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Economia

Trégua comercial entre China e EUA não deve afetar exportações do agro brasileiro, avaliam lideranças do setor

Suspensão temporária de tarifas entre as potências gera expectativa de estabilidade no mercado internacional, avaliam lideranças do agro

Daumildo Júnior | Brasília e Paloma Custódio | Guaxupé (MG) | Atualizada às 15h14

12/05/2025 - 10:39

Foto: Adobe Stock
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O setor agropecuário brasileiro avalia que a suspensão temporária das tarifas adicionais sobre importações entre China e Estados Unidos não deve gerar impactos imediatos nas exportações do Brasil. No entanto, entidades do setor e especialistas pedem cautela diante da instabilidade que ainda marca as relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo.

O anúncio da trégua tarifária de 90 dias foi feito nesta segunda-feira, 12, após reunião entre representantes dos dois países em Genebra, na Suíça. De acordo com o comunicado divulgado pelo site da Casa Branca, os Estados Unidos reduzirão as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China cortará as tarifas sobre mercadorias norte-americanas de 125% para 10%.

Ao Agro Estadão, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, avalia o acordo como positivo. “A guerra tarifária não é boa para ninguém. Ela sempre acaba trazendo inflação e tudo mais. Então esse acordo entre as duas maiores potências pode amenizar o ambiente de insegurança que havia sido gerado pela imposição de tarifas recíprocas”, afirma.

Segundo Santin, mesmo que a China eventualmente volte a priorizar compras dos Estados Unidos em detrimento do Brasil, o cenário ainda é positivo com a estabilidade do ambiente de negócios internacionais. 

Para os exportadores brasileiros de carne bovina, a suspensão parcial não deve ter efeito. “A princípio não tem impacto, assim como não teve quando aumentaram”, afirmou ao Agro Estadão o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Roberto Perosa. Ele também foi ex-secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e, de forma geral, avalia como um avanço positivo para o comércio global. “Quando há distensionamento entre potências é sempre bom para o comércio global”, disse.

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Apesar da volatilidade, setor de algodão não vê impacto significativo

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) recomenda cautela ao setor diante da instabilidade nas relações comerciais entre Estados Unidos e China. À reportagem, a entidade destacou que a situação tarifária entre os dois países permanece volátil. “Ao mesmo tempo, o Brasil vem mantendo uma relação comercial com os chineses baseada em confiança, qualidade e garantia de oferta e isso deve pesar a nosso favor”, ressalta.

Já o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, avalia que o ajuste nas tarifas não deve afetar significativamente o mercado de algodão. Segundo ele, a tarifa de importação de 10% aplicada pela China aos produtos norte-americanos não torna as importações dos EUA mais atraentes. “Além disso, a China diminuiu as importações em geral e, dentro disso, o Brasil já tem uma participação majoritária”, explicou Faus ao Agro Estadão.

Com relação às exportações de produtos têxteis da China para os EUA, Faus pondera que a tarifa inicial de 35% ainda é considerada alta. “Portanto, [a suspensão da tarifa adicional] não muda substancialmente o panorama atual”, concluiu.

Exportações de milho para a China devem seguir estáveis 

O acordo entre China e EUA também não deve afetar as exportações brasileiras de milho para o mercado chinês. Em entrevista ao Agro Estadão, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), Paulo Bertolini, disse que, embora a China tenha reduzido suas importações de milho de outros países por conta da boa safra interna no ano passado, os chineses reconhecem a ótima qualidade do milho brasileiro. 

“Independentemente da tarifa, a China tem uma ação estratégica de médio e longo prazo. Acreditamos que isso não vai reduzir a demanda pelo milho brasileiro. O que está programado não vai deixar de ser embarcado no Brasil”, pontua. 

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Bertolini acrescenta que a exportação do cereal também depende da aprovação de protocolos fitossanitários entre os países, já que o milho exportado pelo Brasil é de origem biotecnológica. Segundo Bertolini, os três maiores exportadores globais — Estados Unidos, Brasil e Argentina — utilizam esse tipo de tecnologia em larga escala.

“Essa biotecnologia tem que estar aprovada nos países de destino antes da importação acontecer. Então, o fato de haver um tarifaço nem sempre repercute imediatamente no mercado. Justamente por causa desses entraves relacionados à segurança fitossanitária imposta pelo país importador”, explica.

Ponto de atenção

Apesar do bom-tom nas negociações, o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e colunista do Agro Estadão, Welber Barral, pondera que é preciso ficar atento aos próximos dias. Isso porque a suspensão parcial das tarifas serve para as nações negociarem um acordo comercial, que deve envolver uma ampliação das compras chinesas de produtos dos Estados Unidos. 

“Fundamentalmente eles suspenderam por 90 dias, o que dá um alívio para o mercado, inclusive porque tem portos americanos com muito estoque, que vai ser liberalizado agora com a tarifa menor. Em 90 dias, eles vão entrar em um acordo e o objetivo fundamental dos Estados Unidos é diminuir o déficit comercial com a China. Os Estados Unidos vão tentar um aumento de compras de produtos americanos [por parte dos chineses] e isso afeta o Brasil. Então, temos que acompanhar com muito interesse como vai ser esse desdobramento das negociações”, pontuou à reportagem o especialista em assuntos internacionais.

Quanto ao possível acordo comercial entre chineses e os norte-americanos, Barral aponta que é preciso esperar para saber, já que, “não necessariamente”, haverá diminuição das exportações brasileiras para a China. “Em 2017 e 2018, quando o Trump adotou medidas contra a China, eles entraram em acordo, chamado Fase 1, e a China também se comprometeu a comprar mais dos Estados Unidos. Mas depois veio a pandemia e, na verdade, as exportações brasileiras cresceram mais com a China. Então, tem que ver até que ponto esse acordo vai ser específico por produto ou se simplesmente vai ser uma obrigação geral que o Trump possa cantar vitória, mas que não afete muito fluxo comercial”, disse. 

Quanto aos próximos 90 dias, o especialista acredita que o impacto nas vendas do agro brasileiro não deve sofrer alterações devido às particularidades do comércio internacional. “A grande questão é que uma carga para sair daqui e chegar na China pode levar até 45 dias, então ninguém vai alterar o fluxo de comércio sem saber o que vai acontecer daqui 90 dias”.

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