Summit Agro
Por que o Brasil não produz fertilizantes?
Entenda de onde vem a dependência de insumos agrícolas no Brasil e por que o País deixou de investir na produção de fertilizantes
4 minutos de leitura 03/05/2022 - 15:00
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O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de alimentos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Apesar dessa potência, o Brasil não é autossuficiente e depende da importação de fertilizantes para chegar à colheita das suas safras.
Dos insumos agrícolas utilizados nacionalmente, 80% são importados, e 20% destes vêm da Rússia, a maior exportadora para o Brasil. Mas quais foram os motivos que levaram o país a não investir na produção de fertilizantes e ficar tão dependente do mercado externo?
Por que depender de fertilizantes?
Antes de entender os motivos que levaram o Brasil a parar de produzir fertilizantes, é necessário entender por que o país usa tanto esses insumos.
Os solos brasileiros são mais pobres em nutrientes importantes para as plantas, principalmente os da Região do Cerrado pelas suas características tropicais. Algumas das culturas mais plantadas no Brasil estão entre as plantas que mais carecem de nutrientes, como é o caso da soja.
Quando somados, soja, milho, cana-de-açúcar e algodão consomem 90% dos fertilizantes usados no País. Vale ressaltar que essas estão entre as principais commodities exportadas pelo Brasil que movem a agroindústria nacional.
Os principais nutrientes necessários para as plantas são sintetizados por nitrogênio, potássio e fósforo (NPK). O Brasil tem a capacidade e já chegou a ser grande produtor de fertilizantes, mas escolhas estratégicas e o menor custo dos produtos estrangeiros levaram à produção nacional a ficar defasada.
A Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) já chegou a ser a maior produtora mundial de nitrogenados, mas, em 2018, a empresa resolveu se retirar do setor para se concentrar em uma área mais lucrativa: petróleo e gás.
Muitas refinarias que produziam fertilizantes foram vendidas, como as dos Estados de Sergipe, Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul. Uma delas, inclusive, foi vendida para um grupo Russo, o Acron, que deve continuar produzindo ureia fertilizante.
Em 2020, a Petrobras ainda anunciou o processo de desinvestimento na Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), fábrica de fertilizantes no Paraná, e arrendou as outras fábricas no Sergipe e na Bahia. A Vale também vendeu plantas e investimentos em fertilizantes, neste caso o comprador foi o grupo norte-americano Mosaic.
Potencial para potássio
Em vista da crise dos fertilizantes causada pelo conflito da Rússia e Ucrânia, que gerou sanções à Rússia e deve encarecer os insumos, muitos tentam achar uma solução nacional.
É sabido que a Amazônia Legal abriga uma imensa reserva de potássio, e o governo quer aproveitar a situação para aprovar o Projeto de Lei (PL) nº 191 de 2020, que libera o garimpo em terras indígenas. Porém, após a péssima repercussão nacional e internacional do caso, as próprias mineradoras divulgaram nota se colocando contra o projeto.
De fato, a solução mágica pode não ser tão simples assim, o potássio brasileiro provém de uma rocha de nível de mineração muito mais difícil do que do leste Europeu e do Canadá, e a logística do processo deverá deixar o produto nacional mais caro do que o importado.
Nitrogenados
A ureia e outros produtos nitrogenados provêm do gás natural, e o custo do gás brasileiro impossibilita que o produto brasileiro seja competitivo. A Rússia tem as maiores reservas de gás natural do mundo e fornece cerca de 40% do gás natural utilizado pela Europa. Todo o sistema já existente, o tamanho das reservas e a logística já em curso fazem que seja impossível competir com o preço de seus produtos.
Fosfatados
Os fertilizantes fosfatados são um setor em que o Brasil tem uma indústria que produz e até exporta. A produção vem crescendo nos últimos anos, porém o custo de importar produtos do Oriente Médio ainda é menor.
Próximos passos
Pelas dificuldades tecnológicas e logísticas, pelo abandono do investimento no setor e pelas privatizações, o Brasil deixou de produzir fertilizantes em um nível relevante para a produção nacional.
Por isso, em um primeiro momento, a solução é procurar novos parceiros exportadores (principalmente o Canadá). Especialistas alertam, porém, que a falta da oferta russa de fertilizantes pode causar um desequilíbrio na balança do produto, e alguns países podem ficar sem o produto, e os que conseguirem deverão pagar bem mais caro.
A curto e médio prazos, o Brasil não tem planos de voltar a produzir os insumos, e a esperança é que a situação do conflito entre Rússia e Ucrânia se resolva o quanto antes para que as sanções que afetam a importação de fertilizantes acabem rápido.
Fonte: Jacto, Duagro, Climate Field View.
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