PUBLICIDADE

Economia

Setores do agro pedem urgência após tarifas dos EUA

Entidades do setor cafeeiro pedem diálogo, enquanto Abipesca clama por medidas emergenciais de mitigação dos danos econômicos

Nome Colunistas

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com | Atualizada às 19h03

30/07/2025 - 18:11

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

As entidades que representam os setores do agro brasileiro atingidos pela tarifa de 50% dos Estados Unidos (EUA) — 40% anunciados nesta quarta-feira, 30, somando-se aos 10% em vigor desde abril — veem o cenário futuro com apreensão. 

Entre os setores mais impactados está o café, uma dos principais itens da pauta exportadora do agro do Brasil para os EUA, que lideram a compra do produto. Somente nos primeiros seis meses deste ano, os norte-americanos adquiriram 3,3 milhões de sacas de café brasileira — volume 38,7% superior ao segundo maior comprador, a Alemanha (2,4 milhões de sacas). 

CONTEÚDO PATROCINADO

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) classificou o momento como difícil e defendeu a necessidade de uma negociação país a país para buscar uma eventual isenção. “Infelizmente, vamos conviver com as tarifas, se possível, menos de dias possíveis e vamos ver se há alguma esperança em termos de ajustes nesse anexo que foi publicado. O que aconteceu hoje demanda uma reflexão”, disse Marcos Antônio Matos, diretor-executivo do Cecafé.

O dirigente destacou que outros países exportadores de café, como Vietnã, Indonésia, Nicarágua, Colômbia, Peru e Etiópia, enfrentam tarifas muito inferiores — entre 10% e 20%. Enquanto isso, o Brasil passa a ter carga de 50% sobre o produto, incluindo o café verde, que antes do tarifaço de Trump tinha tarifa zerada para entrar no mercado americano. “O café é importante demais para a economia americana, e eles [os EUA] reconhecem isso. Por isso, seguimos trabalhando para que haja uma isenção ampla, negociada”, afirmou.

O Cecafé informou que mantém diálogo com autoridades brasileiras e americanas, incluindo o Ministério da Agricultura e parceiros em Washington, para tentar reabrir a discussão com senso de urgência.

PUBLICIDADE

Já a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) demonstrou grande preocupação com a imposição da tarifa de 50% sobre o produto. O diretor de Relações Institucionais da entidade, Aguinaldo Lima, afirmou que o setor já esperava a medida, mas ainda mantinha ‘uma pontinha de esperança’ de que o café pudesse ficar de fora.

Segundo ele, a medida atinge duramente a indústria brasileira de café solúvel, já que os Estados Unidos sempre foram o principal destino do produto nacional — responsável atualmente por 19% das exportações do setor, o equivalente a 18 mil toneladas, ou cerca de 780 mil sacas de café, gerando US$ 180 milhões em receita por ano.

“O Brasil é o maior produtor e exportador de café solúvel do mundo. Hoje, somos o segundo maior fornecedor dos americanos, com 24% de participação, atrás apenas do México, com 38%. A substituição por outros países será difícil, pois há um limite de capacidade produtiva”, salientou. 

Assim como o Cecafé, a Abics defende que a reação do Brasil seja de diálogo com o governo norte-americano, evitando retaliações. “Não adianta retaliar, isso complica mais. O caminho precisa ser a negociação, sem envolver temas políticos, que só transformam tudo num grande embaraço”, defendeu.

A decisão do governo Trump afeta ainda o mercado de cafés especiais. A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), em comunicado, lembra que os EUA são o principal mercado importador deste tipo de produto do Brasil, adquirindo aproximadamente 2 milhões de sacas desse produto, com receita superior a US$ 550 milhões ao ano.

PUBLICIDADE

“Tal medida, se mantida, impactará a comunidade do café especial e os segmentos envolvidos com cafés de qualidade em todo o mundo”, diz o comunicado. Nesse sentido, a BSCA, como representante da comunidade do café especial brasileira, reitera a necessidade de diálogo na tentativa de reverter a taxação apresentada ao produto, de forma que sejam preservados empregos, renda e uma parceria construída ao longo de décadas entre os atores das duas nações.

Cenário é gravissímo, classifica Abipesca

Os pescados brasileiros também não escaparam das tarifas adicionais dos EUA. Em comunicado, a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) diz acompanhar com preocupação a situação. 

Segundo a Abipesca, não há alternativas viáveis de mercado que substituam os EUA. “O Brasil abriga uma cadeia produtiva de pescados altamente dependente das exportações para os Estados Unidos. Essa realidade agrava-se no caso de estados como o Ceará, onde empresas têm sua operação diretamente atrelada a esse fluxo”, destacou a nota. 

A Abipesca argumenta ainda que, a interrupção dessas exportações poderá desencadear uma onda de pedidos de recuperação judicial, uma vez que as empresas não terão capacidade de honrar seus compromissos financeiros. “O impacto será severo e imediato, com repercussões sociais e econômicas profundas, especialmente em regiões onde a atividade pesqueira é a principal fonte de emprego e renda”, ressalta, apontando que, mais de um milhão de pescadores profissionais, além de milhares de famílias, serão diretamente afetados. 

Diante deste cenário, classificado como gravíssimo pela Associação, a entidade pede que o Governo Brasileiro inclua o setor de pescados nas medidas emergenciais de mitigação. Isso inclui a criação de mecanismos de apoio financeiro imediato, como linhas de crédito especiais e auxílio emergencial às empresas exportadoras. “Ignorar essa realidade é permitir o colapso de uma das mais importantes cadeias produtivas do agronegócio nacional, com efeitos em cascata sobre o emprego, a renda e a estabilidade de regiões inteiras”, destaca o comunicado assinado por Eduardo Lobo Naslavsky, presidente da Abipesca.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Japão fará nova auditoria para liberar carne bovina do Brasil

Economia

Japão fará nova auditoria para liberar carne bovina do Brasil

Fávaro espera a abertura do mercado ainda neste ano, mas fontes do setor avaliam que as negociações podem demorar mais

Seguro rural em 2025 pode ter o menor nível de área coberta dos últimos 10 anos

Economia

Seguro rural em 2025 pode ter o menor nível de área coberta dos últimos 10 anos

Seguradoras avisam que produtores serão cobrados por parcelas subvencionadas não pagas pelo governo

Bradesco sente a inadimplência do agro, mas carteira segue sob controle

Economia

Bradesco sente a inadimplência do agro, mas carteira segue sob controle

Atrasos em financiamentos do Banco John Deere, no qual o Bradesco detém 50%, influenciaram o resultado; inadimplência na carteira rural chegou a 4,1%

Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor

Economia

Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor

Com avanço das usinas de milho e previsão de 49 bilhões de litros até 2035, indústria busca estratégias para evitar excesso de oferta

PUBLICIDADE

Economia

JBS exporta 550 t mensais de resíduo de couro para virar fertilizante na Itália

Ação faz parte de estratégia de aproveitamento total da matéria-prima, que inclui a tecnologia Kind Leather

Economia

Cade aprova compra da Levitare e da Búfalo Brasil pela Tirolez

Fábricas em quatro estados e nova linha com produtos de leite de búfala impulsionam meta de R$ 2,5 bilhões até 2027

Economia

Nova rota aérea amplia escoamento de frutas do Brasil para a Europa

Operação terá três frequências semanais, conectando aeroportos internacionais brasileiros ao mercado europeu

Economia

Agro gaúcho discute criação de fundo para garantir crédito e seguro rural

Inspirado no Fundesa, modelo prevê gestão privada com produtores, indústria e governo, financiado por recursos do setor rural e indústria

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.