Economia
Setor de pescado pede linha emergencial após tarifa de Trump
Haddad diz que respostas à tarifa serão apresentadas a Lula nesta semana e socorro financeiro aos setores afetados também está na pauta

Redação Agro Estadão | Atualização às 16h37
21/07/2025 - 12:26

Setores brasileiros afetados pela tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já se movimentam na direção de um amparo financeiro para conter os efeitos da medida americana. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) entrou com um pedido formal ao governo brasileiro para uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões.
O valor seria para capital de giro das empresas, de acordo com o diretor-executivo da Abipesca, Jairo Gund. Como ele explica, essa é uma alternativa para que não seja feita uma ruptura na cadeia, já que os peixes da piscicultura, por exemplo, que seriam endereçados ao mercado americano nos próximos meses já estão nos tanques. Uma interrupção drástica poderia prejudicar os produtores no curto prazo.
“Esse é o valor de crédito que nós precisamos para suprir as indústrias exportadoras, para conseguir refinanciar os estoques e ganhar um fôlego para tentar escoar isso em outros mercados. Reprocessar parte dessa produção, armazenar, ganhar tempo para que a gente consiga não ter ruptura na cadeia. Porque é tudo uma engrenagem”, explicou à reportagem.
A análise da entidade é de que sem uma resposta rápida, cerca de 35 indústrias e de 20 mil trabalhadores devem ser impactados com cortes de pessoal e paralisações das operações fabris. A associação ainda aponta que até o momento aproximadamente R$ 300 milhões em pescados estão parados depois que houve o rompimento de contratos, como já mostrado pelo Agro Estadão.
O documento pedindo a linha sugere ao governo que seja dado seis meses de carência e um prazo de 24 meses para o pagamento do crédito tomado pelas empresas. Outro pedido é de uma intensificação nas negociações para a reabertura do mercado da União Europeia, fechado desde 2017. A indicação é de que o tema seja tratado a nível presidencial, ou seja, entre os líderes dos países.
Proposta de amparo financeiro está na mesa do Governo
Nesta segunda-feira, 21, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que ainda nesta semana deve haver uma apresentação de propostas ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é que Lula escolha como será a atuação brasileira na resposta à tarifa americana.
“Estamos com um grupo de trabalho preparando para apresentar esta semana ao presidente quais são as alternativas que nós temos, tanto em relação à lei de reciprocidade, quanto em relação ao eventual apoio que o presidente queira considerar aos setores mais prejudicados”, comentou Haddad em entrevista à rádio CBN.
Questionado sobre uma linha de ajuda às empresas afetadas, Haddad não descartou essa forma de ajuda e pontuou que isso deve ser levado ao presidente Lula dentro de uma plano de contingenciamento que está sendo elaborado. “Pode ser que nós temos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados e são setores que têm relação de décadas com os Estados Unidos”, disse.
O ministro ainda cobrou uma resposta do governo americano sobre as sugestões de propostas encaminhadas pela parte brasileira. Ele também destacou que o Executivo trabalha com diferentes cenários, inclusive, o de que as tarifas entrem em vigor no dia 1º de agosto, como anunciado.
Haddad ainda apontou que é possível fazer o redirecionamento das exportações, mas não seria uma solução de curto prazo. “Nós vamos tomar medidas necessárias. Mais da metade do que nós exportamos aos Estados Unidos nós podemos endereçar para outros países, só que isso leva algum tempo. Você tem contratos assinados que estão sendo rompidos”, destacou o ministro, que ainda afirmou que a radiografia que o governo está fazendo está no nível de empresas e não mais setorial.
Plano de contingência pode não ser efetivo na ponta
Na avaliação do sócio diretor da Markestrat, José Carlos de Lima, uma possível medida de ajuda aos setores “merece atenção”. O receio do analista é de que o apoio não chegue na ponta. “O risco é o governo concentrar esforços apenas nas grandes empresas exportadoras, ignorando a rede de suprimentos formada por pequenos e médios produtores que, em muitos casos, serão os primeiros a sentir os efeitos e os últimos a receber qualquer apoio”, destacou ao Agro Estadão.
Ele cita alguns exemplos, como as cooperativas de café de Minas Gerais e Espírito Santo, que têm o intermédio de trading, além dos citricultores do Paraná e de São Paulo, que dependem de exportadoras de médio porte. Outra citação é com relação a pecuaristas integrados a grandes frigoríficos, já que eles necessitam de volumes exportáveis para os Estados Unidos.
“O impacto real recairá sobre produtores regionais, cooperativas, transportadoras, fornecedores de insumos e serviços, que são componentes essenciais da cadeia produtiva nacional”, ponderou.
Lima ainda indica que o governo deve prever medidas específicas para esses elos menores, como o crédito emergencial, alternativas de seguro-frete e fomentar a reorganização de cooperativas.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Tarifa: enquanto Brasil espera, café do Vietnã e Indonésia pode ser isento
2
COP 30, em Belém, proíbe açaí e prevê pouca carne vermelha
3
A céu aberto: produtores de MT não têm onde guardar o milho
4
Fazendas e usinas de álcool estavam sob controle do crime organizado
5
Exportações de café caem em julho, mas receita é recorde apesar de tarifaço dos EUA
6
Rios brasileiros podem ser ‘Mississipis’ do agro, dizem especialistas

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Exportações de MS crescem 3,26% até agosto; carne bovina tem alta de 43,7%
Apesar da tarifa de 50% dos EUA, Estado conseguiu redirecionar e produção e diversificar os destinos para a carne

Economia
Desbloqueio de tarifaço do Agro passa por mercado de etanol; entenda
Especialistas ouvidos nesta segunda-feira, 8, pelo Conselho do Agronegócio da Fiesp indicam que impasse com os EUA pode se intensificar

Economia
Oferta robusta e demanda retraída pressionam soja, milho e trigo
Mercados futuros e domésticos das commodities registram recuos e oscilações exigindo cautelas dos agricultores

Economia
Agricultores franceses disparam contra acordo Mercosul-UE: 'traição programada'
Maior sindicato agrícola da França acusa Bruxelas e Paris de sacrificar os agricultores franceses para favorecer grandes exportadores industriais
Economia
Indonésia habilita novos frigoríficos brasileiros de carne bovina
País asiático já comprou mais de 12 mil toneladas de carne brasileira neste ano
Economia
China importa volume recorde de soja em agosto
Enquanto os chineses intensificam as compras do Brasil, os agricultores norte-americanos ficam de fora das aquisições
Economia
Expointer bate recorde de público, mas vendas caem pela metade
Feira em Esteio (RS) recebeu mais de 1 milhão de visitantes e foi marcada por protestos de agricultores
Economia
Safra de soja 25/26 começa em MT com incertezas do La Niña
Com custos em alta, crédito restrito e produtividade ameaçada pelo clima, Aprosoja-MT e Imea projetam safra menor nesta temporada