Sustentabilidade
Chuva preta: fenômeno avança pelo país e pode afetar agricultura e pecuária
Após ocorrência no Rio Grande do Sul, "chuva preta" pode atingir demais estados e chegar ao Sudeste do país.
3 minutos de leitura 11/09/2024 - 15:22
Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com
Além da preocupação com a saúde humana, especialistas alertam para possíveis prejuízos causados pela chuva preta sobre a agricultura, especialmente sobre produtos hortifrutícolas. Pecuaristas também devem estar atentos à água do gado.
O fenômeno que aconteceu no Rio Grande do Sul, tem chance de se repetir no estado e ainda ser levado ao Sudeste do país por uma frente fria. Conhecida também como “chuva escura” ou “chuva negra”, é uma combinação das precipitações com o excesso de poluentes e fuligem das queimadas que acontecem no país há mais de um mês.
Por isso, a água da chuva preta não deve ser consumida ou utilizada para preparo de alimentos. Já na agricultura, ela pode ter efeitos preocupantes. “Essa chuva contém black carbon (carbono negro), que é um poluente gerado pela queima incompleta de biomassa e combustíveis fósseis. Ao ser depositado no solo junto com a chuva, o carbono negro pode impactar negativamente a qualidade do solo e da água. Isso pode afetar a disponibilidade de nutrientes para as plantas, prejudicando o seu crescimento”, explica o diretor de Tempo e Clima da Meteoblue, Willians Bini.
Conforme o agrometeorologista, os poluentes podem alterar a composição química do solo e afetar a absorção de nutrientes pelas plantas, reduzindo a produtividade das culturas. Além disso, o especialista também diz que a produção pode ser afetada pelo comprometimento fotossintético da planta.
“A fuligem presente na água da chuva pode criar uma camada superficial sobre as plantas, reduzindo a capacidade de fotossíntese devido à menor incidência de luz solar. Isso compromete o crescimento das plantas e a produção agrícola”, diz Bini.
A ocorrência de doenças após o fenômeno ‘chuva negra’ é outro agravante apontado pelo especialista. “A presença desses poluentes na chuva pode criar condições favoráveis para o desenvolvimento de fungos e bactérias patogênicas, aumentando a incidência de doenças nas plantas”, complementa.
Chuva preta deve chegar a São Paulo em momento crítico
Em meio a altas temperaturas e muita poluição, agravada pelos incêndios desde agosto, o estado de São Paulo enfrenta um momento crítico. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mantém, até o fim de sexta-feira, 13, um alerta vermelho de grande risco que, além de São Paulo, atinge os estados de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, partes de Minas e do Amazonas.
Com as chances de uma chuva preta em regiões produtoras de hortaliças, como Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes e Suzano, a recomendação ao produtor é proteger as folhosas e o solo. A orientação serve para os bebedouros do gado, que além da cobertura, devem estar constantemente abastecidos de água potável.
Apesar do risco, o meteorologista Willians Bini esclarece que o volume de chuva previsto para a região não é grande e as precipitações serão generalizadas. Ele destaca que num cenário diferente, a possibilidade de formação de chuva escura seria mais perigosa.
“Imagina, com toda essa poluição, que ainda deve aumentar, estando previsto que amanhã [quinta, 12] deverá ser o dia mais quente da semana, certamente num cenário de chuvas generalizadas, em todo estado, jogando tudo isso [chuva com poluentes] sobre o solo e lavouras, seria bem complicado”, afirma o meteorologista.
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