Inovação
Combate ao bicudo, sementes resistentes e extensor de pivô: novidades no Congresso do Algodão
Empresas também anunciaram inovações para as lavouras de algodão que estão previstas para as próximas safras
Daumildo Júnior* | Fortaleza | daumildo.junior@estadao.com
07/09/2024 - 09:00

A cada dois anos, produtores, empresas e players do segmento do algodão se reúnem no Congresso Brasileiro de Algodão (CBA). Uma das características desse evento é o número de lançamentos e novidades voltadas para a cultura que costuma atrair os cotonicultores. Neste ano, foram 60 empresas expondo produtos, tecnologias ou apenas se posicionado para esse público.
Por isso, o Agro Estadão foi atrás das principais inovações lançadas durante o 14º CBA. São desde defensivos agrícolas até plataformas voltadas para agricultura digital e de precisão.
Biotecnologia para sementes
As multinacionais Bayer e BASF já têm linhas com variedades resistentes a diferentes pragas e herbicidas. Porém, elas resolveram ampliar a oferta e trouxeram como uma das grandes novidades produtos que são resistentes aos defensivos aplicados na fase pré-emergente – antes do algodão aparecer a olho nu no campo.
No caso da Basf, o lançamento foi o Sistema Seletio, conceituado como “um sistema de manejo de plantas daninhas”. As variedades de algodão com essa tecnologia prometem resistência ao herbicida Durance S, que é aplicado nesta etapa de pré-emergência da planta. Além disso, o Sistema Seletio também contém as tecnologias de resistência aos herbicidas à base de glifosato e de glufosinato, assim como a inclusão de proteínas que impedem ações de lagartas. Ambas inovações já estavam presentes em outras variedades comercializadas pela empresa.
O gerente sênior de Marketing de Cultivo Algodão da Basf, Warley Palota, acrescenta que o Sistema Seletio traz a novidade de ser resistente ao ataque de nematoides do tipo rotylenchus, além de ser eficaz contra o tipo galha. “A resistência a nematoides pode aumentar entre 15% e 20% a produtividade se for plantado em uma área com histórico desses microrganismos”, diz Palota ao Agro Estadão.
De acordo com a empresa, o produto estará disponível no portfólio da Fibermax e, inicialmente, deve contar com até três variedades. A tecnologia promete aumentar a produtividade em 3% a 5%.
A Bayer apresentou o Bollgard 3 XtendFlex, a terceira geração da família Bollgard no Brasil. A tecnologia incorpora a resistência ao glufosinato e ao dicamba, além de manter a tolerância ao glifosato. O dicamba é usado para dessecação do terreno antes do plantio e o glufosinato de amônia tem a finalidade de controlar as plantas daninhas nas fases em que o algodão já está mais desenvolvido.
“De forma geral, o manejo de plantas daninhas é hoje a grande dificuldade do agricultor”, afirma o líder de Produto de Soja e Algodão da divisão agrícola da Bayer no Brasil, Fernando Prudente. Ele também comenta que a tecnologia mantém as proteções contra seis tipos de lagartas, o que já era observado na geração anterior do Bollgard.
O resultado é um acréscimo na produtividade, segundo Prudente. “Os nossos estudos mostram um incremento de produtividade de onze arrobas por hectare”, diz. A expectativa da empresa é ofertar ao mercado seis variedades de algodão ainda nesta safra.
Defensivos, biodefensivos e inibidores
Fungos, insetos e plantas daninhas são responsáveis por perdas na produtividade. Por isso, as empresas também estão apostando em novos produtos para combater essas adversidades do plantio.
- Azugro: solução contra plantas daninhas apresentada pela FMC Agrícola. O produto é a base de um princípio ativo novo, o bixlozone. Segundo o gerente de Algodão da FMC, Fabio Lemos, o produto é para uso pré-emergente e com um bom controle especialmente para o capim pé de galinha. “Hoje, o pé de galinha é o principal problema do cotonicultor no manejo das plantas daninhas”, complementa. Além do algodão, esse princípio ativo também pode ser utilizado nas culturas de arroz, trigo e tabaco.
- Sponta: inseticida desenvolvido pela Syngenta tem foco no combate ao bicudo do algodão. A praga que praticamente dizimou a cultura na década de 1980 ainda requer atenção. Além do bicudo, o produto tem atuação contra ácaros e tripes. O princípio ativo plinazolim também é novo no Brasil. “A recomendação é trabalhar em baterias. São três aplicações de 80 ml por hectare na fase de 70 a 100 dias [do algodão]. Com isso, a gente pega a mesma geração de bicudo trabalhando assim até o conceito de resistência”, diz Rafael Borba, gerente de Marketing do Algodão da Syngenta.
