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Sustentabilidade

Cafés amazônicos sequestram mais carbono do que emitem? Veja em pesquisa inédita da Embrapa

Estudo foi feito com base em plantações de café robusta amazônico no maior estado produtor da espécie

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

28/05/2025 - 08:00

Foto: Enrique Alves/Embrapa
Foto: Enrique Alves/Embrapa

A região Norte do país deverá ser responsável por 12,3% da produção de café canephora do Brasil, de acordo com projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Majoritariamente, o principal estado produtor da região é Rondônia, na qual o café robusta é a espécie predominante. O que um estudo inédito da Empresa Brasileiras de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostrou é a capacidade de sequestro de carbono desse café nas áreas produtoras amazônicas. 

Chamada de robusta amazônico, essa espécie vem passando por um processo de seleção nos últimos anos, que visa a aliar adaptabilidade ao local e produtividade. O resultado é um café que chega a produzir 70 sacas por hectare em alguns locais de Rondônia. Além disso, o estudo da Embrapa indicou que este café chega a estocar 2,3 vezes mais carbono do que emite no processo de produção.  

CONTEÚDO PATROCINADO

O pesquisador da Embrapa Territorial, Carlos Ronquim, resumiu o resultado encontrado no estudo: “Uma planta de café estoca um pouco mais de 4 quilos de carbono”. Além disso, ele indica que esse resultado não mostra a estocagem no solo, ou seja, o número final pode ser ainda maior. “A gente está fazendo a comparação [do estoque de carbono no solo] entre a mata, que é o padrão, entre o pasto e o café. Estamos avaliando ainda. Eu acho que provavelmente no mês de junho agora a gente termine essa parte do carbono no solo”, projeta.

Nessa etapa da pesquisa, o comparativo foi feito em áreas produtoras da região das Matas do estado. Por lá, predomina a cafeicultura familiar. O cálculo levou em consideração as emissões devido ao uso de fertilizantes, especialmente, os nitrogenados que liberam gases do efeito estufa (GEE) nos processos de conversão. Segundo o pesquisador, eles são responsáveis por quase 80% das emissões na produção de café. Além disso, foram considerados outros emissores, como os combustíveis usados por máquinas agrícolas e a irrigação. 

O saldo que o estudo demonstrou foi que na fase produção chega a emitir 2.991,5 quilos de carbono por hectare anualmente. Porém, o sequestro de carbono estocado na planta foi 6.874,8 quilos por hectare anuais. Isso representa um balanço de quase 4 toneladas de carbono por hectare retirados da atmosfera todos os anos. 

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Foto: Embrapa/Divulgação

Pegada de carbono

Outra métrica apresentada foi a de pegada de carbono. Basicamente, quer dizer o quanto foi emitido de carbono equivalente durante o processo de produção de um determinado produto. No caso do robusta amazônico, para cada um quilo de café verde foram emitidos 0,84 quilos de carbono equivalente. 

A nível de comparação, outro estudo da Embrapa apontou que o café arábica nas principais regiões produtoras do Brasil emite entre 1,9 quilos e 4,6 quilos de carbono equivalente por quilo de café. A pegada do café colombiano é em média 6,5 quilos por quilo de café. 

Ronquim destaca ainda que isso tem relação com a forma de produção. Com mais estratégias para reduzir os fertilizantes, principalmente, essa pegada tende a se tornar ainda mais favorável, já que esse é o principal vetor das emissões. 

“Você pode aumentar a adubação orgânica para diminuir um pouco a adubação sintética, que emite mais. […] Outra coisa, é semear entre os pés de café várias plantas que absorvem nitrogênio. Quando fizer a roçada, esse nitrogênio vai para baixo da planta de café. […] Além disso, parcelar a adubação de nitrogênio. Por exemplo, em vez de você jogar um quilo de nitrogênio uma vez, se você jogar ele em cinco vezes, 200 gramas, o aproveitamento é muito melhor e a emissão é muito melhor”, comentou à reportagem.

Foto: Embrapa/Divulgação

Possibilidades: crédito rural e créditos de carbono

O estudo originou uma espécie de simulador. Essa ferramenta é basicamente uma planilha que faz o cálculo do quanto um produtor emite e sequestra de carbono. Basta ele inserir informações como horas de uso de máquinas, quantidade de adubos e calcário. Segundo Ronquim, isso deve auxiliar os produtores da região a buscarem linhas de crédito mais baratas devido às práticas sustentáveis. 

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“Se o produtor tem essa foto hoje do que ele está emitindo, pode ser que ano que vem ele volte com uma foto e que o banco consiga auditar, consiga avaliar que houve uma emissão menor, baseado em alguns trabalhos de sustentabilidade que ele fez na área. E aí sim, se esse produtor mostrar, comprovar que ele está indo para esse caminho sustentável, ele pode ter um financiamento a um juro menor”, explicou.

A ferramenta está sendo apresentada aos cafeicultores na feira Rondônia Rural Show Internacional, que vai de 26 a 31 de maio, em Ji-Paraná (RO). Os produtores de café que estiverem por lá poderão fazer a simulação. Segundo a Embrapa, está em estudo a forma como a calculadora será disponibilizada. 

Outra vantagem que os produtores podem buscar são os créditos de carbono. Para o pesquisador, as empresas do mercado voluntário que estejam interessadas em projetos de sustentabilidade, podem encontrar essa alternativa nas produções de café robusta amazônico. Com isso, o produtor conseguiria começar a estruturar um projeto de crédito de carbono e, futuramente, oferecer esses créditos no mercado voluntário. 

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