapa Soja/Divulgação

Diferente de outras estruturas econômicas, o mercado de carbono foi criado para não ser eterno, além de gerar uma forma de renda capaz de impulsionar a economia geral. Essa é uma das oportunidades para produtores rurais entrarem no mercado de carbono, que ainda tem alguns anos para registrar um boom

“Todas as metas de redução de carbono de empresas e países são projetadas entre 2030 e 2050. O grande objetivo da ONU é chegar à neutralidade climática em 2050. Então, o que vai acontecer, é que as obrigações vão vencer, todo mundo vai ter que mostrar que está fazendo a redução e vai todo mundo querer comprar crédito. Com isso, o preço tende a crescer, e vai ter muita gente procurando e pouca gente fazendo”, explica a diretora de Regulação da Biomas, Natália Renteria.

“Para que o produtor consiga crescer junto com o mercado, ele tem que começar a se colocar agora nessa esteira, porque quando houver o boom, ele já vai ter o projeto engatilhado e vai conseguir aproveitar o auge desse mercado”.

Natália Renteria, diretora de Regulação da Biomas

Como o produtor pode se inserir no mercado de carbono?

Basicamente, o produtor pode participar do mercado de carbono de duas formas. Uma está mais ligada ao mercado regulado de carbono, por isso a participação acaba sendo indireta. Já a outra é através do mercado voluntário. Além disso, uma possibilidade não exclui a outra e ambas podem acontecer de forma simultânea. 

In setting

Essa forma está relacionada ao observar o produtor rural dentro da cadeia produtiva. Um dos três escopos que as empresas têm para reduzir as emissões é a parte de fornecedores. Um exemplo disso seria a Fazenda Kiwi em parceria com a Nestlé, como o Agro Estadão mostrou. O produtor adota medidas para reduzir as emissões de carbono e recebe um percentual a mais na venda do produto à empresa. Esse crédito de carbono gerado pelo fornecedor é contabilizado pela empresa dentro da estrutura e das metas do mercado de carbono regulado ou do mercado voluntário, caso o primeiro ainda não esteja em funcionamento. 

Off setting 

É a adoção de projetos que visam gerar esses créditos de carbono, porém por iniciativa própria do produtor. Esses créditos serão negociados com empresas posteriormente no mercado voluntário. Para isso, há um processo que precisa ser feito (veja abaixo).

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Quais são as oportunidades para o produtor rural no mercado de carbono?

A especialista aponta que a entrada no mercado de carbono não significa uma diminuição da produção. “O que o produtor precisa entender é que isso vem como uma oportunidade e não como um fardo”, diz. Isso porque ao adotar um projeto, se busca potencializar a produção e também gerar receita a partir de uma área que legalmente não pode ser desmatada, como a reserva legal, por exemplo. 

Nesse sentido, Renteria apresenta três janelas de oportunidades, que podem variar de acordo com a disponibilidade e aptidão do produtor rural. 

  • Restauração e conservação – nesse caso o projeto está ligado à restauração florestal. Isso pode acontecer, por exemplo, em uma área de reserva legal que já foi desmatada e depois precisa ser restabelecida ou em áreas dentro da propriedade que não estão sendo bem utilizadas, como montanhas. 
  • Incremento de produção agrícola – também é possível gerar créditos de carbono a partir da melhoria na produção, seja adotando práticas mais sustentáveis, como a agricultura regenerativa, seja com o melhor gerenciamento de insumos e de recursos hídricos. Os créditos podem ser tanto de mitigação quanto de remoção de carbono. 
  • Intensificação de pastagem – mais voltada para os pecuaristas, existem formas de produzir os créditos de carbono com implementação da alta produtividade. A ideia seria melhorar a pastagem para produzir mais em menos espaço. Além disso, os produtores podem adotar práticas na alimentação para reduzir as emissões entéricas – provenientes da digestão bovina e normalmente ligadas ao metano, outro gás do efeito estufa. 

O produtor ainda pode fazer configurações diferentes dentro da propriedade para abarcar essas diferentes formas. Por exemplo, um pecuarista tem a opção de ampliar a sua área de conservação e intensificar a pastagem em outra ou até mesmo fazer uma integração lavoura-pecuária-floresta. 

Vantagens para o produtor se inserir no mercado de carbono

Entre os benefícios do produtor rural estar nesse mercado, a diretora da Biomas elenca:

  • regularização ambiental para quem precisa;
  • incremento de produção com novas práticas;
  • ganho reputacional (pode agregar mais valor na produção ou atingir mercados antes restritos);
  • destravar novas fontes de financiamento;
  • diversificação de renda que ele não teria se não tivesse o mercado de carbono. 

É possível o pequeno produtor também participar?

“Sim, mas existe uma particularidade que tem que ser considerada. Um projeto de carbono é um processo burocrático e tem custos relacionados. Para viabilizar, ou seja, para a conta fechar e valer a pena, tem que juntar um mínimo de área”, pondera  Renteria. Segundo ela, esse mínimo não depende da área ou da característica do crédito buscando.

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“Para pequenos [produtores] o que faz sentido é uma organização via associações, sindicatos ou empresas. Isso cria uma base que habilita esses produtores a se juntarem por um projeto de carbono”, recomenda.

Como iniciar um projeto de crédito de carbono?

Após a decisão de entrar nesse mercado, o primeiro passo é procurar uma associação que o representa para buscar uma empresa desenvolvedora. Não são todas as associações que fazem essa filtragem e indicação dessas empresas, porém é recomendado que ele faça esse primeiro contato nessas entidades representativas que são da confiança do produtor. 

Ao contar uma empresa desenvolvedora, é importante se certificar de que ela seja uma empresa séria, pois esse mercado é reputacional. No caso da Biomas, o produtor ainda passa por uma seleção interna, já que nem toda proposta se encaixa para a empresa. 

De forma geral, as etapas seguintes são definidas em conjunto, em que ambas as partes têm suas obrigações na execução do projeto. Além disso, o produtor deve prestar atenção em questões como propostas de valores de crédito muito acima do que o mercado paga. 

A última reportagem da série é sobre a atual situação do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono e como anda a tramitação no Congresso Nacional. Confira também a primeira reportagem da série, que explica como funciona o mercado de carbono

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