Summit Agro
Quais cultivos tolerantes à seca impulsionam a agricultura?
A água é fundamental para o desenvolvimento das lavouras. Veja quais culturas foram modificadas para sobreviver ao estresse hídrico.
3 minutos de leitura 06/09/2022 - 11:09
Por: Summit agro
O Brasil enfrentou a maior seca do último século em 2021, com mais de 2 mil municípios e sete Estados com 100% do território afetado pela estiagem. As mudanças climáticas podem comprometer a existência da agricultura no cerrado, segundo o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No entanto, o agronegócio brasileiro é conhecido pelos avanços tecnológicos, sobretudo quanto à genética dos cultivos. Isso permitiu a tropicalização de diversas culturas no passado e agora pode garantir a sobrevivência das lavouras a um estresse hídrico mais intenso com a manutenção da produtividade.
Alterações morfológicas para resistir à seca
As plantas tendem a perder mais água pela evapotranspiração e encontrar mais dificuldade para extrair os nutrientes por meio das raízes durante os períodos de seca. Como consequência do calor e da restrição do recurso hídrico, os vegetais apresentam menores taxas de crescimento, comprometendo a fisiologia e até morrendo.
O melhoramento genético, tanto pela seleção artificial das plantas quanto pela edição de genes, permite adaptações morfológicas para reduzir a perda e aumentar a absorção de água. Entre as principais estratégias, estão a redução das áreas das folhas e um maior desenvolvimento radicular.
Confira, a seguir, as adaptações dos principais cultivos do País.
Soja
A produção de soja no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Mato Grosso do Sul durante a safra 2021/2022 foi prejudicada pelo longo período de estiagem. Mais de 95% do grão são cultivados sob o regime de sequeiro, com uma necessidade de 450 mm a 800 mm de precipitação durante a temporada para alcançar a produtividade máxima.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em colaboração com institutos de pesquisa do Japão, conseguiu inserir um gene rudimentar nas sementes modernas de soja. Com isso, conseguiram tornar a cultura, pelo menos, 15% mais resistente à seca, sendo necessários apenas 380 mm de precipitação para o desenvolvimento da lavoura.
Milho
A seca provocou quebra na primeira safra de milho no Sul do Brasil. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
O milho é uma cultura extremamente sensível à seca. Dois dias de estresse hídrico durante o florescimento podem causar uma queda de rendimento em mais de 20%, e, se o período for entre quatro dias e oito dias, a produtividade pode cair pela metade. Isso ocorre porque as plantas fecham os estômatos e passam a consumir as suas reservas.
As sementes de milho tolerantes à seca foram desenvolvidas com técnicas de seleção genética e de transgenia. A Pioneer lançou dois híbridos que prometem incremento produtivo de 8% durante a estiagem; enquanto a Bayer testa plantas editadas geneticamente para serem mais baixas e resistirem melhor às mudanças climáticas.
Cana-de-açúcar
Os canaviais necessitam de 1,2 mil mm de água distribuídos ao longo do ano para proporcionar um desenvolvimento adequado. Sob falta de água, as raízes das plantas têm dificuldade para crescer, impactando na absorção dos nutrientes e na evolução dos colmos (onde fica armazenado o açúcar).
A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) desenvolveu a variedade RB0442, por meio de um melhoramento clássico. Genes de rusticidade, longevidade e de alta performance foram utilizados para proporcionar um ganho de produtividade de 24,5% e aumento de 11,5% no teor de açúcar sob estresse hídrico.
Trigo
O trigo é, tradicionalmente, uma cultura de inverno reservada às latitudes mais altas, como a Região Sul do Brasil e a Argentina, que necessita de alta disponibilidade hídrica para o seu desenvolvimento. As áreas irrigadas com o cultivo apresentam um rendimento médio três vezes superior aos cultivos de sequeiro.
Dessa forma, o cerrado brasileiro não é, naturalmente, um ambiente adequado para o cereal. Contudo, a Embrapa desenvolveu uma variedade resistente à seca, o que pode liberar mais de 2,7 milhões de hectares da Região Central do Brasil para o plantio do grão e ajudá-lo a reduzir a dependência das exportações.
Fonte: Fundação Roge, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Reuters, Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
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