Pecuária
Dia do Pecuarista: produtor desenvolve técnica que eleva em 80% a produção de bezerros
Usando de sêmen sexado e material genético com “peso negativo ao nascimento”, pecuarista já produziu mais de 40 mil gestações gemelares no Brasil

Andrea Russo | São Paulo | andrea.russo@estadao.com | Atualizada às 09h13
15/07/2025 - 05:00

Por muito tempo, na literatura veterinária, a gestação gemelar era vista como um problema para bovinocultura. Mas um protocolo desenvolvido por um pecuarista de Rondônia tem apresentado resultados que comprovam o contrário. Com o manejo adequado, a gestação gemelar vem aumentando a produtividade e atendendo o desafio da pecuária de produzir mais por hectare.
Carlos Freitas, engenheiro agrônomo e também pecuarista, começou a desafiar a capacidade de reprodução seu rebanho em 2016, na fazenda Santo Antônio em Ji-Paraná, para aumentar o desfrute da propriedade. Entre uma seleção e outra, conseguiu chegar em um protocolo, patenteado por ele, que possibilitou aumentar o nascimento de bezerros em mais de 80%.
A eficácia da técnica depende da combinação de algumas variáveis. A primeira delas é o uso da genética de touros com índices de “peso negativo ao nascimento” — um indicativo do melhoramento genético que determina a probabilidade do nascimento de bezerros menores, que facilita a gestação e o parto.
O sêmen destes touros, usado em fertilização in vitro (FIV), possibilita a produção de embriões, implantados em dupla em matrizes com forte habilidade materna. “O touro determina o tamanho do animal, mas também usamos receptoras com excelente habilidade materna — parâmetro que aferimos nos partos anteriores”, explica.
Ainda assim, o pecuarista explica que dificilmente uma vaca produz leite suficiente para mais de um bezerro. É nesta fase que entra o protocolo de manejo nutricional criado por ele. “Desenvolvemos o tronco mamatório, um sistema automático, onde o bezerro recebe uma combinação de creep feed (cocho privativo) adaptado com suplementação mineral e de leite”.
O pecuarista ainda afirma que, até os três meses, os bezerros gemelares costumam ter peso inferior em relação aos nascidos em gestação singular. No entanto, com o manejo nutricional desenvolvido por ele, o ganho de peso começa a se igualar a partir do quarto mês.
Taxa de eficiência

A técnica do pecuarista Carlos Freitas ganhou escala nos últimos anos e soma, hoje, 40 mil gestações cadastradas desde a publicação da patente, em 2023, que leva o nome Inova Teck.
Fazendas das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país já usam o protocolo, que começa também a ser implantado em propriedades do Matopiba. “Temos alcançado uma taxa de 85% de gestações gemelares a cada 100 vacas”, afirma Freitas. Conforme dados do pecuarista, apenas 1% dos partos são natimortos e 2% apresentam distocia (dificuldade de parto) — índices, segundo ele, considerados baixos para esse tipo de reprodução.
Ele ainda conta que o fenômeno de freemartin, caracterizado pelo nascimento de macho e fêmea na mesma gestação, comprometendo a fertilidade da fêmea, é próximo de zero. “Usamos sêmen sexado, o que garante gestações gemelares com bezerros do mesmo sexo”, explica o êxito.
Pré-requisitos da técnica
Freitas diz que a produção gemelar é inédita no Brasil. “Só vi algo parecido na África do Sul, mas com gado leiteiro.” Contudo, o pecuarista — que agora dá consultoria sobre essa técnica — diz que o protocolo pode ser aplicado independentemente da raça, tanto de corte como de leite. “Tenho tido experiências com exemplares Nelore, Guzerá, Angus, Simental e Brangus e, mais recentemente, com o Girolando, que tem excelentes fêmeas porque produz leite em abundância”.
Mas o pecuarista alerta que as fazendas que desejam apostar na técnica de produção gemelar devem ter uma boa gestão baseada no tripé: nutrição, sanidade e equipe de manejo. “Determinamos uma pontuação/escore acima de seis como pré-requisito para o ingresso na gemelaridade”.

Do ponto de vista de viabilidade econômica, o pecuarista explica que a técnica traz incremento na receita das fazendas sem alterar os custos, aumentando o desfrute das fêmeas doadoras e fazendo melhor uso do material genético. “Essa tecnologia representa um salto gigantesco para a pecuária, possibilitando um aumento substancial na produção de bezerros sem a necessidade de expandir o rebanho”, finaliza Freitas.
O que diz a ciência?
A técnica é vista com bons olhos pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Eriklis Nogueira. A reprodução gemelar, segundo ele, aumenta a produtividade do rebanho, por conta do longo processo reprodutivo da bovinocultura, e melhora a rentabilidade do pecuarista. No entanto, alerta para o quesito bem-estar animal. “Tem pouco produtor que faz, principalmente por conta do alto índice de aborto. Precisa de investimento para dar certo”, diz o especialista.
Entre as recomendações do pesquisador, está a aplicação de melhoramento genético, a escolha de vacas adultas para gestação, principalmente cruzadas e com histórico de habilidade materna, e boa nutrição para os bezerros recém-nascidos. “Não é uma reprodução qualquer, a fazenda tem que ter controle e boa estrutura para fazer”, finaliza.

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