- Attila: novidade da Bayer para o enfrentamento do mofo branco. O fungicida é focado no controle desse fungo na cultura do algodão. Possui o princípio ativo fluoripam e é indicado principalmente para áreas irrigadas ou que tenham alta umidade.
- Vinquo: outro lançamento da Basf, o inseticida é para controle do pulgão, que pode ser um problema para a produtividade e qualidade do algodão. Isso porque os pulgões, além de sugarem a seiva da planta, também excretam substâncias açucaradas que depois podem originar a fumagina, ou algodão doce, na pluma. No processamento da fibra, isso pode ocasionar prejuízos, por isso, empresas não compram esse algodão. Segundo a Basf, o Vinquo tem o princípio ativo afidopiropeno, uma molécula nova e que não há relato de insetos resistentes a ela.
- KBT Redox: o nome vem de Redução das Espécies Oxidativas de Oxigênio, isso porque o produto não é um fisioativador que ajuda na mitigação das altas temperaturas. Como pontua o gerente de portfólio da Kimberlit, Bruno Neves, “com temperaturas altas, a planta reduz a fotossíntese, que consequentemente reduz o desenvolvimento e produtividade da planta”. Em testes, o produto alcançou redução entre 1,3ºC e 1,8ºC na folha da planta e é indicado para diminuir o estresse térmico da lavoura.
- Dissara: bioinseticida da Bionat, a solução tem foco no controle de lagartas. É formado por um mix de bacilos (bactéria) com metarhizium (fungo). É recomendado para combate da lagarta da soja, lagarta falsa medideira, lagarta helicoverpa, lagarta do cartucho, lagarta preta e lagarta das folhas. Um diferencial é a ação contra diferentes fases do inseto, sejam eles pequenos ou grandes.
Agricultura irrigada e digital
Apesar de corresponder a cerca de 8% de tudo que é plantado no Brasil, o algodão irrigado tem crescido em áreas como o oeste da Bahia. O diretor comercial e de marketing da Lindsay, Cristiano Trevizam, ressalta que mesmo sendo uma inovação dentro da cultura, muitos produtores têm procurado implementar a irrigação para trazer mais estabilidade de produção.
A empresa apresentou no Congresso a novidade Custom Corner, que é uma espécie de pivô central estendido. “Além de fazer o círculo, esse pivô tem na extremidade dele uma extensão que amplia em até 25% a área irrigada”, reforçou. Basicamente, ele alcança áreas chamadas de calcinhas – termo utilizado para nomear as áreas que ficam fora do círculo do pivô central. “O pivô sai de uma geometria circular pura, para um layout quase que quadrado, irrigando a área plena do produtor”, complementa Trevizam.
Além disso, a Lindsay também apresentou um sistema de gestão hídrica para a irrigação. Esse monitoramento e aplicação de água é feito pelo Sistema FieldNet, que praticamente automatiza a irrigação utilizando o GPS.
Na área de agricultura digital, outras empresas também mostram as novidades:
- Plantio em taxa variável: o algodão terá um plantio de precisão dentro do xarvio, plataforma da BASF. Com o mapeamento do solo e a escolha da variedade, o sistema gera uma recomendação de plantio com distribuição diferente de semente em um mesmo talhão. Segundo o gerente da multinacional, Warley Palota, isso tem um incremento de 6% a 8% na produtividade. O sistema já estava operacional para outras culturas, como soja e milho, e agora passa a ser aplicada para o algodão.
- Cropwise e Perfect Flight: a Syngenta também anunciou novidades na sua plataforma de agricultura digital. Agora, os produtores poderão adquirir o serviço de pulverização aérea monitorada. A parceria com a startup Perfect Flight foi divulgada durante o evento e foi o que abriu o campo desse serviço.
O que vem por aí?
Algumas empresas também anteciparam o que deve ter no mercado nos próximos anos. É o caso do tymirium, uma nova molécula desenvolvida pela Syngenta e que está em fase de registro. Como explica o gerente de Marketing de Produto para Tratamento de Sementes da empresa, Leonardo Cavada, a novidade vai resguardar as sementes contra nematoides e patógenos de solos.
“No algodão, a gente tem um desafio tremendo que é o estabelecimento de cultura”. Além disso, o gerente comentou que será a “primeira vez que teremos um tratamento de semente trazendo controle também para doenças foliares”. A expectativa é ter o produto já na safra 2025/2026.
Quem também divulgou produtos em fase de registro foi a Corteva. O primeiro é o fluazaindolizine, um nematicida para controle dos gêneros Rotylenchulus e Meloidogyne. A substância também promete ter um alto nível de seletividade, o que pode ser incluído em manejos com biológicos. O segundo é um fungicida à base de florylpicoxamida. A molécula é tida como inovadora pela empresa e tem um bom resultado contra a ramulária. Ambos ainda não tem previsão de lançamento.
*Jornalista viajou a Fortaleza (CE) a convite da Abrapa
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