Pecuária
Quem perde com o tarifaço dos EUA sobre a carne brasileira?
Após tarifa, custo da carne brasileira no mercado norte-americano sobe para US$ 8.400 por tonelada e perde competitividade

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
07/08/2025 - 05:00

O setor de carne bovina não escapou do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos (EUA) à produtos brasileiros, apesar das tentativas de negociação. Com a alta da alíquota vinda de seu segundo maior cliente, os exportadores brasileiros já estimaram prejuízos bilionários em receita neste ano.
Porém, quem primeiro sentiu o efeito do tarifa — antes mesmo de entrar em vigor —, foram os pecuaristas, conforme o Agro Estadão noticiou. Esse efeito negativo no campo, tem se afastado aos poucos, no entanto, ainda deixando a dúvida: quem perderá mais com a tarifa norte-americana sobre a carne bovina brasileira? Na mesa de opções: indústria, pecuaristas e o consumidor norte-americano.
Segundo o coordenador de mercados de Safras & Mercado, Fernando Iglesias, neste primeiro momento, o impacto será sentido pela indústria que deverá reorganizar suas rotas de exportação. O desafio será buscar mercados que absorvam o volume destinado aos EUA, mas sobretudo, paguem tão bem quanto os norte-americanos. “A perda dos Estados Unidos vai ser mais sentida em termos de preço e de arrecadação do que necessariamente de volume. O Brasil não vai perder dinheiro nesse sentido, vai deixar de ganhar”, afirma Iglesias
Conforme a Safras & Mercado, o mercado norte-americano pagava em média US$ 6.100 por tonelada de carne bovina brasileira — valor inferior à outros mercados, como o Australiano, em que os norte-americanos chegam a pagar US$ 7.100 por tonelada, em média.
No entanto, com a nova tarifa de 50%, o custo da carne brasileira no mercado norte-americano sobe para US$ 8.400 por tonelada, tornando o produto menos competitivo que a carne da Austrália, Uruguai e Argentina — países que, de acordo com o especialista, devem ganhar espaço nos EUA.
Fonte: Safras&Mercado
Com a margem mais apertada, a indústria brasileira será forçada a buscar alternativas. “Eles [Austrália, Uruguai e Argentina] vivem uma situação que podemos chamar de cobertor curto. O que eu quero dizer com isso? Eles não vão conseguir priorizar a exportação para os Estados Unidos sem desabastecer alguma outra frente […]”, explica Iglesias. “E nesses mercados que vão deixar de ser abastecidos por esses players, é aí que o Brasil entra, pois hoje, quando a gente olha para a capacidade de produção dentro do setor carnes, o Brasil é o único que pode para atacar várias frentes de demanda simultaneamente”, complementa.
Pressão baixista no campo se distancia
Após o impacto inicial do tarifaço, que derrubou os preços da arroba do boi gordo para abaixo de R$ 300 em algumas praças, o mercado pecuário já começa a mostrar sinais de recuperação. Segundo Fernando Iglesias, da Safras & Mercado, o pior momento para o produtor ficou para trás — e o setor deve, agora, iniciar uma trajetória mais firme de valorização.
“Nossa expectativa é que o mercado do boi comece a engatilhar movimentos de alta mais sequenciais. Vai ter espaço para mais reajustes ao longo do mercado pecuário”, afirma.
A previsão é de reajustes positivos nos preços da arroba nos próximos meses, sustentados principalmente por dois fatores: as exportações ainda aquecidas e a chegada do período de maior consumo no mercado interno. O último quadrimestre do ano costuma trazer aumento da demanda, impulsionado por 13º salário, férias, bonificações e geração de empregos temporários — elementos que ajudam a movimentar o varejo e o consumo de carne.
A carne do consumidor nos EUA
A conta do tarifaço também deve chegar ao bolso do consumidor norte-americano. Com a saída da carne brasileira, o país deverá depender de fornecedores mais caros. Sem a carne brasileira para conter os preços, a tendência é de pressão inflacionária no mercado de proteínas dos EUA. “Uma arroba do boi gordo no Brasil oscila entre US$ 50 e US$ 55, dependendo do estado. Nos EUA, essa mesma arroba custa entre US$ 120 e US$ 130”, compara Iglesias. “Ou seja, até é possível encontrar fornecedores alternativos, mas a preços bem mais altos do que o Brasil vinha ofertando”, diz.
O especialista lembra ainda que os Estados Unidos enfrentam um momento delicado na pecuária doméstica, com o menor rebanho desde a década de 1960. Isso reduz a capacidade do país de ampliar rapidamente sua oferta interna.

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