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Sustentabilidade

Abelhas e café: mistura pode render R$ 22 bilhões e uma bebida mais saborosa 

Pesquisa da Embrapa demonstrou aumento de produtividade, renda e qualidade nas plantas produzidas com polinizações

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

30/10/2024 - 05:10

Foto: Adobe Stock
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A flor do café guarda certas peculiaridades. Cerca de três a quatro dias depois de florescerem elas caem e também são hermafroditas, ou seja, possuem gametas masculinos e femininos, e, dessa forma, uma parte delas já abrem polinizadas. Mas, graças à visão de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi possível comprovar que, ainda assim, o cultivo do café arábica poderia ser beneficiado com a polinização de abelhas. Ou seja: ao se alimentarem das flores, os insetos ajudaram a espalhar o pólen.

“Nossa expectativa era encontrar impacto na produtividade. Mas a nossa surpresa foi o ganho na qualidade da bebida e no valor da saca”, afirma Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa e líder do estudo feito em 20 propriedades em São Paulo e Minas Gerais. Segundo ele, estudos anteriores já demonstravam que a integração traria benefícios, mas faltava verificar na prática.

CONTEÚDO PATROCINADO

Gustavo Facanali, produtor e sócio da Facanali Cafés, uma das fazendas de café arábica participantes do estudo, diz que achava difícil que as abelhas pudessem aumentar a produtividade. “Eu não esperava que iria bombar do jeito que está bombando. Fiquei abismado!”, conta. A propriedade em Espírito Santo do Pinhal, a 190 km da capital paulista, viu sua produtividade saltar de 110 para 128 sacas por hectare depois do experimento, o que significa R$ 27 mil a mais no faturamento por hectare.

Em média, os cafés polinizados aumentaram as notas na avaliação sensorial em 2,4 pontos. Como a pontuação vai de 0 a 100, em alguns casos isso representa sair de um café regular para um bom ou especial. Segundo Menezes, a polinização está entre os fatores que podem influenciar na qualidade do café, assim como solo, manejo e irrigação. Um exemplo é o impacto no teor de cafeína (já menor na espécie arábica), uma das substâncias responsáveis pelo amargor da bebida: o teor caiu 2,78% e ajudou na obtenção de notas mais altas na avaliação sensorial. 

Quanto à produtividade, o aumento médio foi de 16,5%. Os pesquisadores fizeram o exercício hipotético de aplicar esses resultados projetando o uso da técnica de polinização com abelhas em todo o café arábica do País (1,5 milhão de hectares, segundo a Conab). Isso geraria um acréscimo de R$ 22,4 bilhões na receita anual dos produtores.  

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Para o próximo ano, a Embrapa planeja lançar um programa para ajudar o produtor a implementar o consórcio abelha/café arábica. O APOIA-Polinização deve trazer informações sobre o manejo de abelhas, revitalização das áreas naturais, uso dos insumos agrícolas para controle de praga e produção e comercialização. 

Um exército de 200 mil abelhas

As abelhas do experimento foram fornecidas pela Agrobee, que promove a integração entre produtores rurais e criadores de abelhas. Esse tipo de processo de fecundação das flores conta com um exército de abelhas atuando nas plantas no período em que a florada é mais expressiva. No caso do estudo, foram 200 mil abelhas africanizadas por hectare.

“A polinização assistida é o maior potencial produtivo sustentável a ser desbloqueado no agronegócio brasileiro. Podemos aumentar significativamente a produção dessas grandes cadeias agrícolas, em que o Brasil é primeiro lugar, com manejo sustentável”, diz o CEO da Agrobee, Guilherme Sousa. 

A pesquisa nos cafezais também foi feita em parceria com a Syngenta para avaliar o manejo de um defensivo à base de tiametoxam. Menezes comenta que não houve impacto nas abelhas e reforça que o produto precisa seguir as orientações do fabricante para ter funcionalidade e não afetar as polinizadoras.

Ele também lembra de outras instituições que participaram da pesquisa. “Colaboraram para o estudo a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Natural England e a Eurofins”, pontua.

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