Sustentabilidade
Taxonomia Sustentável: o que é e como ela pode impactar o Agro no Brasil
Critérios podem ter influência em políticas de crédito do governo, como o Plano Safra

Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadão.com
30/03/2024 - 08:00

Dicionário, bússola ou sistema de classificação. É assim que a subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda, Cristina Reis, define o que será a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB).
“Consiste num sistema de classificação das atividades econômicas, dos ativos financeiros e até mesmo de projetos de investimento. E no nosso caso, é para designar essas atividades, ativos e projetos enquanto sustentáveis ou não”, explica a subsecretaria ao Agro Estadão.
Esse conjunto de regramentos para definir o que é sustentável no Brasil começará a ser elaborado pelo Comitê Interinstitucional da Taxonomia Sustentável Brasileira. Esse grupo foi criado na última segunda-feira, 25, a partir de um decreto presidencial e conta com 22 ministérios e 5 órgãos e autarquias federais.
O objetivo dessa taxonomia é trazer consenso sobre o que são práticas sustentáveis. “A taxonomia tem essa missão muito específica de padronizar o entendimento do que é sustentável, do que é uma atividade sustentável, estabelecendo critérios técnicos, objetivos, baseados na ciência e, sempre que possível, quantitativos”, esclarece a subsecretária.
“É, por exemplo, olhar para um produto como o milho e entender a forma como esse milho é produzido: se ele tem manejo sustentável do solo, se ele tem o manejo sustentável da água, dos resíduos utilizados, se ele contribui para a biodiversidade”, exemplifica Reis ponderando que esses critérios ainda não estão definidos.
Na prática, esses parâmetros terão reflexos especialmente na forma como se financiam as atividades econômicas no país a partir de 2026, ano em que a taxonomia será mandatória. Isto quer dizer que políticas públicas de incentivos de crédito ou tributáveis terão influência da taxonomia. Segundo a a subsecretária, é de se esperar que o Plano Safra 2026/2027 tenha linhas de crédito associadas aos critérios de sustentabilidade, por exemplo.
Já no caso das formas de crédito privado, a ideia é que esse dicionário sirva como um balizador para financiamentos de atividades econômicas. Por exemplo, um fundo internacional que queira investir no Brasil, mas em empresas que são sustentáveis, terá a taxonomia para orientar se as ações das empresas seguem diretrizes de sustentabilidade.
Como vai funcionar a taxonomia sustentável?
Apesar do documento final só ficar pronto em novembro deste ano, a subsecretária adianta algumas bases que serão observadas. A primeira é que depois de concluída, a taxonomia não será estática, ou seja, o comitê pode avaliar e ir mudando os critérios.
“É um documento vivo. Vai estar sempre sendo atualizado conforme os parâmetros e as tecnologias mudem, e também, a medida que a experiência nos traga aprendizados”, revela Reis.
O coordenador-geral de Análise de Impacto Social e Ambiental do Ministério da Fazenda, Matias Rebelo, aponta outra questão que estará presente na novidade: a proporcionalidade. “A ideia é que a taxonomia tenha critérios diferenciados para pequenos, médios e grandes e vá avançando ao longo do tempo”, afirma ao Agro Estadão.
Além disso, Cristina Reis diz que a taxonomia brasileira será formulada observando as características do país, mas dialogando com outros regramentos já existentes, como o mexicano, o colobiano e o europeu. “Estaremos verificando as nossas condições de produção e nosso entendimento de sustentabilidade, mas de uma maneira equilibrada, em que consiga dialogar tanto com o local quanto com o global”.
Como o setor Agro tem visto a iniciativa?
O coordenador do Comitê de Sustentabilidade da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Eduardo Bastos, acredita que a influência da taxonomia em ações de crédito, como o Plano Safra, não pode excluir os produtores que não se adequarem aos critérios sustentáveis.
“A gente entende, como ABAG, que o Ministério [da Fazenda] não deveria restringir o acesso a recursos, mas sim privilegiar quem tem mais ações sustentáveis. Então como é que eu vou, por exemplo, cobrar de um produtor 12% e para outro 7%? O que justifica essa diferenciação? São ações sustentáveis, mas isso precisa estar no manual de taxonomia para deixar claro quais são essas atividade sustentáveis”, afirma Bastos ao Agro Estadão.
Na visão dele, recursos como do RenovAgro – linha de crédito de investimento do Plano Safra destinada para sistemas agropecuário de produção sustentável – deveriam ter taxas mais atrativas.
Bastos também é presidente da Câmara Temática de Agrocarbono Sustentável do Ministério da Agricultura e Pecuária. Dentro da câmara existe um grupo de trabalho que trata da taxonomia. A expectativa é de que esse grupo possa servir como uma ponte de diálogo com a Fazenda, além de oferecer insumos na formulação do documento.
Entidades poderão participar da discussão da taxonomia
Em termos hierárquicos, o Comitê Interinstitucional da Taxonomia Sustentável Brasileira será o órgão formulador do documento final. Porém, haverá um comitê consultivo com 18 cadeiras que serão preenchidas com entidades representativas da sociedade.
A escolha será feita a partir de uma chamada pública e divulgada depois da instalação do Comitê. As entidades interessadas devem ficar atentas ao site do Ministério da Fazenda.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
De MT para o mundo: conheça fazenda brasileira que é exemplo de sustentabilidade
2
1ª ligação de fornecimento de biometano do País é inaugurada no interior de SP
3
Em São Paulo, fazendas usam a fotografia como aliada do meio ambiente
4
Confundida com mosca, essa abelha ajuda a manter vivo o ciclo das orquídeas
5
Biometano: o que é, como é produzido e qual a diferença para o gás natural
6
Decisão do Cade põe fim à Moratória da Soja em janeiro de 2026

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Sustentabilidade
Agricultores do Amazonas recebem R$ 1,5 milhão por preservar floresta
Projeto Floresta+ Amazônia recompensa produtores rurais que mantêm áreas nativas conservadas; veja como participar

Agro na COP30
Projeto aposta em agricultura regenerativa para reduzir carbono da soja na Amazônia
Usando biochar, pó de rocha e bioprodutos em propriedades-piloto, iniciativa quer converter práticas convencionais em 60 mil hectares do grão

Sustentabilidade
Concurso revela a maior árvore de erva-mate do RS
Exemplar de 2,22 metros de circunferência está em Caseiros e ajudará em pesquisas e preservação da espécie símbolo do Estado

Sustentabilidade
Setor florestal apresenta caderno com soluções para mudanças climáticas
Práticas sustentáveis serão levadas pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) para serem apresentadas em Belém (PA), durante a COP 30
Sustentabilidade
Estatuto do Pantanal é sancionado e cria selo para produtos sustentáveis
Texto regulamenta conservação do Pantanal, impõe regras para supressão vegetal e institui programas de serviços ambientais
Sustentabilidade
Parceria entre Cecafé e Emater-MG reforça sustentabilidade na cafeicultura
Entidades promoverão práticas regenerativas através de culturas de cobertura na entrelinha do café
Sustentabilidade
Avanço do PIB agropecuário não está associado ao desmatamento, aponta estudo
Levantamento projeta que, mesmo com crescimento médio de 2,5% ao ano no PIB agropecuário, o Brasil pode chegar perto do desmatamento zero em 2040
Sustentabilidade
COP 30: Carta do Pantanal é apresentada em Campo Grande (MS)
Texto da carta sugere a criação de um plano com políticas ambientais, sociais e econômicas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul