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Embrapa cria fibra para embalagem que muda de cor quando o peixe estraga 

Material com pigmento de repolho roxo tem baixo custo e promete trazer maior segurança ao consumidor 

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

07/05/2025 - 09:20

Foto: Matheus Falanga/Embrapa
Foto: Matheus Falanga/Embrapa

Uma embalagem que começa a mudar de cor quando o peixe está estragando. Que é roxa e fica azul durante o monitoramento de um filé de tilápia ou de merluza. Esse é um dos resultados obtidos pelo pesquisador Josemar Gonçalves de Oliveira Filho em sua pesquisa de pós-doutorado, que vem sendo desenvolvida na Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP). 

A tecnologia é uma nanofibra, feita com polímeros biodegradáveis e pigmentos naturais, extraídos do repolho roxo: as antocianinas. São elas as responsáveis pela alteração de coloração quando em contato com compostos liberados pelos alimentos em processo de deterioração. 

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Os estudos são orientados pelo professor Luiz Henrique Capparelli Mattoso, no Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA), abrigado na Embrapa, em parceria com Departamento de Engenharia Mecânica e Industrial da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos. 

Josemar passou um ano em solo americano, em contato com o professor Alexander Yarin, considerado um papa do desenvolvimento de nanofibras. Diversos pigmentos vegetais e até alguns sintéticos foram testados, e as antocianinas do repolho foram as que apresentaram os melhores resultados. 

“A gente trabalhou com um resíduo do varejo. Aquele repolho com folhas amassadas, que não serve para consumo. Conseguimos agregar valor a algo que seria descartado, jogado no lixo”, explica o pós-doutorando.   

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Ainda segundo Josemar, esse pigmento natural apresenta diferentes tonalidades de cor conforme o pH do produto analisado. Por exemplo: em um dos experimentos, a cor roxa demonstrou que o alimento era próprio para consumo. Após 24 horas, ela ficou menos intensa. Em 48 horas, surgiram tons em azul com aspecto acinzentado. Já depois de 72 horas, o azul intenso apontou que o filé havia estragado. Isso sem a necessidade de abrir a embalagem. 

Inteligentes

embalagem embrapa
Foto: Matheus Falanga/Embrapa

Segundo os pesquisadores, esses resultados demonstram que mantas de nanofibras se comportam como materiais inteligentes. Até agora, no entanto, elas foram avaliadas apenas em tilápia e merluza. Eles afirmam ser necessário ampliar as investigações para validar sua aplicação em mais espécies — a próxima será o salmão. Outros tipos de alimentos também deverão ser testados, como leites e queijos. 

“Para pescados, geralmente, o princípio de deterioração é o mesmo. Então, a gente acredita que não tem muita diferença entre uma espécie e outra, mas precisa validar isso”, explica Josemar. Apesar de não apontar prazos, ele acredita no potencial da pesquisa para a embalagem chegar até nossas casas. Isso porque a produção é escalonável e de baixo custo. É necessário um período de apenas 12 a 24 horas para obter a fibra. “A literatura científica aponta que, geralmente, se usa eletricidade e materiais sintéticos com custos elevados. A gente levou todos esses parâmetros em consideração para chegar em um produto que seja obtido de forma rápida e com matérias-primas simples, para baratear os custos”, diz Josemar. 

Além das antocianinas, são usados um polímero conhecido como policraprolactona e ácido acético. Na sequência, essa mistura é introduzida em equipamento que tem uma fonte de ar comprimido, um regulador de pressão, uma bomba de injeção e um coletor com velocidade de rotação ajustável, onde as nanofibras são depositadas para formar uma manta. O resultado são fibras em escala manométrica, semelhantes às de algodão. 

“Ao desenvolver uma embalagem com essa nanofibra, a gente agrega vários conceitos. Primeiro que não é apenas algo para embrulhar peixe, mas para oferecer segurança ao consumidor. Depois, a gente vê várias empresas priorizando o conceito de ‘renovável’. E, nesse sentido, temos um produto de resíduo reutilizável, que reforça a circularidade”, declara Mattoso. 

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Histórico

A LNNA detém a patente da nanofibra desde 2009, junto com o USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. No ano anterior, o laboratório havia começado a se aproximar de profissionais de várias áreas que contribuíssem em pesquisas voltadas ao agronegócio. Desde então, ela vem sendo usada para finalidades diversas, como liberação controlada de pesticidas e fertilizantes, e até em outros segmentos, como medicina e farmácia. 

A aplicação em alimentos é recente e representa um avanço, na visão dos pesquisadores. “A gente pode até usar para recobrir frutas. Para isso, se coloca um bactericida na embalagem em contato com essas frutas para retardar a deterioração”, explica Mattoso. 

Foto: Matheus Falanga/Embrapa

A escolha do peixe para a pesquisa considerou o fato de este tipo de alimento ser muito perecível. “Além de se estragar facilmente, é usado em muitas preparações em que é consumido cru, como os restaurantes de comida japonesa”, declara Josemar. “E para esse tipo de produto, que não passa por um tratamento térmico, é muito importante garantir a qualidade e, para isso, é necessário um monitoramento adicional”, acrescenta. 

Os pesquisadores buscam, agora, parceria com empresas para testar a nanofibra direto nos supermercados. “Antigamente, as empresas que nos procuraram já queriam uma coisa pronta. Hoje, estão entendendo que pesquisas levam tempo e que precisam investir um pouquinho mais. Já temos o protótipo testado. Agora, falta ir para uma condição real de mercado”, conclui Mattoso. 

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