Economia
Tabaco: alta rentabilidade mantém agricultores familiares na cultura
Brasil exporta quase toda a produção de tabaco e maior concentração de produtores está na região Sul
4 minutos de leitura 06/04/2024 - 08:30
Por: Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadão.com
Giovane Weber é da terceira geração de produtores de tabaco. O gaúcho de 47 anos vive e trabalha em uma propriedade familiar de 11,5 hectares em Santa Cruz do Sul (RS), no Vale do Rio Pardo, região central do estado. Satisfeito com a produção encerrada em março, ele conta que nos quatro hectares destinados à plantação de tabaco, a família conseguiu ter uma renda bruta de R$ 192 mil.
“Para nós, pequenos produtores, o tabaco é símbolo de renda. Ele é uma cultura que permite a gente fazer um segundo plantio, além de ser uma das que usam menos agrotóxicos e tem grande rentabilidade. Além disso, se tirar o tabaco do Brasil, muitos jovens, especialmente do Sul, que trabalham nas lavouras seriam obrigados a morar nas cidades”, resume o produtor ao Agro Estadão.
A realidade da família Weber é parecida com as mais de 130 mil famílias que cultivam a planta no país, sendo que 98% da produção se concentra nos três estados da Região Sul. Para a atual safra, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) estima que sejam produzidas aproximadamente 522 mil toneladas.
Segundo o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Fumo, Romeu Schneider, a estimativa é de que essa produção atual consiga gerar entre R$ 11 bilhões e R$ 12 bilhões. Ele explica que esse é um grande diferencial da cultura, que consegue ser mais rentável do que milho, soja e trigo.
“A receita obviamente é muito compensadora em relação aos grãos. Se nós compararmos o grão com o tabaco, ou seja, milho, soja ou outras culturas, para ter a mesma receita de um hectare de tabaco você precisa entre nove e dez hectares de soja ou de milho ou de trigo”, aponta.
Para os produtores de tabaco, ter uma rentabilidade alta em menores espaços faz a cultura valer a pena, já que a área plantada nacionalmente é de 284 mil hectares, o que dá uma média de cerca de 3 hectares por família. Schneider também ressalta que, em muitos casos, os terrenos das propriedades são acidentados – terrenos irregulares, em geral não planos, o que impede a adoção de culturas que precisam de mais tecnificação, como a soja.
“Não troco”
Questionado se chegou a pensar em mudar o tabaco por outra cultura, Giovane Weber diz que “apesar do trabalho manual, não troca o tabaco por nenhuma plantação”.
Além da renda, o presidente da Câmara Setorial também aponta um outro fator que ajuda a manter as famílias nessa produção: o baixo êxodo rural. “Dá pra afirmar com total segurança de que onde existe um menor índice de êxodo rural, é exatamente na região produtora de tabaco”, aponta Schneider.
Além disso, a produção funciona em uma sistema integrado, em que os produtores têm uma garantia de que o produto será comercializado ao final da colheita. “A gente faz a solicitação para a indústria e eles oferecem a assistência técnica e os insumos, então a gente planta e colhe, e no final eles vêm pegar”, conta o produtor de Santa Cruz do Sul (RS).
A garantia de um comprador traz a segurança que em outras culturas não existe. “A primeira preocupação [em uma eventual troca de cultura] é que precisa ter mercado. Precisa ter o pagamento para essa produção para o produtor poder se sustentar”, afirma Schneider.
Tabaco brasileiro tem mercado internacional
Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) apurados pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), o Brasil exportou 512 mil toneladas em 2023, o que gerou uma receita de US$ 2,73 bilhões.
Romeu Schneider diz que boa parte desse tabaco vai para a China, responsável por aproximadamente 40% do consumo mundial, e Bélgica. Para ele, seria importante dar mais visibilidade ao tabaco brasileiro, que tem uma característica diferente dos demais.
“A qualidade do tabaco brasileiro é o diferencial. Hoje existem dois tipos de tabaco, um que é usado para enchimento, o Filler, e outro que é o chamado Flavor, que dá sabor e aroma. E o Brasil fornece 70% do Flavor do mundo”, acrescenta.
Imposto Seletivo e cigarro eletrônico: novos desafios para a produção de tabaco
O cigarro deverá estar entre os itens em que incidirá o Imposto Seletivo (chamado de “imposto do pecado”). O tributo foi criado na Reforma Tributária como uma cobrança a mais sobre produtos e serviços considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. No entanto, a lista ainda não foi aprovada.
Sobre o assunto, o presidente da Câmara Setorial não nega que fumar traz malefícios para a saúde, mas alega que é importante deixar essa decisão com o cidadão e que a alta carga tributária, que já existe sobre o cigarro, favorece a dissipação dos cigarros contrabandeados e fraudulentos, que não têm inspeção sanitária e não têm o compromisso de pagar os impostos.
“Se hoje nós temos algo em torno de R$ 15 bilhões de impostos recolhidos sobre o cigarro, poderia ser o dobro, se todo o mercado fosse legal. Agora colocar mais tributo em cima, obviamente, isso vai beneficiar apenas um lado, que é o mercado ilegal”, indica Schneider.
Outro tema que também impacta o setor é a regulamentação dos cigarros eletrônicos. Atualmente, a comercialização dos aparelhos é proibida no país. O tema da regulação tem sido discutido no Senado e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No Senado, o projeto de lei 5.008/2023 estipula os parâmetros de fiscalização, venda e propaganda dos cigarros eletrônicos. Já na Anvisa, o assunto passou por consulta pública e 59% dos que responderam disseram ser contrários à proibição dos aparelhos.
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