Economia
Quais os novos acordos que o Mercosul está buscando?
Produtores analisam que falta de acordos pode dificultar exportações e provocar perda de competitividade
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
05/11/2025 - 15:23

O diretor do Departamento de Mercosul do Itamaraty, embaixador Francisco Cannabrava, disse que o bloco vem avançando para firmar novos acordos comerciais com outros países. Ele destacou um com os Emirados Árabes Unidos, em que já estão em andamento reuniões entre as partes para tratar do assunto.
“Hoje [quarta-feira, 5], exatamente, nós temos reuniões acontecendo para que a gente tente fechar essa negociação com Emirados Árabes”, afirmou o embaixador a jornalistas após participar do 1º Fórum Empresarial Agrícola do Mercosul, organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Apesar disso, o representante da diplomacia brasileira não apresentou uma perspectiva de data para a conclusão do acordo.
Além do país do Oriente Médio, o embaixador confirmou que o bloco sulamericano já está em tratativas com Panamá, República Dominicana e El Salvador. Quanto ao Canadá, também há intenção de que as discussões prossigam, mas Cannabrava pontuou que as negociações ainda não ganharam tração.
“O Canadá está numa etapa ainda um pouco anterior. Entendo que nós ainda não temos uma negociação propriamente dita, mas nós temos um diálogo para seguir adiante. O Canadá é um mercado importante também. Então, vamos trabalhar nisso”, acrescentou o embaixador.
Agro de olho nos special goods para os Emirados Árabes
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Luis Rua, disse que um acordo com os Emirados Árabes é importante, apesar do Brasil já ter algumas tarifas baixas para produtos agropecuários. A oportunidade para o setor está nos chamados special goods.
“Seria um primeiro acordo de maior magnitude naquela região, com um país que é um hub no Oriente Médio. […] Hoje, a tarifa média no agro dos produtos que a gente exporta para os Emirados é razoavelmente baixa, mas qualquer diminuição é importante, que a gente consiga, especialmente naqueles produtos que são considerados como os special goods, ou seja, aquelas mercadorias especiais que têm, às vezes, uma tarifa maior. Que nós consigamos, então, reduzir e ter acesso a alguns produtos que hoje a gente tem um pouco de dificuldade de entrar naquele mercado”, pontuou Rua a jornalistas.
Questionado sobre os mecanismos que podem ser incluidos em um acordo com os Emirados Árabes, o secretário não deu detalhes, mas disse que a discussão passa também pela implementação de cotas para esses produtos.
“A gente está discutindo uma série de instrumentos que incluem, naturalmente, cotas com essa redução tarifária. Existe, como eu disse, essa figura dos special goods que nós queremos, de alguma forma, ter um acesso melhorado e amplificado nesse acordo”, incrementou.
Produtores temem que falta de acordos diminua competitividade
Durante o painel de abertura do Fórum, um dos assuntos tratados foi a necessidade de aumentar os acordos comerciais do Mercosul. O embaixador brasileiro reconheceu que o bloco ficou à margem dessa busca por acordos por anos.
“O Mercosul sempre foi muito criticado por ser considerado, muitas vezes, como se fosse um bloco fechado, que não permite a negociação de acordos internacionais. A gente está quebrando isso”, disse Cannabrava, ao citar que o acordo Mercosul-União Europeia está em vias de ser assinado.
Mesmo assim, os produtores veem que o bloco ainda está engatinhando nesses pactos comerciais. O vice-presidente de Relações Internacionais da CNA, Gedeão Pereira, citou o Chile, que não é membro do bloco e tem uma série de acordos. “Nós vemos países que estão fora do Mercosul, ainda que dentro da América do Sul, e que têm muitos acordos comerciais. É o exemplo do Chile, com mais de 30 acordos comerciais. E, no entanto, nós estamos patinando ainda no acordo UE-Mercosul”, afirmou.
Segundo ele, a falta desses contratos de reduções tarifárias atrapalham a competitividade dos produtos agropecuários. No caso brasileiro, o país tem avançado nas aberturas de mercado, mas a ausência desses acordos dificulta as exportações.
“O Brasil vem fazendo aberturas por necessidade, mas com tarifas, o que nos tira certa competitividade devido às tarifas impostas pelos países, porque não tem acordo. Agora, no momento em que se tem acordos tarifários e essas tarifas vêm para um patamar mais razoável, torna o nosso produto mais competitivo ainda, porque ele já é competitivo”, explicou Pereira.
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