Economia
Tarifa dos EUA sobre madeira provoca demissões no Paraná
Em Curiúva, a empresa Depinus demitiu 23 dos 50 colaboradores; segundo a Faep, setor florestal deve ser o mais impactado pela alíquota

Paloma Santos | Brasília
05/08/2025 - 08:00

O setor de base florestal sente, cada vez mais, os impactos da nova alíquota sobre os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, prevista para começar a ser aplicada nesta semana. Em Curiúva, no Paraná, a empresa Depinus Indústria e Comércio de Madeiras de Pinus Ltda, anunciou a demissão de 23 dos 50 colaboradores.
“O motivo é a paralisação de toda nossa venda para o mercado dos EUA”, afirmou o proprietário, Paulo Bot, ao Agro Estadão, nesta segunda-feira, 4, destacando que todos cumprem aviso prévio. Segundo ele, o mercado americano responde por aproximadamente 90% do faturamento da empresa, que exporta painéis e molduras feitos a partir de madeira reflorestada (plantada) de pinus e eucalipto.
“Iremos manter ainda mais de 20 funcionários para tentar buscar novos mercados e atender os 10% que nos restaram, que é França, Caribe e um pouco de mercado interno”, disse o empresário. “Caso as tarifas sejam revertidas nos próximos 20 dias, faremos a reintegração destes colaboradores”, destacou.
Segundo a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), antes mesmo do anúncio oficial da nova tarifa, empresas do setor já haviam iniciado movimentos de contenção: suspenderam envios aos EUA, reduziram estoques e adotaram férias coletivas para preservar empregos. Agora, com a medida oficializada, o cenário se torna ainda mais delicado.
“Antes da efetivação da tarifa, as empresas estavam em compasso de espera, revendo investimentos e estratégias. A exportação para os Estados Unidos, nosso principal mercado, representa volumes que não podem ser redirecionados de forma rápida a outro mercado. Buscar novos compradores é um trabalho lento, de médio prazo, e muitas vezes exige redução de preços”, afirmou o presidente da Apre, Fabio Brun, em nota publicada nesta segunda-feira, 4.
De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), o setor florestal deve ser o mais impactado pela nova alíquota, em razão forte da dependência do mercado norte-americano. “Até o momento, três indústrias paranaenses já anunciaram medidas que afetam diretamente trabalhadores do setor. Em comum, todas têm o mercado norte-americano como principal destino das exportações”, informou a entidade, por meio de nota.
Uma delas, a BrasPine, que atua na produção de molduras para exportação, concedeu férias coletivas para 1,5 mil funcionários, o equivalente a 60% do quadro total. A medida atinge as unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba, na região dos Campos Gerais. Segundo a empresa, após o anúncio da taxação, “uma quantidade significativa de pedidos” foi suspensa ou adiada.
Dados da Apre mostram que, em 2024, o Paraná vendeu mais de US$ 681 milhões em produtos florestais para os Estados Unidos, sendo US$ 627 milhões em madeira. A UF se destaca especialmente nas exportações de compensado, madeira serrada e molduras de pinus, amplamente utilizadas na construção civil norte-americana, além de portas, painéis e móveis de madeira.

De acordo com a Apre, o setor florestal emprega cerca de 400 mil pessoas no Paraná, abrangendo desde a base produtiva até as indústrias de transformação. “É uma notícia muito ruim. Justamente no que o Paraná é bom, onde se destaca, vamos ser taxados de forma muito forte e veemente”, afirmou Fabio Brun.
No caso das molduras de madeira, o Paraná responde por quase 70% das exportações brasileiras, sendo que quase a totalidade desse volume (98,4%) tem os Estados Unidos como destino. Já no compensado de pinus, o estado é responsável por cerca de 68% das exportações nacionais, e novamente os EUA aparecem como principal comprador, com 31,7% do total.
Para enfrentar os impactos enfrentados pelo setor florestal, a associação planeja, em parceria com outras instituições, apresentar ao governo do Paraná um conjunto de pleitos que inclui a liberação de linha de crédito subsidiado via Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) para pagamento de folha, a antecipação de créditos de ICMS para exportadores de madeira e a criação de programas de incentivo ao uso da madeira em diferentes aplicações.

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