Fazenda aumenta produção de leite em 380% após adotar confinamento de vacas e agricultura sustentável | Agro Estadão
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Sustentabilidade

Fazenda aumenta produção de leite em 380% após adotar confinamento de vacas e agricultura sustentável

Fazenda Retiro faz parte do programa Nature por Ninho da Nestlé; virada de chave foi união entre pai e filho

Nome Colunistas

Daumildo Júnior* | daumildo.junior@estadao.com

27/04/2024 - 10:00

Foto: Nestlé/Divulgação
Foto: Nestlé/Divulgação

Na Fazenda Retiro, quem recebe os visitantes é Luna, uma cadela boxer com fila de cinco anos. Depois de fazer um carinho na Luna, os convidados observam, logo na entrada, dois barracões com aproximadamente 160 vacas que vivem em confinamento a uma agradável temperatura média de 20ºC a 25ºC. Com comida e água à vontade, o espaço é preparado para que possam se deitar e ruminar com conforto. 

Essa é parte da receptividade da propriedade tocada há mais de 30 anos por Waldiney Pereira Dutra, 58 anos, e que fica a cerca de 95 quilômetros de Goiânia (GO), em Gameleira de Goiás. Com todo esse cuidado com os animais, a Retiro viu a produtividade aumentar 380% nos últimos cinco anos, chegando a 5.700 litros de leite por dia. 

Luna, cadela que recepciona os visitantes. Foto: Gustavo Dutra/Arquivo Pessoal

“Hoje é difícil até de comparar com antigamente. A parte de produção de leite antigamente não tinha a tecnologia que a gente tem hoje. Quando eu comecei, por exemplo, se ordenhava na mão e o leite tirado no período da tarde se colocava em latões e deixava debaixo da bica d’água para não perder, porque o leiteiro só passava de manhã”, relembra Waldiney. 

As mudanças iniciaram em 2009, quando a propriedade passou a fornecer leite para a multinacional Nestlé. Eram 780 litros por dia, que saltaram para 1.500 litros diários a partir da instalação do primeiro barracão, em 2019.

Parte da “culpa” é do filho do produtor, o engenheiro civil Gustavo Henrique Dutra, que há cinco anos decidiu trocar de vez as construções para se dedicar à produção de leite no sistema compost barn – um modelo de confinamento. O jovem de 29 anos acompanhou a obra do primeiro barracão e acabou assumindo o gerenciamento da propriedade. 

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“Eu vim para executar a construção. Eu andei com meu pai em outras fazendas e conheci a realidade do leite naquela época, e a nossa fazenda estava bem apertada. Quando terminou o barracão já estava mais por aqui e ele me chamou para ficar ajudando, porque mudou um pouco a rotina. Aumentou o pessoal e aí precisava ter um acompanhamento mais técnico”, afirma Gustavo.

Waldiney (à esquerda) e Gustavo (à direita). Foto: Nestlé/Divulgação

A virada de chave que fez a produção de leite aumentar quase 4x 

Na visão de pai e filho, alguns fatores foram fundamentais para proporcionar o salto de 380% dos últimos anos. O primeiro foi a adoção do sistema compost barn. Basicamente, as vacas ficam confinadas em um espaço amplo com temperaturas controladas e dietas diferentes para cada fase de vida. Por exemplo, para as que estão em gestação, a alimentação tem mais fibras, já os animais em período de lactação recebem mais proteínas para ajudar na produção de leite. 

Além disso, há um monitoramento constante das vacas para verificar a presença de doenças e qualidade do leite. Até um robô ajuda no manejo. Ele faz um processo de revirar a comida nos cochos para que os animais possam aproveitar ao máximo a dieta. 

No sistema compost barn, as vacas ficam em cima de uma cama de material vegetal, como serragem e palha de arroz. Os dejetos que caem nesse ambiente acabam se decompondo e ajudando na formação dessa cama, que é revirada por tratores todas as vezes que as vacas saem para a ordenha. Esse processo ajuda na compostagem do material e evita trocas constantemente.

“Antes do barracão, o nosso maior desafio era a lama no período da chuva. Imagina uma vaca de 700 quilos pisando na lama. A gente usava muito mais antibióticos, por exemplo, para controlar as doenças”, conta Gustavo, que notou a redução no custo com medicamento após o confinamento.

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Além de agregar mais tecnologia à produção, a propriedade também é acompanhada por técnicos do programa Nature por Ninho, da Nestlé. A gerente de Sustentabilidade da Nestlé, Bárbara Sollero, aponta que um dos pilares do programa de boas práticas adotado pela empresa em parceria com os produtores é o bem estar-animal. Atualmente, o Nature por Ninho tem quatro níveis de adoção de práticas e em cada categoria o produtor recebe uma bonificação. 

