Economia
Poder de compra do Plano Safra Familiar é inferior ao de 2024/2025, avaliam especialistas
Apesar do aumento de 2,9% no volume de recursos do Pronaf, professores explicam que inflação dos últimos 12 meses, de 5,32%, deixa o plano aquém do esperado

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
01/07/2025 - 08:00

Mesmo com o volume recorde de recursos liberado pelo governo federal nesta segunda-feira, 30, ao anunciar o Plano Safra da Agricultura Familiar, o montante ficou aquém do esperado. A avaliação é dos professores Guilherme Bastos, coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Agro), e José Carlos de Lima Júnior, mestre e doutor em Administração e professor da pós-graduação da Harven Agribusiness School, universidade voltada à formação para o agronegócio, em Ribeirão Preto (SP).
Isso porque os recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) serão, segundo o governo, da ordem de R$ 78,2 bilhões para o ciclo 2025/2026 – incremento de 2,9% na comparação com a temporada anterior (2024/2025). Acontece que, nos últimos 12 meses, a inflação acumulada, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), foi de 5,32%.
“Então, por mais que esse anúncio seja com crédito rural recorde, com volume histórico na série, ele é inferior se a gente considerar a atualização monetária. Ficou aquém do que era necessário”, avalia Lima Júnior.
Ele diz que outros aspectos a serem destacados são a manutenção das taxas de juros, entre 0,5% e 8%, a expansão do Programa Mais Alimentos, com ampliação do teto de financiamento de R$ 50 mil para R$ 100 mil com juros de 2,5%, e a inclusão de um programa de transferência de embriões visando à modernização da pecuária leiteira e da genética do rebanho – que ele vê como pontos positivos.
“O que chama a atenção nesse plano é que ele fortalece a agricultura familiar, com um seguro que se mantém robusto e incentivos à mecanização. Só que tem algo que é fundamental a gente colocar: um dos riscos e desafios que temos é o acesso desigual ao crédito. Temos uma burocracia bancária e, muitas vezes, os pequenos produtores dependem de assistência técnica local, o que acaba, de certa forma, limitando o acesso deles ao Pronaf”, afirma o especialista em estrutura econômica de mercado agro.
Para Lima Júnior, a assistência é tão relevante que pode definir o impacto que o Plano Safra vai gerar nas diferentes regiões do país. “Onde você tem uma extensão rural mais atuante, é provável que a gente venha a ter um impacto [do Plano Safra] visível, perceptível”, declara. “Porém, onde você não tem essa execução territorial, é provável que esse crédito até mesmo não se converta em produção. E a gente precisa chamar bastante atenção para isso, porque não adianta nós darmos dinheiro e uma taxa de juros subsidiada bastante atrativa se o agricultor não tiver essa assistência”, conclui.
Menos para sociobiodiversidade
O ex-secretário de Política Agrícola Guilherme Bastos tem avaliação parecida. Além de dizer que o Plano de Safra aumentou apenas em “termos nominais, mas não em termos reais”, já que o incremento ficou abaixo da inflação do último ano, ele lembrou que o volume de recursos destinado ao Programa de Garantia de Preços Mínimos de produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), que existe desde 2009 e agora foi rebatizado de Sociobio+, sofreu uma redução, de R$ 50 milhões para R$ 42,5 milhões. “Em ano de COP30, era de se esperar que se desse mais atenção a esse tema”, diz.
Para Bastos, é preciso que se leve em consideração, ao longo da safra, as diferenças entre valores disponibilizados e efetivamente liberados. Dos R$ 76 bilhões anunciados para o Pronaf para a temporada 2024/2025, R$ 60,2 bilhões haviam sido contratados até o início deste mês de junho (21% menos). “Muito provavelmente por questões de endividamento, a gente pode ter um não acesso dos produtores às linhas oferecidas pelas instituições financeiras”, alerta.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
A planta que parece veneno, mas é usada como remédio há gerações
2
Você usa gergelim e nem sabe tudo que ele pode fazer pela sua saúde
3
Você já provou Araticum? Fruta cheirosa e 100% brasileira
4
Canola tem aumento de 37% na área plantada no RS
5
Você sabia que coqueiro também dá maçã? Revelamos esse mistério!
6
Qual a diferença entre pinha e atemoia?

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Café: ano safra fecha com receita histórica de US$ 14,7 bi
Apesar do volume menor nas exportações brasileiras, receita com os embarques em junho somou US$ 1 bilhão

Economia
Imea: defensivos elevam custo de produção da soja e milho em Mato Grosso em junho
A alta refletiu a pressão sazonal típica do período de planejamento da safra, quando a demanda se intensifica

Economia
Mosaic inaugura unidade de mistura no TO para 1 milhão de toneladas de fertilizante
Fábrica deve abastecer parte da região do Matobipa, além de Mato Grosso e Goiás

Economia
Práticas comerciais: USDA reforça ofensiva dos EUA contra Brasil em investigação
"Nossos produtores merecem competir em condições justas!", escreveu a secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins
Economia
Sanções à Rússia podem afetar o agro brasileiro; entenda
Fertilizantes e óleos combustíveis concentram quase 90% das compras brasileiras, enquanto as exportações para os russos se concentram em soja, café e carne bovina
Economia
EUA investigam desequilíbrio no mercado brasileiro de etanol
Datagro descarta distorção no comércio do etanol, mas vê espaço para negociar tarifa por mais acesso ao mercado de açúcar nos EUA
Economia
Anec eleva estimativas de exportação de soja, milho e farelo em julho
Se confirmada a projeção, haverá alta de 27% para soja, comparando com carga embarcada em julho de 2024
Economia
Mais 4 países revisam restrições à exportação de carne de frango
9 destinos mantém suspensão total à proteína brasileira após quase um mês do autodeclaração de país livre da gripe aviária