PUBLICIDADE

Economia

Tarifaço afeta setor florestal: madeira parada, contratos cancelados e fábricas fechadas

As maiores consequências atingem as indústrias que operam com florestas plantadas; fábrica do interior de SP teve 120 pedidos cancelados

Nome Colunistas

Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estado.com | Atualizada às 17:08

29/07/2025 - 15:53

Foto:  BTP Floors
Foto: BTP Floors

Empresas brasileiras da cadeia florestal exportadora já sofrem forte impacto, mesmo antes da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, entrar em vigor. A medida deve começar a valer na próxima sexta-feira, 1º. Um dos empresários ouvidos pelo Agro Estadão conta que, nos últimos 20 dias, teve 120 pedidos cancelados, um prejuízo de cerca de R$ 6 milhões. 

As maiores consequências atingem as indústrias que operam com florestas plantadas e madeira processada, com destaque para fabricantes de pisos, painéis e molduras. A insegurança sobre os termos finais da medida também tem gerado acúmulo de cargas nos portos e nos pátios das fábricas, além de paralisações e até demissões.

CONTEÚDO PATROCINADO

As operações com madeira oriunda de florestas nativas também foram atingidas. Materiais já processados nas indústrias e prontos para exportação estão retidos nos pátios das fábricas na Amazônia. Parte das cargas armazenadas em portos brasileiros, que aguardavam licença ambiental para embarque, teve o processo suspenso. 

Exportações suspensas

“Temos relatos de férias coletivas no Sul e Sudeste, onde há empresas cujo único mercado é o americano”, afirma Frank Rogieri Almeida, presidente do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF). “Com essa situação da tarifa, o que estava na produção teve que ser parado, aguardando aí o desenrolar.”

Segundo o presidente, materiais prontos para embarque foram retidos. Há cargas paradas nos pátios industriais e em contêineres nos portos. “Desde 10 de julho, sabíamos que qualquer envio chegaria aos EUA após o início da tarifa e as indústrias não têm como correr esse risco de chegar lá com tarifa de 50%.”

PUBLICIDADE

Ainda não há estimativas consolidadas de perdas, mas o clima no setor é de insegurança. “É um momento de muita apreensão, muita insegurança, tanto para o empresário industrial quanto para os nossos colaboradores”, diz Almeida.

É o caso do grupo comandado por Leandro Serafin e outros dois irmãos, que reúne duas empresas do setor florestal: a Brasil Tropical, indústria de madeira bruta, e a BTP Floors, que produz pisos. “Temos 56 contêineres no porto e cerca de 80% estão parados. Se a tarifa for mantida, nossa operação no mercado americano se torna inviável”, afirma. Segundo ele, cada contêiner custa, em média, entre US$ 40 mil e US$ 50 mil. 

Com 31 anos, empresa exporta 95% dos produtos para os Estados Unidos
Foto: BTP Floors

Com sede em Mato Grosso e um centro de distribuição nos EUA, o grupo emprega 400 funcionários. Cerca de 70% das vendas dependem dos Estados Unidos. De acordo com o empresário, não há outros mercados capazes de absorver os produtos e um aumento de 50% no ramo é inviável. “Não temos como absorver essa tarifa. O impacto é absurdo e ainda incalculável. Se não houver acordo, pode ser irreversível.”

Setor pede urgência e postergação de prazo

Segundo Paulo Pupo, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), esse não é um caso isolado. “Há férias coletivas em curso. Infelizmente, alguns desligamentos também já foram anunciados”, afirma sobre a situação em outras empresas do setor.

Paulo destaca que, desde o anúncio da medida, houve aumento da desconfiança entre os compradores. Além disso, alguns segmentos de produtos madeireiros dependem praticamente 100% desse mercado. “Não há outro mercado capaz de absorver nosso volume. Muitos produtos são feitos sob medida para o setor de construção civil dos EUA.”

PUBLICIDADE

Para Pupo, o melhor caminho — e urgente — é a via diplomática, sem vieses políticos. “E também um pedido oficial de postergação desse prazo, para ganharmos um certo fôlego nas negociações e a não-aplicação da lei de reciprocidade, que pode ser interpretada como retaliação pelos USA, e prejudicar ainda mais as possibilidades de negociação”. Também recomenda buscar condições semelhantes às de países concorrentes, como Vietnã, Indonésia e Chile.

Madeira acumulada, aguardando decisão sobre o tarifaço | Foto: SM Madeiras

Cancelamentos e férias coletivas

A SM Floors, com sede em Marília (SP), precisou suspender as operações. A empresa da divisão de pisos, que exporta quase exclusivamente para os Estados Unidos, inicia férias coletivas em 1º de agosto. “Tivemos 120 pedidos cancelados, com valor total de R$ 6 milhões”, explica Rafael Mason, diretor comercial.

Cerca de dez contêineres permanecem retidos no porto. Só foram embarcados pedidos que chegariam ao país com a taxa em vigor. Sem alternativas viáveis de redirecionamento, a empresa cogita transferir a planta para o Paraguai, caso a nova tarifa se confirme. “Lá, seria possível exportar com tarifas mais baixas. Mas isso leva tempo e exige investimentos.”

Mason também cobra resposta do governo brasileiro. “Precisamos de uma negociação justa para que possamos voltar a trabalhar. E, enquanto isso, linhas de crédito seriam fundamentais para para que possamos manter os funcionários.”

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

China já comprou mais da metade da soja prevista em acordo com EUA

Economia

China já comprou mais da metade da soja prevista em acordo com EUA

Volume das compras soma ao menos 7 milhões de toneladas de soja, porém, realização dos embarques ainda preocupa o mercado

Acordo Mercosul-UE enfrenta resistência e fica para 2026

Economia

Acordo Mercosul-UE enfrenta resistência e fica para 2026

Países europeus se dividem sobre o acordo: defensores veem ganho comercial e menor dependência da China, enquanto o setor agrícola lidera a resistência

Brasil abre mercado de feijões a quatro países asiáticos

Economia

Brasil abre mercado de feijões a quatro países asiáticos

Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão, da União Euroasiática, autorizaram exportações de feijão comum e de feijão fradinho

Governo amplia regras para a renegociação de dívidas; veja o que muda

Economia

Governo amplia regras para a renegociação de dívidas; veja o que muda

Nova MP inclui safra 2024/2025 e CPRs, mas CNA e governo do Rio Grande do Sul consideram medidas insuficientes

PUBLICIDADE

Economia

Cadeia da soja deve responder por 23% do PIB do agronegócio em 2025

Apesar da queda de preços, volumes recordes garantem alta de 11,66% PIB da cadeia de soja e retomada da renda

Economia

FGV: tarifaço afetou exportações para os EUA, mas houve avanço em números globais

Perdas com mercado norte-americano foram compensadas com crescimento de embarques para outros parceiros, em especial a China

Economia

Orplana avalia pedido de exclusão de associações após memorando com a Unica

O pedido de punição ou exclusão de três associações foi feito pela Assovale sob o argumento de descumprimento das regras estatutárias

Economia

Associação eleva projeção de exportações de soja, milho e farelo em dezembro

Brasil deve encerrar 2025 com 109,28 milhões de toneladas de soja exportadas; milho deve fechar com 41,91 milhões e farelo com 21,39 milhões

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.