“O nosso preço pago ao produtor é composto pelo valor pago pelo mercado, cerca de 80% do valor total, e os outros 20% são mérito do produtor, a partir dos níveis que ele alcança”, revela Bárbara. 

Ao Agro Estadão, o vice-presidente de Nutrição da Nestlé Brasil, Fabio Spinelli, disse que a multinacional irá investir cerca de R$ 150 milhões em bonificações aos produtores nos próximos três anos.  

“Isso é um valor que não é investido em nenhum outro lugar da Nestlé no mundo. Hoje, o Brasil é o maior sourcing (fornecedor) de leite fresco da Nestlé globalmente e tem o programa mais desenvolvido que é o programa Nature por Ninho”, enfatizou.

Atualmente, a Fazenda Retiro está no nível ouro, o segundo melhor, e recebe R$ 0,15 a mais por litro de leite. Além de apostarem no bem estar dos animais, a propriedade também aplica práticas de agricultura regenerativa. 

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Da plantação de maracujá para a plantação de soja e milho

O ano de 2019 também foi marcante na gestão da propriedade. A partir de lá, pai e filho dividiram as obrigações: Waldiney ficou com as lavouras e Gustavo com o leite. A lavoura de maracujá que Waldiney tocava passou a ser de soja, milho e outras culturas voltadas para a alimentação bovina. Com isso, quase toda a dieta do gado é plantada e colhida dentro dos 63 hectares de área efetiva utilizada pela fazenda. 

Para isso, a Retiro adota algumas estratégias como a rotação de cultura e a plantação de um mix forrageiro. Assim, o solo fica os 12 meses do ano com cobertura vegetal – seja com o mix forrageiro, seja com soja ou milho – e conserva a ação de microrganismos que são benéficos ao solo e as plantas. 

Atualmente, o mix utilizado tem as seguintes plantas:

  • milheto – serve como ciclador de potássio (ajuda na fertilização do solo)
  • trigo mourisco – ajuda a disponibilizar o fósforo do solo para as plantas 
  • braquiária – descompacta o solo
  • sorgo e aveia – servem como cobertura do solo. 

Cerca de 30% desse mix é misturado na dieta do gado, o restante fica na própria área e vai servir como cobertura de solo, além de fixar carbono, devido ao alto nível de raízes geradas. Outra prática que favorece esse combo de benefícios é o plantio direto, em que não há revolvimento da terra. 

“Hoje a gente está num processo com a Nestlé em que a cobrança não é só no leite, na qualidade e no bem-estar, mas também na lavoura, pois ela é um alimento. Se eu tenho um gado bom, eu tenho que ter uma lavoura boa também, porque é onde sai o alimento dele”, completa Waldiney.  

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Futuro sustentável e com mais receita

Sobre os próximos passos da Fazenda Retiro, pai e filho já têm um plano que pretendem colocar em prática: aumentar ainda mais a produção e ofertar um novo produto. Com isso, a ideia é ter uma renda a mais para a propriedade e quitar as dívidas bancárias.

“A gente quer chegar a 240 vacas em lactação e chegar entre 9 mil e 9,5 mil litros de leite por dia para gerar mais receita para desalavancar (liquidar a dívida) e vamos começar a comercializar agora o adubo”, conta Gustavo.

Para o primeiro objetivo, a família está se organizando para comprar mais vacas no próximo ano. Já a segunda meta começou a ser executada com o término das obras do separador de dejetos. Essa infraestrutura separa o sólido do líquido. Enquanto a parte líquida é jogada nas lavouras de forma constante, os resíduos sólidos são enriquecidos e utilizados como adubo orgânico. 

Poço de dejetos
Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão

Ao todo, a expectativa é de que essa estrutura gere 550 toneladas de adubo orgânico por ano, sendo que 200 toneladas serão vendidas. “Futuramente a gente vai até eliminar o [adubo] químico na lavoura e vai agregando valor. Vamos produzir o adubo orgânico, vamos utilizar aqui na propriedade e o resto vamos negociar. Então já está gerando receita”, acrescenta o pai.

Na avaliação de Gustavo, os produtores rurais devem ficar atentos e entender que essas medidas não são uma ‘amolação’ e que podem trazer mais retorno. “Para você ser rentável, você tem que fazer isso aqui”, conclui.

*Jornalista viajou a convite da Nestlé

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