PUBLICIDADE

Inovação

Pesquisadores usam IA para avaliar maciez e gordura da carne

Equipamento analisou fotos de contrafilé bovino e lombo suíno e teve taxas de acerto maiores que em testes feitos com consumidores

Nome Colunistas

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

09/09/2025 - 07:00

Contrafilé bovino foi um dos cortes avaliados: pesquisadores treinaram sistema com foto de 924 bifes. Foto: Dário Oliveira/Arquivo Pessoal
Contrafilé bovino foi um dos cortes avaliados: pesquisadores treinaram sistema com foto de 924 bifes. Foto: Dário Oliveira/Arquivo Pessoal

Uma tecnologia capaz de avaliar, usando Inteligência Artificial (IA), a maciez e a gordura presente em um corte de carne. Foi isso o que cientistas de três países — Brasil, Canadá e Estados Unidos — desenvolveram a partir de fotografias de bifes de contrafilé bovino e de lombo suíno. Eles utilizaram uma máquina que possibilitou taxas de acerto maiores em comparação com testes feitos diretamente com consumidores. 

O pesquisador Dário Augusto Borges Oliveira, da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp), que participou do estudo, publicado pela revista científica internacional Meat Science, explica que a tecnologia é parte de um objetivo maior, que é o de desenvolver um sistema que um dia chegue na ponta final da cadeia produtiva. Isso permitiria, a clientes de açougues e supermercados, avaliar a qualidade da carne no local da compra. 

CONTEÚDO PATROCINADO

“Seria possível, a partir de visão computacional, medir o teor de gordura e maciez dos cortes, já que essas são informações que não vêm junto com o produto? Essa foi uma das questões que motivaram esse trabalho”, conta Oliveira. 

O pesquisador Dário Oliveira, da FGV, contribuiu para treinar redes neurais capazes de fazer a avaliação dos cortes. Foto: Dário Oliveira/Arquivo Pessoal

O modelo de inteligência artificial foi treinado com imagens de 924 bifes de contrafilé bovino e 514 de lombo suíno, capturadas em ambiente controlado e com iluminação padronizada pela equipe do pesquisador Márcio Duarte, especialista em qualidade da carne, da Universidade de Guelph, no Canadá. A partir delas, outro pesquisador, João Dórea, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, desenvolveu um projeto, conduzido por Guilherme Lobato Menezes e com a colaboração de Oliveira, da FGV, para treinar redes neurais que tivessem condições de fazer a avaliação dos cortes. 

Cada foto foi associada a dados gerados em laboratório, como a força de cisalhamento, que aponta o quanto de esforço físico é necessário para cortar os tipos de carne avaliados, e o percentual de gordura entre as fibras musculares. Isso possibilitou à tecnologia classificar os cortes nas categorias “macia”, “intermediária” e “dura”. Além disso, os pesquisadores aplicaram testes de regressão, que permitiram obter valores exatos de maciez e gordura. Dessa forma, o modelo de IA estimou, a partir das fotografias, medidas que eram obtidas somente com métodos de laboratório. 

PUBLICIDADE

A avaliação dos bifes foi feita a partir de pares formados aleatoriamente, em que cada um dos cortes era proveniente de raças diferentes, tanto os de bovinos quanto os de suínos. De cada par, o sistema avaliava o cisalhamento e o percentual de gordura e apontava qual dos pedaços era considerado o mais macio.

Guilherme Menezes, o quarto da esquerda para a direita, com grupo de pesquisa da Universidade de Wisconsin-Madison. Foto: Guilherme Menezes/Arquivo Pessoal

Paralelamente, os pesquisadores submeteram pares de cortes a uma análise de 130 consumidores, que experimentavam e davam suas opiniões. A taxa média de acerto sobre maciez entre os participantes humanos, que comeram apenas carne bovina — já que a suína tinha bastante similaridade entre os cortes —, foi de 46,7%, enquanto a do modelo de IA atingiu 76,5%. A de carne suína, especificamente, que, apesar de não ter sido submetida aos consumidores, foi avaliada pelo sistema, bateu a marca dos 81,5%. Já em relação à quantidade de gordura muscular, a IA acertou em 77% das vezes para a carne bovina e em 79% para a suína.  

Perspectivas

De acordo com Oliveira, a tecnologia deve ser testada agora em outros tipos de carne e com diferentes iluminações, o que deve favorecer, também, um aprimoramento para que as taxas de acerto sejam cada vez maiores. 

Segundo ele, caso a metodologia seja popularizada, embarcada, por exemplo, em celulares, pode contribuir para dar suporte a uma precificação melhor do produto por parte das indústrias, que seja baseada na qualidade real, e para que os consumidores possam avaliar, in loco, o produto que estão levando para casa. “Eles poderiam tirar uma foto no momento da compra e um aplicativo faria a análise”, diz Oliveira. 

Para o pesquisador Guilherme Menezes, ter condições de estimar, da forma mais precisa possível, a gordura intramuscular representa um passo importante na cadeia de produção, já que este é um elemento que influencia a suculência e o sabor da carne. “A pesquisa consegue prever esse percentual, de forma que o consumidor pode ser mais específico sobre o produto que deseja, o que, apenas olhando, é algo impossível de saber”. 

Por enquanto, as análises estão restritas à pesquisa, mas os pesquisadores esperam que haja o interesse de startups em desenvolver ferramentas para transferi-las ao cotidiano das pessoas que apreciam carnes. “Considerando que o Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de carne do mundo, esse tipo de tecnologia pode transformar toda a cadeia, comercialização e consumo”, conclui Oliveira.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Inteligência Artificial: máquinas que 'pensam' ajudam o produtor

Inovação

Inteligência Artificial: máquinas que 'pensam' ajudam o produtor

Sensores, drones e satélites alimentam a IA para monitorar plantas e animais, permitindo ações proativas e evitando perdas na fazenda

Ridesa Brasil lança 18 variedades de cana em Ribeirão Preto (SP)

Inovação

Ridesa Brasil lança 18 variedades de cana em Ribeirão Preto (SP)

Rede interuniversitária destaca ganhos de produtividade e resistência de até 33,9% em cultivares

CropLife Brasil lança o CropData, plataforma de dados do setor

Inovação

CropLife Brasil lança o CropData, plataforma de dados do setor

Portal integra dados sobre sementes, bioinsumos e defensivos, com boletins e análises periódicas do desempenho do setor

Agtechs colocam Brasil em nova era da agricultura inteligente

Inovação

Agtechs colocam Brasil em nova era da agricultura inteligente

Número de startups do agro cresceu 27% no País nos últimos cinco anos e já representa cerca de 80% de todas agtechs da América do Sul

PUBLICIDADE

Inovação

Agricultura espacial pode impulsionar soluções sustentáveis na Terra

Pesquisas sobre cultivo de plantas fora da Terra devem ajudar a enfrentar as mudanças climáticas

Inovação

Setor de cachaças artesanais aposta em selo para garantir origem e autenticidade

Após casos de contaminação por metanol, modelo atual será reformulado para reforçar segurança e recuperar a confiança dos consumidores

Inovação

Pesquisa comprova que bactérias ajudam a produzir tilápias em sistema de bioflocos

Produtores também têm observado ganhos com relação a sanidade dos peixes

Inovação

Ministério da Agricultura lança plataforma para integrar investidores e startups 

Ao todo, 15 Estados já assinaram um protocolo de intenções para participar da ferramenta que pretende ser uma vitrine de inovações

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.