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Produção de queijos artesanais e turismo agregam valor à pecuária leiteira paulista

No Vale do Paraíba, maior bacia leiteira do estado, presidente do Sindicato Rural de Cruzeiro (SP) aponta desafios e alternativas para garantir permanência na atividade

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

28/06/2025 - 08:00

Médico veterinário, Wander se dedica a pensar maneiras de agregar valor à pecuária leiteira - Foto: João Carlos Faria
Médico veterinário, Wander se dedica a pensar maneiras de agregar valor à pecuária leiteira - Foto: João Carlos Faria

Da quinta geração de uma família de pecuaristas de leite, Wander Bastos enfrenta o desafio de coordenar não apenas a própria atividade. Como presidente do Sindicato Rural de Cruzeiro (SP), no Vale do Paraíba, busca encontrar caminhos para ajudar os produtores da região, onde está a maior bacia leiteira do estado, a se manter no negócio – que enfrentou anos difíceis – e, mais que isso, a agregar valor.

Entre as propostas, estão a produção de queijos artesanais, o estímulo ao turismo e dois grandes programas ambientais, que buscam aliar preservação com melhoria da eficiência, da produtividade e, consequentemente, da rentabilidade dos pecuaristas. Para dar conta das demandas, Wander participa de algumas das principais instituições ligadas à cadeia leiteira e ao agronegócio como um todo no país.

Médico veterinário, também é presidente da Associação dos Sindicatos Rurais do Vale do Paraíba, coordenador da Comissão de Pecuária Leiteira da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), membro da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), diretor técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), entre outras.

Ao Agro Estadão, ele falou sobre a evolução e os rumos da pecuária leiteira, o trabalho em Cruzeiro e os desafios para promover uma agropecuária sustentável.

Você é da quinta geração de uma família de pecuaristas de leite. Como avalia a
evolução dessa cadeia em São Paulo e o panorama da atividade hoje?

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Em São Paulo, houve uma diminuição na produção nos últimos anos, apesar de termos uma grande demanda, quase seis vezes maior do que a que produzimos. Nossa produção está estagnada há alguns anos, com produtores médios e pequenos saindo da atividade e grandes produções crescendo cada vez mais. Passamos por anos difíceis, principalmente nos dois últimos, com aumento dos custos de produção e preços baixos. Somos o maior mercado consumidor do país, porém precisamos de estabilidade financeira para aumentar ou manter o consumo dos produtos lácteos, como iogurte, queijos tradicionais, finos e artesanais, produtos que agregam valor e incentivam o aumento da produção. São Paulo é pioneiro na comercialização do leite A2, de melhor digestibilidade, e também na grande oferta de diferentes queijos artesanais, bem como na inovação com os queijos autorais, mantendo o estado na vanguarda.

Quais as perspectivas e desafios da pecuária leiteira para os próximos anos?

O consumo está bom e, com isso, houve uma melhora na remuneração pelo produto. Os custos de produção já foram mais altos, portanto, há uma margem de renda e previsão de estabilidade. As baixas temperaturas desta semana podem ocasionar, em médio prazo, uma diminuição na produção, o que aumentaria a demanda e melhoraria a remuneração. O desafio da atividade “dentro da porteira” será sempre a produção de alimentos para os animais, bem como a gestão da propriedade. É importante saber relacionar os índices zootécnicos com os financeiros. A sucessão familiar e a comunicação com o consumidor final são temas que temos priorizado em nossos debates e discussões. Acredito que, “fora da porteira”, temos esses dois grandes desafios.

Agregados à pecuária leiteira, o Sindicato Rural de Cruzeiro tem trabalhos de produção de queijos artesanais e de turismo rural. Quais os benefícios dessas atividades para agregar valor ao leite?

O queijo artesanal, após ter sua regulamentação atualizada – ou seja, adaptada à realidade, valorizando o produto e dando oportunidade para que pequenas produções se viabilizem – tornou-se uma grande oportunidade para pequenos e médios produtores se manterem na atividade. Essa é uma chance de agregar valor e tornar o negócio rentável, lembrando sempre que a produção pode ser pequena ou média, mas precisa ser eficiente. Caso contrário, não se estabelece no mercado. Junto à produção artesanal, surge o turismo rural com seus circuitos. Seguindo o caminho dos vinhos e azeites, os queijos artesanais hoje em São Paulo também contam com seus próprios roteiros, incluindo visitas a queijarias – um trabalho conjunto entre entidades e o governo que vem dando ótimos resultados. Vale lembrar que o turismo de experiência – como conhecer e viver um dia na fazenda –, o turismo ambiental, em áreas de preservação, e o turismo de aventura, quase sempre em zonas rurais, vêm se consolidando. Além disso, apostamos no grande potencial do turismo de observação de pássaros, ainda pouco explorado.

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Wander atua em diversas instituições ligadas à cadeia leiteira e ao agro como um todo – Foto: João Carlos Faria

Como essas atividades expressam as vocações locais e regionais de Cruzeiro e do entorno?

