Economia
Pressão dos EUA sobre a Rússia pode elevar ainda mais a tarifa do Brasil. Entenda
Tarifa extra pode ser imposta ao Brasil que mantém relações com a Rússia para importar mais de 25% dos fertilizantes e adubos
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
08/08/2025 - 12:28

O Brasil pode ser duramente afetado pelas sanções secundárias que podem ser aplicadas pelos Estados Unidos à Rússia. A medida foi prometida pela Casa Branca, caso o governo Putin não encerrasse a guerra com a Ucrânia até esta sexta-feira, 08.
O sócio da Markestrat Group, José Carlos de Lima Júnior, lembra que a Índia, membro do BRICs — criticado anteriormente por Trump — foi escolhida, nesta semana, como ‘balão de ensaio’ por manter relações comerciais com os russos, especialmente na compra de petróleo.
O governo Trump anunciou, na quinta-feira, 06, a aplicação de tarifas de 50% sobre os produtos indianos, em duas etapas: 25% imediatamente e 25% daqui a três semanas. “O meu receio é que o presidente norte-americano venha a elevar essa tensão política e coloque essa tarifa secundária também sobre o Brasil, porque temos uma relação muito intensa com a Rússia, principalmente na importação de fertilizantes”, salientou Lima.
No agronegócio, as exportações brasileiras são fortemente concentradas em commodities agrícolas como soja, café não torrado e carne bovina. Por outro lado, as importações no setor são dominadas por adubos e fertilizantes químicos — insumos essenciais para manter a produtividade das lavouras e dos quais o Brasil importa cerca de 80%.
Segundo o especialista, o maior custo de uma sanção secundária é a gestão institucional, que é mais complexa quando uma tarifa chega dessa maneira. Além disso, diante da dependência do setor produtivo brasileiro da compra de fertilizantes e adubos, fica o questionamento em relação a outras possíveis fontes de abastecimento.
Em 2024, a Rússia foi responsável por 27,3% dos fertilizantes químicos comprados pelo Brasil. Na sequência, aparecem China (14,2%), Canadá (9,8%), Marrocos (8,6%) e Nigéria (4,0%). “Qual país poderia fazer essas transações para substituir o fornecimento desse insumo Russo? Então, você tem alguns pontos importantes”, diz o sócio da Markestrat Group.
Efeito tarifa Trump
O especialista destaca ainda que, as tarifas podem representar apenas um ‘gatilho’ para efeitos maiores em cadeia. “Como se fosse um processo de uma pedra que você joga na água e vai criando ondas”, exemplifica. Segundo ele, esse processo tende a se estender ao longo do tempo, com certa semelhança ao cenário vivido na década de 1970, marcado pela insegurança jurídica internacional gerada pela crise do petróleo.
Na ocasião, a estabilidade no comércio global só começou a ser restaurada nos anos 1990. “Ou seja, o efeito Trump não acabaria agora. Ele teria uma durabilidade um pouco maior do que a gente está imaginando”, alerta.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Brasil deve registrar recorde histórico na exportação de gado vivo em 2025
2
Arábia Saudita quer aumentar em 10 vezes sua produção de café
3
Adoçado com engano: apicultores denunciam uso de ‘falso mel’ na indústria alimentícia
4
Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor
5
Soja brasileira será brutalmente atingida pelo acordo entre EUA e China?
6
Rumores sobre salvaguarda da China para carne bovina travam mercado
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Produtor do Brasil é o Ayrton Senna da agricultura mundial, diz especialista
Debatedores esboçaram, durante o Estadão Summit Agro 2025, em São Paulo, suas visões em relação ao futuro do agronegócio
Economia
Em crise histórica, Cotribá busca proteção judicial para evitar colapso financeiro
Com dívidas que ultrapassam R$ 1 bilhão, cooperativa centenária tenta ganhar tempo para reorganizar operações e negociar com credores
Economia
Futuro do agro passa por Seguro Rural e pagamento por serviços ambientais, avalia SRB
No Estadão Summit Agro 2025, presidente da Sociedade Rural Brasileira avaliou questões geopolíticas, como as tarifas dos EUA e o acordo Mercosul-UE
Economia
COP 30 superou o temor de ser um tribunal de acusações contra o agro
Estadão Summit Agro debate nesta quinta-feira, 27, em São Paulo, sustentabilidade, relações comerciais e desafios do agronegócio brasileiro
Economia
China cancela compra de soja de 5 empresas brasileiras
A detecção de resíduos de pesticidas em um carregamento de 69 mil toneladas do grão teria sido o motivo da suspensão temporária
Economia
Estadão Summit Agro 2025 vai debater as principais tendências e desafios para o setor
Evento reúne especialistas nesta quinta-feira, 27, para discutir o legado do agro depois da COP 30, oportunidades com o acordo Mercosul-UE e o uso de IA
Economia
Parlamento Europeu aprova adiamento da lei antidesmatamento
Texto final ainda precisa ser publicado no Jornal Oficial da UE até o fim de 2025 para que o adiamento entre em vigor; veja o que muda
Economia
Justiça homologa plano de recuperação do Grupo Lavoro
Credores serão divididos em dois grupos com condições diferentes de pagamento; decisão ainda cabe recurso