Sustentabilidade
Ministério da Agricultura busca parcerias com instituições financeiras para financiar programa de conversão de pastagens degradadas
Governo estima investir até US$ 120 bilhões na recuperação de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas
4 minutos de leitura 14/03/2024 - 19:09
Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadão.com
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) apresentou nesta quarta,14, um esboço do que deve buscar para o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD). Entre as medidas está a procura por parcerias com instituições financeiras privadas para disponibilização de crédito rural aplicado em áreas de pastagens degradadas.
Segundo membros da pasta, a intenção é de que esses recursos venham de bancos privados ou de outros países, com juros mais baixos do que os cobrados internacionalmente. O assessor especial do ministro da Agricultura, Carlos Ernesto Augustin, revelou que “não estão contando com verbas do Tesouro Nacional e nem com a subvenção do governo”.
O BNDES e o Banco do Brasil seriam parceiros nessa intermediação e busca por recursos externos. Sendo assim, Augustin, falou que a expectativa é de que os juros fiquem na casa dos 5%, sendo 2% a 2,5% vindos de agentes internacionais, 1% da intermediação do BNDES e 2% de bancos brasileiros.
Atualmente, o Plano Safra conta com uma linha voltada para renovação de pastagens degradadas, o RenovAgro Recuperação de Pastagens. Os juros são de 7%, limite de crédito de R$ 5 milhões por produtor e 10 anos de carência. Na prática, o Ministério quer baixar os juros mantendo condições parecidas de carência e até melhores para o limite, e sem a utilização de recursos do governo federal.
“O que nós queremos é não usar recursos [do Plano Safra]. E nós vamos insistir nessa tecla, a não ser que dê tudo errado com a nossa comunicação. […] Eu não quero dinheiro a 7% no Banco do Brasil. Eu quero condições de dinheiro verde. Dinheiro verde é o seguinte: é metade ou menos da metade dos juros internacionais”, afirmou Augustin.
O programa instituído no ano passado pelo decreto 11.815 prevê que, em 10 anos, 40 milhões de hectares de pastagens degradadas sejam recuperados. A estimativa é de que cada hectare precise de US$ 1 mil a US$ 3 mil de investimento, o que poderia alcançar US$ 120 bilhões em recursos.
No entanto, apesar das boas intenções, o assessor especial e também presidente do Comitê Interministerial do PNCPD reconheceu que não há nada pronto e que as propostas oficiais ainda não foram formuladas.
“Não tem nada pronto, não tem nenhuma diretriz aprovada. Tudo está em início de construção e vai ser construído em cima dessa maneira que eu falei, ouvindo os ministérios elencados no comitê, ouvindo os grupos de trabalho que nós vamos formar, e ouvindo a comunidade geral dos agricultores através das oficinas que vão compor”.
O comitê terá ao menos três grupos: um focado na parte técnica, outro no financeiro e o terceiro na comunicação. Esses grupos é que irão propor as medidas que depois serão apresentadas aos altos escalões do governo, como o ministro da Agricultura e o presidente da República.
Contrapartidas do produtor rural
A pasta também apresentou as possíveis medidas de contrapartida que o produtor terá que demonstrar para ter acesso ao suposto crédito rural vindo do dinheiro verde. Um dos requisitos já previstos no decreto do programa é de que as propriedades estejam inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). No entanto, não prevê que a propriedade tenha o CAR ativo, que é quando as informações do cadastro foram validadas.
Outras obrigatoriedades que serão estudadas pelos grupos de trabalho são:
- Uso de bioinsumos (porcentagens dos insumos deverão ser biológicos);
- Participação em programas de capacitação profissional;
- Aplicação do plantio direto;
- Utilização do sistema “sempre verde” (plantar capim em áreas que não serão utilizadas para uma segunda safra, por exemplo, para a captura de carbono);
- Gestão Digital (manejo todo digitalizado);
- Certificação trabalhista;
- Balanço de carbono (apresentação dos resultados de captura de carbono da propriedade depois de um tempo da revitalização das áreas degradadas);
- Produção carbono neutro (ter níveis iguais de emissão e captura de carbono na produção);
- Utilização de energia solar ou a base de outros meios sustentáveis, como biogás;
- Rastreabilidade e certificação dos produtos (isso após a recuperação das pastagens).
O ministro Carlos Fávaro afirmou que a pretensão para medidas como essas é dar segurança aos investidores estrangeiros de que eles estão ganhando menos remuneração, mas com uma finalidade sustentável.
“Para atrair o capital, para atrair o investimento, nós precisamos não só dizer como vai ser o programa, mas que métricas, que ciência, como nós vamos mostrar cientificamente para o investidor […] Nós precisamos certificar isso, e a Embrapa tem esse potencial. Esse é o papel da Embrapa.”
O que é o programa de recuperação de pastagens degradadas?
O Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD) foi instituído via decreto no final de 2023. Ele tem como objetivo ajudar no processo de descarbonização e aumentar a sustentabilidade no setor agropecuário.
Hoje existem 50 milhões de hectares de pastagens degradadas no país – a meta do programa é recuperar 40 milhões de hectares até 2033. O texto do decreto estabelece que são consideradas pastagens degradadas as áreas com pouca produtividade e capacidade de recuperação natural, o que culmina no desgaste de recursos como solo e água.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
EUDR: o que prevê a lei europeia antidesmatamento e como ela impacta o Brasil?
2
Em 2 dias, Brasil concentrou 72% das queimadas da América Latina
3
Empresas se unem à iniciativa inédita de bem-estar animal
4
Produtores economizam US$ 1,8 bilhão por ano com uso de biofertilizantes, aponta estudo
5
Irrigação impulsiona exportações de frutas de Minas Gerais
6
Embrapa Cerrados recebe visita da rainha da Dinamarca
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Sustentabilidade
3 pontos da lei antidesmatamento que afetam o agronegócio brasileiro
CNA avalia que “não existe espaço” para modificações no conteúdo da norma e que “lei tem questões internas que fecham mercados”
Sustentabilidade
COP 29: CNA defende investir “pesadamente” em novas tecnologias menos emissoras de carbono
Posicionamento do setor para COP 29 foi entregue ao governo como apoio às discussões diplomáticas que acontecerão na conferência sobre o clima
Sustentabilidade
Irrigação impulsiona exportações de frutas de Minas Gerais
Tecnologia tem sido crucial para manter a produção no norte do Estado, que vem sofrendo com a estiagem
Sustentabilidade
Banco do Brasil lança novo programa de sustentabilidade na pecuária
Programa terá iniciativas de diagnóstico e auxílio na contratação de operações de crédito de carbono, além de bonificação adicional por animal rastreado
Embrapa Cerrados recebe visita da rainha da Dinamarca
Entidade de pesquisa pretende ser protagonista nas discussões na COP 30
Empresas se unem à iniciativa inédita de bem-estar animal
Coalizão reúne diferentes elos da cadeia de fornecimento de proteína animal para impulsionar boas práticas
CCarbon: conheça o centro de agricultura tropical de baixo carbono em Piracicaba
Além de investimentos públicos, CCarbon também mira aportes privados em projetos com repercussão nacional e internacional
CNA considera positiva sinalização pela UE de adiamento da Lei Antidesmatamento
A proposta da Comissão Europeia é pela implementação gradual da lei antidesmate, com a prorrogação da adoção de 30 de dezembro deste ano para 30 de dezembro de 2025 para grandes empresas e em 30 de junho de 2026