O Vale do Paraíba tem grande aptidão para pecuária, sendo tradicionalmente uma região produtora de leite. Com boa genética e mão de obra especializada, ainda mantém sua posição como a maior produtora de leite do estado. No entanto, está ocorrendo uma migração para a pecuária de corte e, nesse aspecto, vejo uma oportunidade para a criação a pasto. Com a riqueza da Mata Atlântica, podemos desenvolver uma produção sustentável. Além disso, pela proximidade com grandes mercados consumidores, temos a vantagem de oferecer carne in natura [sem congelamento] – produzida com práticas que preservam o meio ambiente – diretamente na mesa dos consumidores. Além da representatividade do setor, contamos com a parceria do Sistema Faesp/Senar. Enquanto a Faesp oferece todo o apoio e suporte institucional, o Senar disponibiliza cursos e programas para capacitar produtores, colaboradores e seus familiares, garantindo maior eficiência em suas atividades. Nossa atuação inclui a representação dos produtores, defendendo seus interesses para evitar prejuízos ou injustiças. Participamos ativamente de fóruns, nos quais buscamos valorizar a produção e estruturar cadeias produtivas. Como mencionado anteriormente, trabalhamos com foco em queijos artesanais, melhoria da qualidade do leite, desenvolvimento do leite A2 e programas de sanidade animal, entre outras iniciativas estratégicas.

Desde 2010, o sindicato atua também em dois programas envolvendo questões ambientais para produtores. Quais são as propostas desses programas?

Em 2010, iniciamos nossa atuação institucional em fóruns de discussão ambiental, quando enfrentamos uma proposta de criação de um parque nacional. É importante destacar que estabelecer um parque em área rural significa desapropriação, o que, na prática, equivaleria a demitir um produtor rural de seu “emprego” sem indenização e despejá-lo de sua propriedade, especialmente porque, neste caso específico, não havia previsão orçamentária para a criação do parque em questão. Após anos de participação ativa nesses fóruns e contribuição para a construção de políticas públicas para o setor, tivemos a oportunidade de desenvolver projetos significativos. Conseguimos captar recursos tanto do setor público quanto da iniciativa privada, o que nos permitiu criar dois programas importantes. O primeiro é o Protetor da Mantiqueira, que trabalha com restauração florestal na Serra da Mantiqueira, atuando especificamente no entorno de Unidades de Conservação como RPPNs [Reservas Particulares de Patrimônio Natural] e o Monumento Natural Mantiqueira Paulista, além de áreas dentro da Área de Preservação Ambiental da Serra da Mantiqueira. Este programa inclui trabalhos de saneamento básico nas residências e, além do plantio de mudas nativas, trabalhamos com frutas nativas na restauração, buscando criar uma nova cadeia produtiva nestas áreas que estão sendo cada vez mais destinadas ao turismo, com pousadas e casas para fins de semana e para temporadas. Já nas áreas de produção pecuária e agrícola, desenvolvemos o programa Produtor Sustentável, que conta com recursos do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos). Por meio deste programa, restauramos áreas de APPs hídricas, nascentes e matas ciliares em microbacias de mananciais de abastecimento público. Atuamos em parceria com cooperativas, ONGs e empresas privadas, oferecendo acompanhamento técnico com assessorias e consultorias especializadas, contando ainda com a capacitação do Senar e o apoio do Sebrae na gestão “fora da porteira”. Com esta abordagem integrada, buscamos melhorar a produtividade e eficiência dos produtores, visando sempre uma melhor rentabilidade em suas atividades.

Como avalia a relação entre atividades agropecuárias e conservação ambiental?

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Atualmente, não tem como separar a preservação dos recursos naturais — solo e água — da produção. É obrigação do produtor e, ao mesmo tempo, ele é o maior beneficiado, pois não tem como ser eficiente na produção se não tiver práticas conservacionistas. Isso inclui cuidar dos mananciais de água, tratar os dejetos da produção para utilizá-los como fertilizantes, além de adotar técnicas como plantio direto, curvas de nível, entre outras.

No que a agropecuária paulista ainda precisa avançar para atender às exigências de sustentabilidade econômica, social e ambiental?

São Paulo tem os melhores números de áreas restauradas. Grande parte de seu território está em Unidades de Conservação, seja de Uso Sustentável ou de Proteção Integral. Ainda contamos com incentivos do governo para recuperação de solos e programas de Pagamento por Serviços Ambientais, como produção de água e valorização de serviços ecossistêmicos. O mercado voluntário de carbono, que já está se estruturando há algum tempo, também contribui para uma produção ambientalmente correta. Temos uma atenção especial ao bem-estar animal e, como o salário mínimo paulista já é o mais alto do país, a remuneração no campo vem melhorando. Estamos cada vez mais tecnificados, o que exige mão de obra mais qualificada. Vale ressaltar que todas essas obrigações, sejam por leis ou pelo senso de justiça social, são cada vez mais exigidas pelo mercado consumidor. O que é lei está se tornando exigência de mercado.

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